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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO MÉXICO 
(12-18 DE FEVEREIRO DE 2016)

ENCONTRO COM OS JOVENS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Estádio “José María Morelos y Pavón”, Morélia
Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2016

[Multimídia]


 

Boa tarde para vós, jovens do México que estais aqui, que nos estais a ver pela televisão, que nos estais a ouvir; e quero enviar uma saudação e uma bênção também aos milhares de jovens que, na arquidiocese de Guadalajara, estão reunidos na Praça São João Paulo II a acompanhar o que se passa aqui e, como eles, muitos outros; mas fizeram-me saber que lá estavam reunidos vários milhares a acompanhar-nos. Assim somos dois estádios: a Praça João Paulo de Guadalajara e nós aqui; e, depois, muitos outros por toda a parte.

Eu tinha conhecimento das vossas questões, porque me fizeram chegar o rascunho daquilo que mais ou menos íeis dizer. É verdade; para quê mentir-vos? Mas, à medida que íeis falando, fui também anotando algumas coisas que me pareciam importantes para agora as retomar…

Digo-vos que, quando cheguei a esta terra, fui recebido com boas-vindas calorosas e pude assim constatar algo que sabia há tempos: a vitalidade, a alegria, o espírito festoso do povo mexicano. Agora mesmo, depois de vos ouvir e sobretudo depois de vos ver, constato de novo outra certeza, algo que disse ao Presidente da nação, na minha primeira saudação: um dos maiores tesouros desta terra mexicana tem um rosto jovem, são os seus jovens. Sim, sois vós a riqueza desta terra. Atenção! Eu não disse a esperança desta terra, mas «a sua riqueza».

A montanha pode ter minerais ricos que servirão para o progresso da humanidade, é a sua riqueza. Mas esta riqueza deve ser transformada em esperança com o trabalho, como fazem os mineiros quando extraem aqueles minerais. Vós sois a riqueza; é preciso transformá-la em esperança. E Daniela, no final, lançou um desafio, mas também nos deu a pista para a esperança. Mas todos aqueles que falaram, quando assinalavam as dificuldades, as coisas que aconteciam, afirmavam uma grande verdade: «todos podemos viver, mas não podemos viver sem esperança». Pressentir o amanhã! Uma pessoa não pode pressentir o amanhã, se antes não consegue estimar-se, se não consegue sentir que a sua vida, as suas mãos, a sua história têm valor. Sentir aquilo que o Alberto dizia: «com as minhas mãos, com o meu coração e com a minha mente, posso construir esperança». Se eu não sinto isto, a esperança não poderá entrar no meu coração. A esperança nasce, quando se pode experimentar que nem tudo está perdido, mas para isso é necessário exercitar-se começando «por casa», começando por si mesmo. Nem tudo está perdido. Não estou perdido, eu valho, eu valho muito. Peço-vos agora um momento de silêncio, para que cada um se questione no próprio coração: É verdade que nem tudo está perdido? Eu estou perdido, ou: eu estou perdida? Eu valho? Valho pouco, valho muito? A principal ameaça à esperança são os discursos que te desvalorizam: vão-te sugando o valor e acabas por terra, não é verdade? Acabas meditabundo, com o coração triste. Discursos que te fazem sentir um ser de segunda classe, se não mesmo de quarta. A principal ameaça à esperança é quando sentes que ninguém se importa contigo, ou que te puseram de lado. Esta é a grande dificuldade para a esperança: quando numa família ou na sociedade, numa escola ou no grupo de amigos te fazem sentir que não se importam de ti. E isto custa, isto dói. Mas isto acontece, sim ou não? [respondem: «Sim»] Sim, acontece! E isto mata, isto aniquila-nos e é porta de entrada para tanta amargura. Porém há outra ameaça, igualmente importante, à esperança – a esperança de que esta riqueza que sois vós cresça e dê fruto – e é fazer-te crer que começas a valer qualquer coisa, quando te mascaras com roupas de marca, do último grito da moda, ou que ganhas prestígio, te tornas importante por teres dinheiro, mas, no fundo do teu coração, não crês ser digno de carinho, digno de amor (e isso o teu coração o intui!). A esperança fica amordaçada pelo que te fazem crer, não ta deixam despontar. A principal ameaça é quando uma pessoa sente que tudo aquilo de que precisa é ter dinheiro para comprar tudo, inclusive o carinho dos outros. A principal ameaça é crer que, pelo facto de ter um grande «carro», és feliz. Será verdade isto? Por teres um grande carro, és feliz? [respondem: «Não»].

