Beatíssimo Padre!
O Código de Direito Canónico atribui duas finalidades ao Colégio Cardinalício: a primeira é prover à eleição do Romano Pontífice e a segunda, prestar a sua obra ao Papa no cuidado da Igreja Universal (cf. cân. 394).
Na passada terça-feira, 19 do corrente mês de Abril do ano do Senhor de 2005, nós, Cardeais da Santa Romana Igreja, cumprimos rapidamente o nosso primeiro dever e agora estamos aqui para lhe dizer, Santo Padre, que nos comprometemos a cumprir também o nosso segundo mandato, o de colaborar no seu ministério pastoral.
Muitos de nós já tivemos a ocasião de lhe manifestar individualmente estes sentimentos logo depois da sua eleição. Mas era nosso comum desejo expressar-lhe em coro, como Colégio Cardinalício, estes propósitos de proximidade cordial.
Trazemos-lhe a adesão mais profunda de todo o Colégio, também dos que já tiveram que deixar Roma para regressar às suas Sedes, assim como dos Irmãos que, por vários motivos de saúde, não puderam participar neste encontro.
No dia 2 de Abril, chorámos a perda do inesquecível Papa João Paulo II e agora rejubilamos pelo dom do novo Pastor que a Providência Divina nos quis dar.
Nestes dias, fomos também testemunhas da assistência que, no decurso da história, o Senhor concede sempre à Sua Santa Igreja. Esta é uma árvore que recebe todos os dias nova vida e cresce frondosa. Desde quando Cristo a plantou, pequeno grão de mostarda, até hoje, os seus ramos frondosos expandiram-se até aos confins da terra.
O grande teólogo Romano Guardini amava muito esta imagem da árvore que cresce. A este propósito, ele citava com frequência as árvores de faia, die Buchen, acrescentando: "Elas têm algo de beneditino: algo de vigoroso e humilde ao mesmo tempo... Tudo está saturado de forma, do tronco ao raminho mais subtil" (cf. Revista do Clero italiano, Março de 2005, pág. 198). Que também a Igreja de hoje seja assim!
Santo Padre!
Nós, Cardeais, sentimo-nos felizes porque, hoje, quem dá vigor à árvore da Igreja é o Papa Bento XVI.
Manifestamos-lhe toda a nossa devoção, a nossa total colaboração e o nosso fraterno afecto em Jesus Cristo.
No seu livro "O sal da terra" (Salz der Erde), Vossa Santidade afirmava que, no Cristianismo, há sempre a possibilidade de novas e vigorosas formas de vida cristã e por conseguinte dizia ao entrevistador: "Pense em São Bento que, no final da antiguidade, cria uma forma de vida, graças à qual o Cristianismo depois consegue alcançar e transformar os novos povos" (cf. O Sal da terra, Ed. São Paulo, 1977, pág. 304).
Que o Senhor lhe conceda, Santo Padre, imitar a obra de São Bento para o bem da Igreja e do mundo!