PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
O estilo das Bem-Aventuranças
Segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 06 de 5 de fevereiro de 2019
Podemos acreditar que somos bons católicos, mas sem nos comportarmos como bons cristãos: foi contra o estilo «acusatório, mundano e egoísta» que o Papa alertou na missa celebrada em Santa Marta, indicando ao contrário o estilo das Bem-Aventuranças para poder realmente «recitar com o coração o Credo e o Pai-Nosso».
«Este trecho do Evangelho começa com um conflito», frisou o Pontífice, referindo-se ao Evangelho de Marcos (2, 18-22). «Os discípulos de João e os fariseus — realçou — jejuavam, e os apóstolos não». E «os primeiros escandalizam-se um pouco: por que não jejuam?». A esta pergunta Jesus responde «de modo um pouco confuso, com algo novo: há o esposo, a festa, uma nova alegria, neste momento devemos alegrar-nos com esta novidade, pois virão dias em que todos teremos que jejuar, quando nos tirarem o esposo». Mas eles «não entenderam».
Na realidade, explicou o Papa, «também nós não entendemos o que o Senhor quer dizer com isto». A ponto que, disse dirigindo-se aos presentes, «se agora eu fizesse esta pergunta, muitos de vós teríeis dificuldade em responder». Francisco sugeriu que «a palavra-chave está no fim do trecho: “Vinho novo em odres novos!”». Em síntese, segundo Jesus «não só a pregação do Evangelho é um vinho novo, não só isto, mas também exige de nós um novo comportamento, um novo estilo».
A tal propósito, é oportuno fazer a seguinte «pergunta: no que consiste o novo estilo, o estilo cristão?». De resto, afirmou o Pontífice, «no início dos tempos dos apóstolos houve um debate: alguns queriam que os convertidos passassem primeiro pelos ritos hebreus, judeus e depois se tornassem cristãos». Mas, ao contrário, «não: “vinho novo, odres novos” é o estilo cristão».
«Para entender no que consiste o estilo cristão», prosseguiu, é «melhor refletir sobre as nossas atitudes que não são de um estilo cristão, e depois podemos ver». Além disso, observou o Papa, são atitudes «não só nossas», pois «no tempo de Jesus já havia estas atitudes». E, acrescentou, «só citarei três: o estilo acusatório, o estilo mundano e o estilo egoísta».
«O estilo acusatório — afirmou o Pontífice — é o estilo dos crentes que procuram sempre acusar o próximo, vivem acusando: “Não, mas isto, isso, não, aquele não está certo, ele era um bom católico” e sempre desqualificam os outros».
É «um estilo — diria — de promotores de justiça falhados: procuram sempre acusar o próximo», comentou o Papa. Mas agindo assim «não se dão conta de que é o estilo do diabo: na Bíblia o diabo é chamado o “grande acusador”, acusa sempre os outros. E esta é uma moda entre nós». Na realidade, «também Jesus repreende aqueles que acusavam: em vez de ver o cisco no olho do próximo, vê a trave nos teus, olha dentro de ti. Também tu és ou sabes». O mesmo acontece quando ao Senhor «trouxeram aquela mulher apanhada em adultério e querem apedrejá-la: é justo, podemos fazê-lo?». E Jesus responde: «Quem não cometeu pecado algum lance a primeira pedra. O Evangelho diz que todos, a começar pelos mais velhos, foram embora em silêncio».
«Nós — acrescentou Francisco — temos mais: Jesus repreende estes acusadores», mas «há muitos católicos que dizem: “Sou católico” — “Porquê?” — “Recito o Credo, creio em tudo, sou católico”. Mas não tens o estilo cristão, talvez te julgues um bom católico, mas és um mau cristão, porque só tens o vinho e não os odres, não o estilo». Sem dúvida, «viver acusando o próximo, procurando os defeitos, não é cristão».
Há ainda, afirmou o Pontífice, «o estilo mundano: também Jesus fala disto e repreende muito o espírito do mundo, o estilo do mundo, e na última Ceia inclusive reza ao Pai pelos seus discípulos: não os tires do mundo, mas defende-os do espírito do mundo».
A tal propósito, Francisco recordou que «existem católicos mundanos; sim, podem recitar o Credo, mas o seu estilo é do mundo, não cristão: vaidade, soberba, apegados ao dinheiro, julgando-se autossuficientes». Talvez, insistiu, «te julgues um bom católico porque podes recitar o Credo, mas não és um bom cristão, és mundano: o Senhor ofereceu-te o vinho novo, mas tu não mudaste os odres, não os mudaste».
«A mundanidade arruína muitas pessoas», reiterou o Papa. Até «pessoas boas entram neste espírito da vaidade, da soberba, do aparecer: não há humildade, mas a humildade faz parte do estilo cristão». Por isso «devemos aprendê-la de Jesus, de Nossa Senhora, de São José: eram humildes».
«Finalmente, há um terceiro estilo não cristão que se vê também nas nossas comunidades: o estilo egoísta», concluiu Francisco. E «é João que o indica: se alguém disser que ama a Deus, a quem não vê, e não amar o seu próximo, o seu irmão, a quem vê, é um mentiroso». E «o que diz é claro: é o espírito egoísta, olho para mim, julgo-me um bom católico, ajo sem me preocupar com os problemas dos outros; não me preocupo com as guerras, com as doenças, com as pessoas que sofrem, nem com o meu próximo. Não, sou indiferente, ou seja, tenho o espírito da indiferença, e este estilo não é cristão».
«Talvez te consideres um bom católico, mas és um mau cristão», afirmou. Porque «podemos julgar-nos bons católicos sem sermos cristãos: sim, Jesus dizia isto aos doutores da lei». E «a hipocrisia ajuda-nos, ajuda muitas pessoas, às vezes também nos ajuda a ser bons católicos, mas maus cristãos: hipócritas, “vinho novo, odres novos”».
«Mas alguns acham — também nós, muitas vezes — que são bons católicos, porque podem recitar o Credo», insistiu o Papa. Mas «qual é o estilo cristão? O estilo cristão consiste nas Bem-Aventuranças: mansidão, humildade, paciência nos sofrimentos, amor pela justiça, capacidade de suportar as perseguições, não julgar o próximo». Eis «o espírito cristão, o estilo cristão: se quiseres saber como é o estilo cristão — para não cair neste estilo acusatório, no estilo mundano, no estilo egoísta — lê as Bem-Aventuranças». Este «é o nosso estilo, as Bem-Aventuranças são os odres novos, o caminho a percorrer: para ser um bom cristão é preciso ter a capacidade de recitar o Credo com o coração, mas também de rezar o Pai-Nosso com o coração».
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