Vós sois a riqueza do México, vós sois a riqueza da Igreja. Permiti-me que vos diga uma frase da minha terra: «No les estoy sobando el lomo», não vos estou a acariciar o pêlo, a lisonjear. Compreendo que muitas vezes se torna difícil sentir-se tal riqueza, quando nos vemos continuamente sujeitos à perda de amigos ou familiares nas mãos do narcotráfico, das drogas, de organizações criminosas que semeiam o terror. É difícil sentir-se a riqueza duma nação, quando não se tem oportunidades de trabalho digno (disseste-lo claramente, Alberto), possibilidades de estudo e formação, quando não se sentem reconhecidos os direitos levando-vos depois a situações extremas. É difícil sentir-se a riqueza dum lugar, quando, por serdes jovem, vos usam para fins mesquinhos, seduzindo-vos com promessas que, no fim, não são reais, são bolas de sabão. Assim é difícil sentir-se rico. A riqueza, têm-na dentro; a esperança, têm-na dentro; mas não é fácil, por causa de tudo aquilo que vos disse e vós repetistes: faltam oportunidades de trabalhar, de estudo (assim o disseram Roberto e Alberto).

Mas, apesar de tudo isto, não me cansarei de dizer: vós sois a riqueza do México.

Roberto, disseste uma frase que provavelmente me escapou quando li o teu resumo, mas quero sublinhá-la. Disseste que perdeste alguma coisa, mas não disseste: «perdi o telemóvel, perdi a carteira com o dinheiro, perdi o comboio porque cheguei atrasado». Disseste: «Perdemos o encanto de apreciar o encontro». Perdemos o encanto de caminhar juntos, perdemos o encanto do sonhar juntos; ora, para que esta riqueza, movida pela esperança, possa crescer, é preciso caminhar juntos, é preciso encontrar-se, é preciso sonhar. Não percais o encanto de sonhar! Tende a ousadia de sonhar! Sonhar, que não é o mesmo que ser dorminhocos, isso não!

E não penseis que vos digo isto – que vós sois a riqueza do México e que esta riqueza, com a esperança, cresce – porque sou bom ou porque já vejo tudo claro! Não, queridos amigos, não é por isso. Digo-vos isto, e digo-o convencido, sabeis porquê? Porque, como vós, creio em Jesus Cristo – e creio que Daniela foi muito forte, quando nos falou disto – eu creio em Jesus Cristo e por isso vos digo isto. E é Ele que renova continuamente em mim a esperança, é Ele que renova continuamente o meu olhar. É ele que desperta em mim, isto é, em cada um de nós o encanto de apreciar, o encanto de sonhar, o encanto de trabalhar em conjunto. É Ele que me convida continuamente a converter o coração. Sim, meus amigos! Digo-vos isto, porque, em Jesus, eu encontrei Aquele que é capaz de estimular o melhor de mim mesmo. E é graças a Ele que podemos abrir caminho; é graças a Ele que sempre podemos recomeçar; é graças a Ele que podemos dizer: é mentira que a única forma possível de viver, de poder ser jovem seja deixar a vida nas mãos do narcotráfico ou de todos aqueles cuja única coisa que fazem é semear destruição e morte. Isto é mentira, e dizemo-lo por graça de Jesus. É graças a Jesus, a Jesus Cristo Senhor, que podemos dizer que é mentira que a única forma que os jovens têm de viver aqui seja na pobreza e na marginalização: marginalização de oportunidades, marginalização de espaços, marginalização da formação e educação, marginalização da esperança. Jesus Cristo é Aquele que desmente todas as tentativas de vos tornar inúteis, ou meros mercenários de ambições alheias. São as ambições alheias que vos marginalizam, para vos usarem em todas aquelas coisas que vos disse e que – como sabeis – acabam por vos destruir. E o único que me pode segurar fortemente pela mão é Jesus Cristo; Ele faz com que esta riqueza se transforme em esperança.

