MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO 2024
A Sua Excelência o Senhor
QU DONGYU
Diretor-geral da FAO
Senhor Diretor-geral!
O 44º Dia Mundial da Alimentação convida-nos a refletir sobre o direito à alimentação para uma vida e um futuro melhores. Trata-se de algo prioritário, dado que satisfaz uma das necessidades básicas do ser humano, ou seja, alimentar-se para viver de acordo com padrões qualitativos e quantitativos adequados, que garantam a existência digna da pessoa humana. No entanto, vemos com frequência este direito desprezado e não aplicado de maneira justa, com as consequências nefastas que disto advêm.
Com o objetivo de promover o direito à alimentação, a fao propõe fortemente que se considere uma transformação dos sistemas alimentares que tenha em conta a pluralidade e a variedade de alimentos nutritivos, acessíveis, saudáveis e sustentáveis, como meio para alcançar a segurança alimentar e dietas salutares para todos.
Para isso, é necessário não esquecer a dimensão social e cultural intrínseca do ato de se alimentar. A este respeito, os responsáveis pela política e a economia a nível internacional devem ouvir as exigências dos últimos da cadeia alimentar, como os pequenos agricultores, e das formações sociais intermédias, como a família, diretamente envolvidas na alimentação das pessoas.
Soluções enérgicas para enfrentar e resolver os problemas alimentares do nosso tempo exigem que consideremos os princípios de subsidiariedade e solidariedade como fundamentos dos nossos programas e projetos de desenvolvimento, para que nunca se adie a verdadeira escuta das necessidades que vêm de baixo, dos trabalhadores e dos agricultores, dos pobres e dos famintos, e daqueles que vivem com dificuldades em áreas rurais isoladas. Jesus Cristo ensinou-nos: «Tudo o que quereis que os outros vos façam, fazei-o vós também a eles: esta é a razão de ser da Lei e dos Profetas» (Mt 7, 12).
Ferida por tantas injustiças, a humanidade exige urgentemente medidas eficazes para levar uma vida melhor, atuando em conjunto, animados pelo mesmo espírito de fraternidade e consciente de que este planeta que Deus nos concedeu deve ser um jardim aberto à convivência serena. Era nisto que eu pensava, quando propus que se considerasse o paradigma da ecologia integral, para que se tenha em conta as necessidades de cada pessoa e de todas as pessoas, a fim de que a sua dignidade seja protegida na sua relação com os outros e em estreita ligação com o cuidado da criação. As necessidades das pessoas só poderão ser satisfeitas se tivermos o ideal de justiça como guia da nossa ação.
Isto requer também que nos deixemos interpelar e comover pela condição do outro e que a solidariedade se torne o foco principal das nossas decisões. Deste modo, a proteção das gerações futuras caminhará de mãos dadas com a escuta e a atuação a favor das exigências das gerações presentes, mediante uma aliança intra e intergeracional que chame todos nós à fraternidade e dê um sentido novo e mais autêntico à cooperação internacional, uma cooperação que deve animar esta Organização e todo o sistema multilateral.
Neste caminho, repleto de obstáculos e dificuldades, mas ao mesmo tempo apaixonante e cheio de desafios, a Comunidade internacional contará com o encorajamento da Santa Sé e da Igreja católica, que não cessam de oferecer a sua contribuição para que todos possam dispor de alimentos em quantidade e qualidade adequadas para si e para as suas famílias, a fim de que cada pessoa tenha uma vida digna e o doloroso flagelo da pobreza e da fome no mundo seja definitivamente debelado.
Com estes sentimentos e desejos, invoco sobre todos vós e sobre quantos trabalham por esta nobre causa a bênção de Deus Todo-Poderoso, que não se cansa de sustentar quem tem a peito o bem de toda a humanidade.
Francisco
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L'Osservatore Romano, Edição semanal em português, Ano LV, número 42, quinta-feira 17 de outubro de 2024, p. 1
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