Index   Back Top Print

[ PT ]

PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Aquela paz barulhenta

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 49 de 05 de dezembro de 2013

Não podemos pensar numa Igreja sem alegria porque Jesus, o seu esposo, estava cheio de alegria. Portanto, todos os cristãos devem viver com a mesma alegria no coração e anunciá-la até aos extremos confins do mundo. Em síntese, foi este o sentido da reflexão proposta pelo papa Francisco na manhã de terça-feira, 3 de Dezembro, na homilia da missa celebrada na capela de Santa Marta, na memória do grande evangelizador Francisco Xavier.

«A palavra de Deus — iniciou o Pontífice — hoje fala-nos de paz e de alegria. Isaías na sua profecia (11, 1-10) diz-nos como serão os dias do Messias. Serão dias de paz». O evangelho de Lucas (10, 21-24) proclamado durante a liturgia ajuda a entender algo mais sobre Jesus. «Podemos entrever — especificou o Pontífice — um pouco a alma de Jesus, o coração de Jesus. Um coração alegre». De facto, estamos habituados a pensar em Jesus enquanto prega, cura, caminha pelas estradas para falar com as pessoas, ou quando está na cruz. Mas «não estamos muito habituados — disse o bispo de Roma — a pensar em Jesus sorridente e alegre. Jesus estava cheio de alegria». Aquela alegria, acrescentou o santo Padre, que «ele nos oferece. E esta alegria é a paz verdadeira. Não é uma paz estática, calma, tranquila: a paz cristã é jubilosa» porque Jesus é jubiloso, Deus é alegria.

«Na oração no início da missa — prosseguiu — pedimos a graça do fervor missionário para que a Igreja se alegre com novos filhos». Não podemos pensar numa «Igreja sem alegria», porque «Jesus quis que a sua esposa, a Igreja, fosse alegre». E «a alegria da Igreja consiste precisamente em anunciar o nome de Jesus» para poder dizer: «O meu esposo é o Senhor, é Deus» que «nos salva» e «nos acompanha».

Nesta alegria de esposa, a Igreja «torna-se mãe. Paulo VI — afirmou o Papa Francisco, recordando o ensinamento do seu predecessor — dizia: a alegria da Igreja consiste precisamente em evangelizar» e transmitir esta alegria «aos seus filhos».

Portanto, paz e alegria. «Sempre a alegria, porque — explicou o Santo Padre — deriva de uma declaração dogmática de Jesus que diz: decidiste assim, não te revelares aos sábios mas aos pequeninos. Inclusive nas coisas sérias, como esta, Jesus é alegre». Desta forma, também a Igreja deve ser alegre. Sempre, também «no período da sua viuvez», acrescentou, ela «é alegre na esperança». «Rezemos — concluiu — para que o Senhor dê a todos nós esta alegria».

Na missa celebrada na manhã de segunda-feira 2 de Dezembro, o Pontífice convidou a deixar que Jesus nos encontre «com pouca vigilância, abertos», a fim de que ele posso renovar-nos a partir do fundo da nossa alma.

Começamos nestes dias, frisou, «um novo caminho de Igreja, um caminho do povo de Deus rumo ao Natal. E caminhamos para o encontro do Senhor». De facto, o Natal é um encontro: não só «um evento temporal — especificou o Pontífice — ou uma recordação de algo bom. O Natal é algo mais. Nós vamos por esta estrada para encontrar o Senhor». Portanto, no período do Advento «caminhamos para o encontrar. Encontrá-lo com o coração, com a vida; encontrá-lo vivo, como ele é; encontrá-lo com fé».