Pedistes-me uma palavra de esperança... A que tenho para vos dizer e que está na base de tudo, chama-se Jesus Cristo. Quando tudo vos parecer pesado, quando parecer que o mundo vos cai em cima, abraçai-vos à sua cruz, abraçai-vos a Ele e, por favor, nunca largueis a sua mão, ainda que vos leve para diante a rasto; e, se alguma vez cairdes, deixai-vos levantar por Ele. Os alpinistas têm uma canção muito bonita, que me apraz repetir aos jovens; enquanto sobem, vão cantando: «Na arte de subir, o triunfo não está em não cair, mas em não ficar caído». Esta é a arte de subir; e quem é o único que pode agarrar-te pela mão, para não ficares caído? Só Jesus Cristo. Ele, às vezes, envia-te um irmão para falar contigo e ajudar-te. Não escondas a tua mão, quando estás caído; não lhe digas: «Não me olhes que estou cheio, ou cheia, de lama. Não me olhes, que já não há remédio». Não é verdade! Basta que deixes agarrar a tua mão e tu agarra-te àquela mão, e a riqueza que tens dentro – suja, enlameada, dada como perdida – começará, através da esperança, a dar o seu fruto. Mas sempre agarrado à mão de Jesus Cristo. Este é o caminho; não vos esqueçais: «Na arte de subir, o triunfo não está em não cair, mas em não ficar caído». Não vos deixeis ficar caídos. Nunca! Está bem? E, se virdes um amigo ou uma amiga que teve uma escorregadela na vida e caiu, vai e dá-lhe a mão, mas dá-lha com dignidade. Colocai-vos ao lado dele, ao lado dela, escutai-o; não lhe digas: «Trago-te a receita». Isto não; mas, como amigo, lentamente, dá-lhe força com as tuas palavras, dá-lhe força com a escuta (eis uma medicina que está a ser esquecida: a «escutoterapia»). Deixa-o falar, deixa que desabafe e então, pouco a pouco, estender-te-á a sua mão e tu ajudá-lo-ás em nome de Jesus Cristo. Mas, se entras à valentona, e começas a fazer-lhe um sermão e a censurá-lo, censurá-lo, assim, coitado dele, ficará pior do que estava. É claro? [respondem: «Sim»]. Nunca largueis a mão de Jesus Cristo, nunca vos afasteis d’Ele; e se acontecer afastar-vos, levantai-vos e continuai para diante. Ele compreende como são estas coisas. Com efeito, juntamente com Ele é possível viver plenamente, juntamente com Ele é possível crer que a vida vale a pena, que vale a pena dar o melhor de vós mesmos, ser fermento, ser sal e luz no meio dos amigos, no meio do bairro, no meio da comunidade, no meio da família (depois, Rosário, falarei um pouco daquilo que tu disseste sobre a família). Por isso, queridos amigos, em nome de Jesus peço que não vos deixeis excluir, não vos deixeis desvalorizar, não vos deixeis tratar como mercadoria. Jesus deu-nos um conselho para isto, para não nos deixarmos excluir, para não nos deixarmos desvalorizar, para não nos deixarmos tratar como mercadoria: «Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas». As duas virtudes juntas. Aos jovens, não falta vivacidade; falta-lhes às vezes a prudência para não serem ingénuos. As duas coisas: prudentes, mas simples, amáveis. É certo que, por este caminho, talvez não tenhais à porta o último modelo de carro, que não tenhais a carteira cheia de dinheiro, mas tereis algo que ninguém vos poderá jamais roubar: a experiência de vos sentirdes amados, abraçados e acompanhados. É o encanto de apreciar o encontro, o encanto de sonhar com o encontro de todos. É a experiência de vos sentirdes família, de vos sentirdes comunidade. E é a experiência de olhar o mundo, olhos nos olhos e de testa erguida, sem o carro, sem o dinheiro, mas de testa erguida: a dignidade. Três palavras que vos peço para repetir: Riqueza, porque nos foi dada; Esperança, porque queremos abrir-nos à esperança; Dignidade. Repetimos: riqueza, esperança e dignidade. A riqueza que Deus vos deu; vós sois a riqueza do México. A esperança que vos dá Jesus Cristo e a dignidade que vem de não vos deixardes lisonjear e ser mercadoria para a carteira dos outros.

