VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A CUBA, AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E VISITA À SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
(19-28 DE SETEMBRO DE 2015)
VISITA AOS ENCARCERADOS NA PRISÃO CURRAN-FROMHOLD PARA MENORES
DISCURSO DO SANTO PADRE
Filadélfia
Domingo, 27 de Setembro de 2015
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Vou falar em espanhol, porque não sei falar em inglês, mas ele [indica o intérprete] fala muito bem inglês e vai traduzir o que digo. Obrigado pela recepção e a possibilidade de estar aqui convosco compartilhando este período da vossa vida. Um período difícil, cheio de tensões. Um período que – bem sei – é doloroso não só para vós, mas também para as vossas famílias e toda a sociedade; porque uma sociedade, uma família que não sabe sofrer com as dores dos seus filhos, que não as leva a sério, que as trata como coisas «naturais»considerando-as normais e previsíveis, é uma sociedade «condenada» a permanecer prisioneira de si mesma, prisioneira de tudo o que a faz sofrer. Eu vim aqui como pastor, mas sobretudo como irmão para compartilhar a vossa situação e fazê-la minha também; vim para podermos rezar juntos e apresentar ao nosso Deus aquilo que nos dói e também o que nos encoraja, e receber d’Ele a força da Ressurreição.
Recordo o Evangelho em que Jesus lava os pés aos seus discípulos durante a Última Ceia. Uma atitude que os discípulos tiveram dificuldade em compreender, incluindo São Pedro que reage dizendo-Lhe: «Tu nunca me hás-de lavar os pés!» (Jo13, 8).
Naquele tempo era costume, quando uma pessoa chegava a casa, lavar-lhe os pés. As pessoas eram recebidas sempre assim. É que não havia estradas asfaltadas, eram estradas poeirentas, com o cascalho que se enfiava nas sandálias. Todos percorriam caminhos que os deixavam impregnados de pó, quando não se feriam em alguma pedra ou faziam qualquer corte. No Cenáculo, vemos Jesus que lava os pés, os nossos pés, os pés dos seus discípulos de ontem e de hoje.
Todos sabemos que viver é caminhar, viver é seguir por várias estradas, diferentes caminhos que deixam a sua marca na nossa vida.
E pela fé, sabemos que Jesus nos procura, quer curar as nossas feridas, curar os nossos pés das chagas dum caminho cheio de solidão, limpar-nos do pó que se foi agarrando a nós ao longo das estradas que cada um percorreu. Jesus não nos pergunta por onde andámos, nem nos interroga sobre o que andávamos a fazer. Pelo contrário, diz-nos: «Se Eu não te lavar, nada terás a ver comigo»(Jo13, 8). Se não te lavar os pés, não poderei dar-te a vida que o Pai sempre sonhou, a vida para que te criou. Ele vem ao nosso encontro para nos calçar de novo coma dignidade dos filhos de Deus. Quer ajudar-nos a recompor o nosso andar, retomar o nosso caminho, recuperara nossa esperança, restituir-nos a fé e a confiança. Quer que regressemos às estradas da vida, sentindo que temos uma missão; que este tempo de reclusão nunca foi e nunca há-de ser sinónimo de expulsão.
Viver supõe «sujar-se os nossos pés»pelas estradas poeirentas da vida e da história. E todos precisamos de ser purificados, ser lavados. Todos. E eu, o primeiro de todos. Todos somos procurados por este Mestre que nos quer ajudar a retomar o caminho. O Senhor procura-nos a todos, para nos dar a sua mão. É penoso constatar como às vezes se geram sistemas prisionais que não procuram curar as chagas, curar as feridas, criar novas oportunidades. É doloroso constatar como às vezes se pensa que só alguns precisam de ser lavados, purificados, sem considerar que o seu cansaço, o seu sofrimento, as suas feridas são também o cansaço, o sofrimento e as feridas de toda uma sociedade. O Senhor no-lo mostra claramente através dum gesto: lavar os pés e voltar à mesa; uma mesa, da qual Ele quer que ninguém fique fora. A mesa que foi preparada para todos e para a qual todos somos convidados.
Este período da vossa vida só pode ter um objectivo: estender a mão para retomar o caminho, estender a mão para que ajude à reintegração social. Uma reintegração de que todos fazemos parte, que todos somos chamados a estimular, acompanhar e realizar. Uma reintegração procurada e desejada por todos: reclusos, famílias, funcionários, políticas sociais e educativas. Uma reintegração que beneficia e eleva o nível moral de toda a comunidade e a sociedade.
E desejo encorajar-vos a manter esta atitude entre vós, com todas as pessoas quede alguma maneira fazem parte deste Instituto. Sede artífices de oportunidades, sede artífices de caminho, sede artífices de novas vias.
Todos temos alguma coisa de que ser limpos e purificados. Todos. Que a consciência disto nos desperte para a solidariedade entre todos, para nos apoiarmos e procurarmos o melhor para os outros.
Fixemos os olhos em Jesus que nos lava os pés: Ele é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6), que nos vem fazer sair da mentira de crer que nada pode mudar, da mentira de crer que ninguém pode mudar. Jesus ajuda-nos a caminhar por sendas devida e plenitude. Que a força do seu amor e da sua Ressurreição seja sempre caminho de vida nova.
E assim mesmo, como estamos – cada um no seu lugar, sentado, em silêncio –, peçamos ao Senhor que nos abençoe: O Senhor vos abençoe e proteja. Faça brilhar sobre vós o seu rosto e vos dê a sua graça. Ele vos descubra o seu rosto e vos conceda a paz. Obrigado!
Palavras no final do encontro:
A cadeira que fizestes é muito bonita, muito bela. Muito obrigado pelo trabalho!
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