MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
AO CARDEAL REINHARD MARX,
ARCEBISPO DE MÜNCHEN UND FREISING
POR OCASIÃO DO ENCONTRO INTERNACIONAL
DE ORAÇÃO PELA PAZ REALIZADO
EM MÜNCHEN DE 11 A 13 DE SETEMBRO
Ao meu venerável irmão
Reinhard Cardeal Marx
Arcebispo de München und Freising
Daqui a poucas semanas celebrar-se-á o 25º aniversário do convite feito pelo beato João Paulo II aos representantes das diversas religiões do mundo para se reunirem em Assis para um encontro internacional de oração pela paz. A partir daquele memorável acontecimento, ano após ano, a Comunidade de Santo Egídio organiza um encontro pela paz, para aprofundar o espírito de paz e de reconciliação e para que Deus, na oração, nos transforme em homens de paz. Sinto-me feliz porque o encontro deste ano se realiza em München, cidade da qual fui Bispo, na vigília da minha viagem à Alemanha e em preparação para a cerimónia de comemoração do vigésimo quinto aniversário de oração mundial pela paz de Assis, que terá lugar no próximo mês de Outubro. Garanto de bom grado aos organizadores e aos participantes no encontro de München a minha proximidade espiritual e dirijo-lhes de coração todos os meus votos para que seja abençoado.
O título do encontro para a paz «Bound to live together» — «Destinados a viver juntos» recorda-nos que nós, seres humanos, estamos ligados uns aos outros. Este viver juntos, no fundo, é uma simples predisposição, que deriva directamente da nossa condição humana. Portanto, é tarefa nossa dar-lhe um conteúdo positivo. O viver juntos pode transformar-se num viver uns contra os outros, pode tornar-se um inferno, se não aprendermos a aceitar-nos uns aos outros, se cada um nada mais quiser ser do que ele mesmo. Mas abrir-se aos outros, oferecer-se aos outros pode ser também um dom. Assim, tudo depende do entender a predisposição para viver juntos como compromisso e dom, desde o encontrar o caminho verdadeiro do conviver. Este viver juntos, que outrora podia ser confinado a uma região, hoje só pode ser vivido a nível universal. O sujeito do conviver hoje é toda a humanidade. Encontros como o que teve lugar em Assis e o que se realiza hoje em München são ocasiões nas quais as religiões podem questionar-se a si mesmas e perguntar-se como podem tornar-se forças do conviver. Quando nos reunimos entre cristãos, recordamos que para a fé bíblica Deus é o criador de todos os homens, sim, Deus deseja que formemos uma única família, na qual todos sejamos irmãos e irmãs. Recordemos que Cristo anunciou a paz aos distantes e aos próximos (cf. Ef 2, 16 ss). Devemos aprender isto continuamente. O sentido fundamental destes encontros é que nós devemos dirigir-nos aos próximos e aos distantes no mesmo espírito de paz que Cristo nos mostrou. Devemos aprender a viver não uns ao lado dos outros, mas uns com os outros, ou seja, devemos aprender a abrir o coração ao próximo, a permitir que os nossos semelhantes partilhem as nossas alegrias, esperanças e preocupações. O coração é o lugar no qual o Senhor se torna nosso próximo. Por isso, a religião, que está centrada no encontro do homem com o mistério divino, está ligada de modo essencial à questão da paz. Se a religião falha o encontro com Deus, se abaixa Deus ao nosso nível em vez de nos elevar para Deus, se O torna, num certo sentido, uma nossa propriedade, então deste modo pode contribuir para a dissolução da paz. Ao contrário, se ela conduz ao divino, ao criador e redentor de todos os homens, então torna-se uma força de paz. Sabemos que também no cristianismo se verificaram deturpações práticas da imagem de Deus, que levaram à destruição da paz. Com mais razão todos somos chamados a deixar que o Deus divino nos purifique, para nos tornarmos homens de paz.
Nunca devemos faltar aos nossos comuns esforços pela paz. Por isso as numerosas iniciativas em todo o mundo, como o encontro anual de oração pela paz da Comunidade de Santo Egídio, e outras semelhantes, têm um valor tão grande! O âmbito no qual o fruto da paz deve prosperar precisa de ser sempre cultivado. Muitas vezes não podemos fazer mais do que preparar incessantemente e com tantos pequenos passos o terreno para a paz em nós e à nossa volta, pensando também nos grandes desafios com os quais se confronta não o indivíduo, mas a humanidade inteira, como as migrações, a globalização, as crises económicas e a tutela da criação. Por fim, sabemos que a paz simplesmente não pode ser «feita», mas que é sempre também «concedida». «A paz é um dom de Deus e ao mesmo tempo um projecto a ser realizado, nunca totalmente completado» (Mensagem para o Dia mundial da paz de 2011, 15). Precisamente por isso é necessário o testemunho comum de todos os que procuram Deus com coração puro, para realizar cada vez mais a ideia de uma convivência pacífica entre todos os homens. Desde o primeiro encontro de Assis, há 25 anos, tiveram lugar e ainda se realizam muitas iniciativas pela reconciliação e paz, que enchem de esperança. Mas, infelizmente, também se verificaram muitas ocasiões perdidas, diversos atrasos. Terríveis actos de violência e terrorismo sufocaram repetidamente a esperança da convivência pacífica da família humana no alvorecer do terceiro milénio, velhos conflitos são alimentados sob as cinzas ou rebentam de novo e a eles acrescentam-se novos confrontos e problemas. Tudo isto nos mostra claramente que a paz é um mandato permanente confiado a nós e contemporaneamente um dom que devemos invocar. Neste sentido, que o encontro pela paz de München e os colóquios que aí terão lugar possam contribuir para promover a compreensão e a convivência recíprocas, preparando assim um caminho sempre novo para a paz no nosso tempo! Para isto invoco sobre todos os participantes no encontro pela paz deste ano em München a bênção de Deus Omnipotente.
Castel Gandolfo, 1 de Setembro de 2011.
BENEDICTUS PP XVI
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