Hoje o Senhor continua a chamar-vos, continua a convocar-vos como fez com o índio Juan Diego. Convida-vos a construir um santuário; um santuário que não é um lugar físico, mas uma comunidade: um santuário chamado paróquia, um santuário chamado nação. A comunidade, a família, o sentir-vos cidadãos são alguns dos principais antídotos contra tudo o que nos ameaça, porque nos faz sentir parte desta grande família de Deus. E não para nos refugiarmos, não para nos fecharmos a fim de escapar às ameaças ou aos desafios da vida; antes, pelo contrário, para sairmos a convidar outros, para sairmos a anunciar a outros que ser jovem no México é a maior riqueza e, por conseguinte, não pode ser sacrificada. E porque tal riqueza é capaz de ter esperança e de nos dar dignidade. Digamos outra vez as três palavras: riqueza, esperança e dignidade. Mas riqueza, riqueza, ou seja, aquela que Deus nos deu e que temos de fazer crescer.

Jesus, que nos dá a esperança, nunca nos convidaria a ser sicários, mas chama-nos discípulos, chama-nos amigos. Jesus nunca nos mandaria à morte, mas tudo n’Ele é convite à vida: uma vida em família, uma vida em comunidade; uma família e uma comunidade a favor da sociedade. E aqui, Rosário, retomo, o que tu disseste, uma coisa muito bela: «Na família, aprende-se proximidade». Aprende-se solidariedade, aprende-se a partilhar, a discernir, a resolver os problemas uns dos outros, a pegar-se e corrigir-se, a discutir e a abraçar-se e beijar-se. A família é a primeira escola da nação, e na família está a riqueza que vós tendes. A família é como a guardiã dessa riqueza, na família ides encontrar esperança, porque nela está Jesus, e na família ides ter dignidade. Nunca, nunca ponhais de lado a família; a família é a pedra fundamental da construção duma grande nação. Vós sois riqueza, tendes esperança e sonhais (a Rosário também falou de sonhar). Vós sonhais ter uma família? [respondem: «sim»].

Queridos irmãos, vós sois a riqueza deste país e, quando tiverdes dúvidas sobre isto, olhai para Jesus Cristo, que é a esperança, aquele que desmente todas as tentativas de vos tornar inúteis ou meros mercenários de ambições alheias.

Agradeço-vos este encontro e peço que rezeis por mim. Obrigado!

* * *

No final do encontro com os jovens, o Papa convida a rezar à Virgem:

Convido-vos a rezar juntos a Nossa Senhora de Guadalupe, pedindo-Lhe que nos torne conscientes da riqueza que Deus nos deu, que faça crescer em nós, nos nossos corações, a esperança em Jesus Cristo e que avancemos pela vida fora com a dignidade de cristãos [segue-se a recitação da Ave Maria e a Bênção Apostólica].

E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!

 



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