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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

No caminho de Jesus

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 39 de 29 de Setembro de 2013

 

A escolha é entre «ser cristãos do bem-estar» ou «cristãos que seguem Jesus». Os cristãos do bem-estar são os que pensam que têm tudo se tiverem a Igreja, os sacramentos, os santos... Os outros são cristãos que seguem Jesus até ao fim, até à humilhação da cruz, e suportam serenamente tal humilhação. Em síntese, foi esta a reflexão proposta pelo Papa Francisco na manhã de sexta-feira, 27 de Setembro, na homilia da missa celebrada na capela de Santa Marta.

O Santo Padre deteve-se na descrição de diversas atitudes que um cristão pode assumir. O perigo que corremos, advertiu, é ceder «à tentação do bem-estar espiritual», isto é, de pensar que temos tudo: a Igreja, Jesus Cristo, os sacramentos, Nossa Senhora e, portanto, já nada devemos procurar. Se pensarmos assim «somos bons, todos, porque pelo menos devemos pensar nisto; se pensarmos o contrário é pecado». Mas isto «não basta. O bem-estar espiritual — explicou o Papa — existe até a um certo ponto». O que falta para ser cristão verdadeiramente é «a unção da cruz, a unção da humilhação. Ele humilhou-se a si mesmo até à morte e morte de cruz. Este é o termo de comparação, a verificação da nossa realidade cristã. Sou um cristão de cultura do bem-estar ou sou um cristão que acompanha o Senhor até à cruz? O cristão que não concordar com o programa do Senhor é um cristão na metade do caminho; um tíbio. É bom, realiza coisas boas» mas continua a não suportar as humilhações e a perguntar-se «por que àquele sim e a mim não? A humilhação a mim não. E por que acontece isto e a mim não? E por que nomeiam aquele monsenhor e a mim não?».

Mas nem todos, disse o Papa, estão dispostos a seguir o caminho de Jesus: pensam que é um escândalo se lhes fazem algo que julgam uma afronta e se lamentam por isso. Portanto, o sinal para entender «se um cristão é verdadeiramente cristão» é «a sua capacidade de suportar com alegria e paciência as humilhações».

Para conhecer verdadeiramente Jesus é preciso falar com ele, dialogar com ele enquanto o seguimos no seu caminho. O Papa Francisco centrou a sua homilia da missa celebrada na manhã de quinta-feira, 26 de Setembro, exactamente no conhecimento de Jesus.

O Pontífice inspirou-se no trecho do Evangelho de Lucas (9, 7-9) no qual Herodes se questiona sobre quem é aquele Jesus de quem tanto ouve falar. A pessoa de Jesus, recordou o Pontífice, suscitou muitas vezes perguntas deste tipo: «Quem é? De onde vem? Pensemos em Nazaré, por exemplo, na sinagoga de Nazaré, quando esteve lá pela primeira vez: mas onde aprendeu tudo isto? Nós conhecemo-lo bem: é o filho do carpinteiro. Pensemos em Pedro e nos apóstolos depois da tempestade, naquele vento que Jesus parou. Mas quem é aquele ao qual obedecem o céu e a terra, o vento, a chuva, a tempestade? Mas quem é?».

Perguntas, explicou o Papa, que se podem formular por curiosidade ou para ter certezas sobre o modo de se comportar diante dele. Contudo, permanece o facto que quem conhece Jesus se faz estas perguntas. Aliás, «alguns — prosseguiu o Papa voltando ao episódio evangélico — começam a ter medo deste homem, porque os pode levar a um conflito político com os romanos»; e, portanto, decidem não considerar mais «este homem que causa tantos problemas».

E por que, perguntou-se o Pontífice, Jesus provoca problemas? «Não se pode conhecer Jesus — foi a sua resposta — sem ter problemas». Paradoxalmente, acrescentou, «se quiseres ter um problema, vai pelo caminho que te leva a conhecer Jesus» e então surgirão muitos problemas. Em todo o caso, não se pode conhecer Jesus «na primeira classe» ou «na tranquilidade», nem «na biblioteca». Só conhecemos Jesus no caminho diário da vida. Para conhecer verdadeiramente Jesus é preciso ler «o que a Igreja diz sobre ele, falar com ele na oração e caminhar na sua estrada com ele». Este é o caminho e «cada um — concluiu — deve fazer a própria escolha».

A vergonha diante de Deus, a oração para implorar a misericórdia divina e a plena confiança no Senhor: foram estes os pontos centrais da reflexão do Papa Francisco na manhã de 25 de Setembro. Ao comentar as leituras da liturgia (Es 9,5-9; Lc 9, 1-6), o Santo Padre disse que o trecho tirado do livro de Esdras o levou a pensar nos bispos maronitas e, como de costume, resumiu o seu pensamento em volta de três conceitos. A atitude de vergonha e confusão diante de Deus, a ponto de não conseguir dirigir o olhar para Ele; vergonha e confusão de todos nós pelos pecados que nos levaram à escravidão, porque servimos ídolos que não são Deus.

A oração é o segundo conceito. Seguindo o exemplo de Esdras, que de joelhos levanta as mãos para Deus implorando a misericórdia, assim devemos agir também nós por causa dos nossos numerosos pecados. Uma prece que, disse o Papa, é preciso elevar também pela paz no Líbano, na Síria e em todo o Médio Oriente. A oração é sempre o caminho que devemos percorrer para enfrentar os momentos difíceis, como as provas mais dramáticas e as trevas que às vezes nos fazem viver situações imprevisíveis. O sacramento não é «um rito mágico», mas o instrumento que Deus escolheu para continuar a caminhar ao lado do homem como companheiro de viagem na vida, para fazer a história com o homem, esperando por ele, se for necessário. E diante desta humildade de Deus devemos ter a coragem de o deixar escrever a história, que deste modo se torna «segura».

A certeza da presença divina contínua na vida do homem foi o cerne da homilia do Papa na manhã de 24 de Setembro, na missa celebrada em Santa Marta. «A Igreja — disse o Papa — celebra esta certeza com muita alegria inclusive na Eucaristia». E recordou «a bonita oração eucarística, que hoje recitaremos, entoando o grande amor de Deus que quis ser humilde, quis ser companheiro de caminho de todos nós e quis também escrever a história connosco». E se Ele, concluiu, «entrou na nossa história, entremos também nós um pouco na sua, ou pelo menos peçamos-lhe a graça de escrever a história com Ele. Que Ele escreva a nossa história. É segura!».

 

 



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