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MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
 PARA O XXX DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO 2011

 

Ao Senhor Jacques Diouf
Director-Geral da FAO

1. A celebração anual do Dia Mundial da Alimentação, enquanto tenciona recordar a fundação da FAO e o seu compromisso em prol do desenvolvimento agrícola para combater a fome e a subalimentação, é também uma ocasião para sublinhar a situação de numerosos nossos irmãos e irmãs carentes do pão quotidiano.

Nos nossos olhos permanecem gravadas as imagens dolorosas das numerosas vítimas da fome no Corno da África, e todos os dias acrescenta-se um novo capítulo àquela que é uma das catástrofes humanitárias mais graves dos últimos decénios. Certamente, perante a morte por causa da fome de comunidades inteiras e o seu abandono forçado dos territórios de origem, é essencial uma ajuda imediata, porém é preciso intervir também a médio e longo prazos para que a actividade internacional não se limite a responder só às emergências.

A situação tornou-se cada vez mais complexa devido à difícil crise que, a nível mundial, abala os diversos sectores da economia e atinge duramente sobretudo os mais necessitados, condicionando além disso a produção agrícola e a consequente possibilidade de acesso aos alimentos. Contudo, o esforço dos Governos e dos vários componentes da Comunidade internacional deveria estar orientado para escolhas eficazes, conscientes de que a libertação do jugo da fome é a primeira manifestação concreta do direito à vida que, embora seja proclamado solenemente, permanece muitas vezes longe de uma aplicação efectiva.

2. O tema escolhido para este Dia: «Preços dos alimentos: da crise à estabilidade», convida justamente a reflectir sobre a importância dos diversos factores que podem proporcionar às pessoas e comunidades os recursos essenciais, a partir do trabalho agrícola, que não deve ser considerado uma actividade secundária, mas objectivo de cada estratégia de crescimento e desenvolvimento integral. Todavia, isto é ainda mais importante dado que a disponibilidade de alimentos está cada vez mais condicionada pela volatilidade dos preços e das mudanças climáticas repentinas, enquanto se releva um abandono frequente das áreas rurais com uma diminuição global da produção agrícola e, portanto, das reservas dos géneros alimentícios. Infelizmente, perante esta realidade, parece prevalecer em vários lugares a ideia de que os alimentos são uma mercadoria qualquer e, por conseguinte, submetidos também às manobras especulativas.

Não é possível ignorar que, não obstante os progressos alcançados até agora e as esperanças fundamentadas a favor de uma economia capaz de respeitar cada vez mais a dignidade de todas as pessoas, o futuro da família humana precisa de um incentivo novo para superar as fragilidades e incertezas actuais. Apesar de vivermos numa dimensão global, existem sinais evidentes da profunda divisão entre os que não têm o sustento quotidiano e os que dispõe de recursos consideráveis, utilizando-os muitas vezes não para a alimentação, mas pelo contrário até destruindo-os, confirmando portanto que a sociedade cada vez mais globalizada nos torna próximos, mas não irmãos (cf. Caritas in veritate, 19). Por isso, é necessário redescobrir os valores inscritos no coração de cada pessoa e que desde sempre inspiraram as suas acções: o sentimento de compaixão e de humanidade para com os outros, juntamente com o dever de solidariedade e a realização da justiça, deve voltar a ser a base de cada actividade, inclusive das realizadas pela Comunidade internacional.

3. Perante a dimensão do drama da fome, não é suficiente convidar à reflexão, analisar os problemas e nem sequer a disponibilidade a intervir. Muitas vezes, estes elementos permanecem sem uma resposta, porque se reduzem à esfera das emoções, sem ser capazes de despertar a consciência e a sua busca da verdade e do bem. São frequentes as tentativas de justificar os comportamentos e as omissões ditados pelo egoísmo e por objectivos e interesses pessoais. Ao contrário, a finalidade deste Dia deveria ser o compromisso para modificar os comportamentos e decisões a fim de garantir, melhor hoje do que amanhã, que todas as pessoas tenham acesso aos recursos alimentares necessários, e que o sector agrícola possa dispor de um nível suficiente de investimentos e recursos capazes de dar estabilidade à produção e, por conseguinte, ao mercado. É fácil reduzir qualquer consideração à exigência de alimentos por parte de uma população em crescimento, sabendo bem que as causas da fome têm outras raízes e que são numerosas as vítimas entre os tantos Lázaros aos quais não é permitido sentar-se à mesa do rico Epulão (cf. Paulo VI, Populorum progressio, 47)

Portanto, trata-se de assumir uma atitude interior responsável, capaz de inspirar um estilo de vida diferente, uma sobriedade necessária no comportamento e nos consumos, a fim de favorecer deste modo o bem da sociedade, assim como das gerações futuras em termos de sustentabilidade, de tutela dos bens da criação, de distribuição dos recursos e, sobretudo, de compromisso concreto para o desenvolvimento de todos os povos e de todas as nações. Por sua vez, os beneficiários da cooperação internacional são chamados a utilizar de forma responsável todas as contribuições solidárias «em infra-estruturas rurais, sistemas de irrigação, transportes, organização dos mercados, formação e difusão de técnicas agrícolas apropriadas, isto é, capazes de utilizar o melhor possível os recursos humanos, naturais e socioeconómicos mais acessíveis a nível local» (Caritas in veritate, 27).

4. Tudo isto poderá realizar-se se as Instituições internacionais também garantirem o seu serviço com imparcialidade e eficácia, mas respeitando plenamente as convicções mais profundas da alma humana e as aspirações de cada pessoa. Nesta perspectiva, a FAO poderá contribuir a fim de garantir uma alimentação adequada a todos, reforçar os métodos de cultivo e comercialização, e proteger os direitos fundamentais dos que trabalham na terra, sem nunca esquecer os valores mais autênticos, dos quais o mundo rural e quantos nele vivem são defensores.

A Igreja católica está próxima das Instituições que trabalham para garantir a alimentação. Através das suas estruturas e agências de desenvolvimento, continuará a acompanhá-las concretamente neste esforço, a fim de que cada povo e comunidade disponha da segurança alimentar necessária, que negociação ou acordo algum, por mais influente que seja, poderá garantir sem uma solidariedade real e uma fraternidade autêntica. «A relevância deste objectivo é tal que exige a nossa disponibilidade para o compreendermos profundamente e mobilizarmo-nos concretamente, com o “coração”, a fim de fazer avançar os actuais processos económicos e sociais para metas plenamente humanas» (Caritas in veritate, 20).

Com estes sentimentos, desejo-lhe, Senhor Director-Geral, que possa continuar a desempenhar o compromisso em prol dos mais indigentes, que caracterizou estes anos de responsabilidade e dedicação, e ao mesmo tempo invoco sobre a FAO, sobre cada um dos Estados membros e todos os funcionários, abundantes Bênçãos do Todo-Poderoso.

Vaticano, 17 de Outubro de 2011.

BENEDICTUS PP. XVI

 

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