CELEBRAÇÃO MATUTINA TRANSMITIDA AO VIVO
DA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
“Aprender a viver os momentos de crise”
Sábado, 2 de maio de 2020
Introdução
Rezemos hoje pelos governantes que têm a responsabilidade de cuidar dos seus povos nestes tempos de crise: chefes de Estado, presidentes de governo, legisladores, presidentes de câmaras municipais, presidentes de região... Para que o Senhor os ajude e lhes dê força, pois o seu trabalho não é fácil. E que, quando existirem diferenças entre eles, compreendam que nos momentos de crise devem estar muito unidos para o bem do povo, pois a unidade é superior ao conflito.
Hoje, sábado 2 de maio, 300 grupos de oração unem-se a nós em prece. Trata-se dos chamados “madrugadores”: aqueles que se levantam cedo para rezar, que se levantam de madrugada precisamente para a oração. Hoje, neste momento, eles unem-se a nós.
Homilia
A primeira Leitura começa assim: «Naqueles dias a Igreja estava em paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria. Fortalecia-se caminhando no temor do Senhor e, com a consolação do Espírito Santo, crescia em número» (At 9, 31). Tempo de paz. E a Igreja cresce. A Igreja está tranquila, tem o conforto do Espírito Santo, está em consolação. Bons tempos... Segue-se a cura de Eneias, depois Pedro ressuscita Gazela, Tabita... coisas que se fazem em paz.
Mas na Igreja primitiva nem sempre é tempo de paz: há tempos de perseguição, tempos difíceis, tempos que colocam os crentes em crise. Tempos de crise. E um tempo de crise é o que nos narra hoje o Evangelho de João (cf. 6, 60-69). Esta passagem do Evangelho é o fim de toda uma série, que começou com a multiplicação dos pães, quando queriam fazer Jesus rei, Jesus retira-se para rezar, no dia seguinte não o encontram, vão à sua procura, e Jesus repreende-os porque o procuram para que lhes dê de comer, e não pelas palavras de vida eterna... E toda aquela história termina aqui. Dizem: “Dai-nos deste pão”, e Jesus explica que o pão que dará é o seu corpo e o seu sangue.
«Naquele tempo, muitos dos discípulos de Jesus, ouvindo-o, disseram: “Isto é muito difícil! Quem o pode seguir?”» (v. 60). Jesus disse que quem não tivesse comido o seu corpo e sangue, não teria a vida eterna. Jesus disse também: «Se comerdes o meu corpo e beberdes o meu sangue, ressuscitareis no último dia» (cf. v. 54), disse Jesus. «Isto é muito difícil!» (v. 60) [os discípulos pensam]. “É demasiado difícil. Algo aqui não funciona. Este homem foi longe demais”. E este é um momento de crise. Houve momentos de paz e momentos de crise. Jesus sabia que os discípulos murmuravam. Aqui há uma distinção entre os discípulos e os apóstolos: os discípulos eram aqueles setenta e dois ou mais, os apóstolos eram os Doze. «Porque desde o princípio Jesus sabia quais eram os que não acreditavam e quem o havia de trair» (v. 64). E perante esta crise, recorda-lhes: «Foi por isso que vos disse: “Ninguém pode vir a mim, se o meu Pai não lho conceder”» (v. 65). E recomeça a falar do que significa ser atraído pelo Pai: o Pai atrai-nos a Jesus. É assim que se resolve a crise.
E «a partir daquele momento, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com Ele» (v. 66). Distanciaram-se. “Este homem é um pouco perigoso, um pouco... Mas estas doutrinas... Sim, ele é um homem bom, prega e cura, mas quando começa com estas coisas estranhas... Por favor, vamos embora” (cf. v. 66). Assim fizeram os discípulos de Emaús, na manhã da Ressurreição: “Bem, sim, uma coisa estranha: as mulheres que dizem que o túmulo... Mas isto cheira mal, diziam, vamos embora depressa, porque os soldados virão e nos crucificarão” (cf. Lc 24, 22-24). Os soldados que guardavam o túmulo fizeram o mesmo: tinham visto a verdade, mas depois preferiram vender o seu segredo: “Tenhamos cuidado: não entremos nestas histórias, pois são perigosas” (cf. Mt 28, 11-15).
Um momento de crise é um momento de escolha, que nos coloca à frente das decisões que temos de tomar. Todos na vida tivemos e teremos momentos de crise: crise familiar, crise matrimonial, crise social, crise laboral, muitas crises... Esta pandemia é também um momento de crise social.
Como reagir neste momento de crise? «A partir daquele momento, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com Ele» (v. 66). Jesus tomou a decisão de interrogar os apóstolos: «Então, Jesus perguntou aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos?”» (v. 67). Tomai uma decisão. E Pedro faz a segunda confissão: «Simão Pedro respondeu-lhe: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. E nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus!”» (vv. 68-69). Pedro confessa, em nome dos Doze, que Jesus é o Santo de Deus, o Filho de Deus. A primeira confissão - «Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo» - e logo depois, quando Jesus começou a explicar a paixão que viria, impediu-o: “Não, não, Senhor, isto não”, e Jesus repreendeu-o (cf. Mt 16, 16-23). Mas Pedro amadureceu um pouco e aqui não censura. Não entende o que Jesus diz, “comer a carne, beber o sangue” (cf. 6, 54-56), não entende, mas confia no Mestre. Confia. E faz esta segunda confissão: “Mas a quem iremos? Por favor, Tu tens palavras de vida eterna” (cf. v. 68).
Isto ajuda-nos todos a viver a crise. Na minha terra há um ditado que diz: “Quando vais a cavalo e deves atravessar um rio, por favor não troques o cavalo no meio do rio”. Em tempos de crise, sejamos deveras firmes na convicção da fé. Aqueles que foram embora, que “trocaram o cavalo”, procuraram outro mestre que não fosse tão “duro”, como lhe diziam. Nos momentos de crise deve haver perseverança, silêncio; fiquemos onde estamos, imóveis. Este não é o momento de fazer alterações. É o momento da fidelidade, da fidelidade a Deus, da fidelidade às coisas [decisões] que tomamos antes. É também o momento da conversão, pois esta fidelidade irá inspirar-nos a fazer algumas mudanças para o bem, não a distanciar-nos do bem.
Momentos de paz e momentos de crise. Nós, cristãos, temos de aprender a enfrentar ambos. Ambos. Alguns padres espirituais dizem que o momento de crise é como atravessar o fogo para se tornar forte. Que o Senhor nos envie o Espírito Santo para sabermos resistir às tentações nos momentos de crise, para sabermos ser fiéis às primeiras palavras, com a esperança de viver depois os momentos de paz. Pensemos nas nossas crises: crises familiares, crises de vizinhança, crises de trabalho, crises sociais do mundo, do país... Muitas crises, tantas crises.
Que o Senhor nos dê a força - em tempos de crise - para não vendermos a fé.
Oração para fazer a Comunhão espiritual
As pessoas que não podem receber a Eucaristia, agora fazem a Comunhão espiritual
Meu Jesus, creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-vos acima de tudo e a minha alma suspira por Vós. Mas dado que agora não posso receber-vos no Santíssimo Sacramento, vinde, pelo menos espiritualmente, ao meu coração. Abraço-vos come se já estivésseis comigo: uno-me inteiramente a Vós. Ah! Não permitais que eu volte a separar-me de Vós!
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