Na verdade, não é «fácil viver com a fé», frisou o bispo de Roma. E recordou o episódio do centurião que, segundo a narração do evangelho de Mateus (8, 5-11), se prostrou diante de Jesus para lhe pedir que curasse o seu servo. «O Senhor, na palavra que ouvimos — explicou o Papa — admirou-se com este centurião. Ficou surpreendido com a sua fé. Percorreu um caminho para se encontrar com o Senhor. Mas tinha-o feito com fé. Por isso não só se encontrou com o Senhor, mas sentiu a alegria de ter sido encontrado pelo Senhor. Este é precisamente o encontro que desejamos, o encontro da fé. Encontrarmo-nos com o Senhor, mas deixar também que ele nos encontre. É muito importante!». Portanto «comecemos este caminho com a oração, a caridade e o louvor, de coração aberto, para que o Senhor se encontre connosco». Mas, na conclusão o Papa pediu, «por favor, que nos encontre disponíveis, abertos!».

Na missa de sexta-feira 29 de Novembro o Papa exortou a «pensar de modo cristão» porque «um cristão não pensa só com a cabeça mas também com o coração e com o espírito que tem no íntimo». Praticamente — frisou o Pontífice — «o espírito do mundo não quer que nós nos questionemos diante de Deus: mas por que acontece isto?». E para nos distrair das perguntas essenciais, «propõe-nos um pensamento pret-á-porter, segundo os nossos gostos: eu penso como me agrada». Esta maneira de pensar «está bem» para o espírito do mundo; o que ele «não quer é o que nos pede Jesus: o pensamento livre, o pensamento de um homem e de uma mulher que são parte do povo de Deus». De resto, «a salvação foi esta: tornar-nos povo, povo de Deus. Ter liberdade». Porque «Jesus nos pede para pensar livremente, para pensar a fim de entender o que acontece».

Certamente, advertiu o Papa Francisco, «sozinhos não podemos» fazer tudo: «temos necessidade da ajuda do Senhor, precisamos do Espírito Santo para compreender os sinais dos tempos». De facto, é precisamente o Espírito que nos doa «a inteligência para compreender». Trata-se de uma prenda pessoal oferecida a cada homem, graças à qual «entendemos porque nos acontece certas coisas» e «qual é a estrada que o Senhor quer» para a nossa vida. Eis a exortação conclusiva a «pedir ao Senhor Jesus a graça que nos envie o seu espírito de inteligência», a fim de que «não tenhamos um pensamento débil, uniforme, um pensamento segundo os nossos gostos», para termos ao contrário «um pensamento segundo Deus». E «com este pensamento — de mente, de coração e de alma — que é dom do Espírito», procurar entender «o que significam as coisas, entender bem os sinais dos tempos».

E no centro da reflexão da missa celebrada na quinta-feira 28 de Novembro, esteve a admoestação contra a proibição de adorar a Deus como sinal de uma «apostasia geral», a grande tentação que procura convencer os cristãos a empreender «um caminho mais racional e tranquilo», obedecendo «às ordens dos poderes mundanos» que pretendem reduzir «a religião a um facto particular». Não querem sobretudo que Deus seja adorado «com confiança e fidelidade».

A palavra de Deus recorda-nos, prosseguiu o Papa, como «os cristãos que sofrem tempos de perseguições, de proibição de adoração, são uma profecia daquilo que acontecerá a todos». Mas precisamente em momentos como este, isto é quando os tempos dos pagãos se realizarem, «erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima». Com efeito, explicou o bispo de Roma «o triunfo, a vitória de Jesus Cristo é levar a criação ao Pai no final dos tempos».

Mas não devemos temer. O Papa repetiu a promessa de Deus que «nos pede fidelidade e paciência. Fidelidade como Daniel, que foi fiel ao seu Deus e adorou a Deus até ao fim. E paciência, porque os cabelos da nossa cabeça não cairão, assim prometeu o Senhor». E concluiu exortando a reflectir, sobretudo esta semana, sobre «esta apostasia geral que se chama proibição de adoração». E a perguntarmo-nos: «Eu adoro o Senhor? Adoro Jesus Cristo o Senhor? Ou faço o jogo do príncipe deste mundo e adoro a meias? Adorar até ao fim com confiança e fidelidade é a graça que devemos pedir».

 



Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana