MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO,
ASSINADA PELO CARDEAL SECRETÁRIO DE ESTADO,
POR OCASIÃO DO XLV MEETING PARA A AMIZADE ENTRE OS POVOS
[Rímini, 20-25 de agosto de 2024]
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Excelência Reverendíssima!
Por ocasião do 45º Meeting para a amizade entre os povos, o Santo Padre deseja dirigir aos participantes uma mensagem de bons votos, saudando os organizadores, os voluntários e todos aqueles que participarem no evento, cujo título representa um apelo urgente à responsabilidade: «Se não estamos em busca do essencial, então o que procuramos?».
Precisamente quando atravessamos tempos complexos, a procura do que constitui o centro do mistério da vida e da realidade reveste-se de uma importância crucial. Com efeito, a nossa época é marcada por vários problemas e desafios consideráveis, perante os quais às vezes temos um sentimento de impotência, uma atitude de renúncia passiva que pode levar a “arrastar-se na vida” e a deixar-se levar pelo torpor do efémero, a ponto de perder o significado da existência. Portanto, neste cenário é ainda mais pertinente a escolha de se pôr no seguimento do que é essencial.
Por isso, o Papa Francisco encoraja a tentativa de procurar, com paixão e entusiasmo, o que faz sobressair a beleza da vida, enfrentando a questão apresentada pelo padre Luigi Giussani, quando afirmava corajosamente: «O coração está corroído pela esclerose, ou seja, pela perda da paixão e do gosto de viver. [...] A velhice aos vinte anos e ainda antes, a velhice aos quinze, esta é a caraterística do mundo de hoje» (Il senso religioso , Milão 2013, 116˗-117).
Enquanto sopram os ventos gélidos da guerra, acrescentando-se aos fenómenos recorrentes de injustiça, violência e desigualdade, bem como à grave emergência climática e a uma mutação antropológica sem precedentes, é imprescindível parar e perguntar-se: há algo pelo que vale a pena viver e esperar?
Desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco exorta-nos a ler também as resistências, fadigas e quedas dos homens e mulheres de hoje como um apelo à reflexão, para que o coração se abra ao encontro com Deus e cada um tome consciência de si mesmo, do próximo e da realidade.
O seu convite constante é a tornar-nos mendigos do essencial, daquilo que dá sentido à nossa vida, começando por nos despojarmos do que pesa no nosso dia a dia, seguindo o exemplo de um alpinista que, agarrado à parede da rocha, deve livrar-se do supérfluo para poder subir mais depressa. Agindo assim, descobrimos que o valor da existência humana não consiste nas coisas, nos sucessos alcançados, na corrida da competição, mas antes de tudo na relação de amor que nos sustenta, enraizando o nosso caminho na confiança e na esperança: é a amizade com Deus, que depois se reflete em todas as outras relações humanas, que fundamenta a alegria que nunca falhará. Somos amados, esta é a verdade essencial, que o próprio padre Giussani anunciava aos jovens universitários: «Sois amados. Esta é a mensagem que chega à vossa vida [...]. É Jesus Cristo na história do homem, o início contínuo desta mensagem: “Sois amados!”. O que é a vida? Ser amado. E o ser que temos em nós? Ser amado. E o destino? Ser amado» (Litterae Communionis Tracce, 1996, n. 1).
Neste sentido, o Papa Francisco recorda-nos que «o essencial, o mais belo, o mais atraente e, ao mesmo tempo, o mais necessário para nós é a fé em Cristo Jesus» (Discurso à Plenária do Dicastério para a Doutrina da Fé, 26 de janeiro de 2024). Com efeito, só o Senhor salva a nossa frágil humanidade e, no meio das adversidades, faz-nos experimentar uma alegria que de outro modo seria impossível. Sem este ponto de ancoragem, o barco da nossa vida ficaria à mercê das ondas e correria o risco de afundar.
Voltar ao essencial que é Jesus não significa fugir da realidade, mas, pelo contrário, é a condição para mergulhar verdadeiramente na história, para a enfrentar sem evitar os seus desafios, para encontrar a coragem de arriscar e amar até quando parece não valer a pena, para viver no mundo sem medo algum. Como escreveu o então arcebispo Montini: «Tu és necessário para nós, ó Cristo, ó Senhor, ó Deus-connosco, para aprendermos o verdadeiro amor e caminharmos na alegria e na força da tua caridade, ao longo da senda da nossa vida cansativa» (Omnia nobis est Christus. Carta Pastoral à Arquidiocese de Milão para a Quaresma, 1955).
Portanto, neste espírito, o Santo Padre aprecia e partilha a finalidade do próximo Meeting, pois apostar no essencial ajuda-nos a tomar a vida nas nossas mãos e a fazer dela um instrumento de amor, de misericórdia e de compaixão, tornando-nos sinal de bênção para o próximo. Perante a tentação do desânimo, a complexidade da crise atual e, em particular, o desafio de uma paz que parece impossível, o Santo Padre exorta todos a tornar-se protagonistas responsáveis da mudança, colaborando ativamente na missão da Igreja, para juntos dar vida aos lugares onde a presença de Cristo pode ser vista e tocada. Este compromisso coral pode gerar um mundo novo, onde finalmente há de triunfar o Amor que em Cristo se nos manifestou, e o planeta inteiro se há de tornar um templo de fraternidade.
O Papa Francisco espera que o rico programa do Meeting, na multiplicidade das propostas e linguagens, possa suscitar em muitos o desejo de se tornar investigadores do essencial e fazer florescer no coração a paixão pelo anúncio do Evangelho, manancial de libertação de todos os tipos de escravidão e força que cura e transforma a humanidade. A todos, organizadores, voluntários e participantes, concede de coração a sua bênção, pedindo que rezeis por ele.
Unindo também os meus votos pessoais, aproveito a circunstância para confirmar os sentimentos de distinta reverência,
Cardeal Pietro Parolin
Secretário de Estado
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L'Osservatore Romano, Edição semanal em português, Ano LV, número 34, quinta-feira 22 de agosto de 2024, p. 4
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