ENCONTRO COM OS JOVENS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Praça Politeama de Palermo
Sábado, 15 de setembro de 2018
Estimados amigos, boa tarde!
Estou feliz por me encontrar convosco no ápice deste dia! Um dia um pouco cansativo, mas bonito, muito bonito! Obrigado aos palermitanos! Obrigado pelas três perguntas. Eu conhecia as três perguntas e tinha escrito algumas respostas, mas gosto de sublinhar, e quando surge outra ideia, inseri-la no momento.
A primeira, a tua, era sobre o modo como ouvir a voz do Senhor e amadurecer uma resposta. Mas eu perguntaria: como se ouve o Senhor? Como se ouve? Onde fala o Senhor? Vós tendes o número do telemóvel do Senhor, para lhe telefonar? ... Como se ouve o Senhor? Dir-vos-ei isto, e a sério: não se ouve o Senhor permanecendo na poltrona. Entendeis? Sentado, uma vida cómoda, sem fazer nada, e querendo ouvir o Senhor. Garanto-te que ouvirás qualquer coisa, exceto o Senhor. Não se ouve o Senhor com a vida cómoda, na poltrona. Permanecer sentado, na vida — ouvi isto, é muito importante para a vossa vida de jovens — permanecer sentado cria interferência com a Palavra de Deus, que é dinâmica. A Palavra de Deus não é estática, e se tu fores estático, não poderás ouvi-la. Deus descobre-se caminhando. Se tu não te puseres a caminho para fazer algo, para trabalhar pelos outros, para dar um testemunho, para praticar o bem, nunca ouvirás o Senhor. Para ouvir o Senhor é necessário estar a caminho, sem esperar que na vida aconteça magicamente algo. Vemo-lo na fascinante história de amor que é a Bíblia. Aqui o Senhor chama continuamente pessoas jovens. Sempre, incessantemente. E gosta de falar aos jovens enquanto estão a caminho — por exemplo, pensai nos dois discípulos de Emaús — ou então quando se comprometem — pensai em David que apascentava o rebanho, enquanto os seus irmãos estavam em casa tranquilos, ou em guerra. Deus detesta a preguiça e gosta da ação. Ponde bem isto no coração e na cabeça: Deus detesta a preguiça e gosta da ação! Os indolentes não poderão herdar a voz do Senhor. Entendestes? Mas não se trata de se mover para se manter em forma, nem de correr todos os dias para se treinar. Não, não se trata disto. Trata-se de mover o coração, de pôr o coração a caminho. Pensai no jovem Samuel. Permanecia dia e noite no templo, e no entanto estava em movimento contínuo, porque não se deixava absorver pelos seus negócios, mas estava à procura. Se quiseres ouvir a voz do Senhor, coloca-te a caminho, vive em busca. O Senhor fala a quem se põe à procura. Quem busca, caminha. Estar à procura é sempre sadio; sentir-se já realizado, sobretudo para vós, é trágico. Entendestes? Nunca vos sintais realizados, nunca! Gosto de dizer, retomando o ícone da poltrona, gosto de dizer que é feio ver um jovem reformado, aposentado. É feio! O jovem deve estar a caminho, não na reforma. A juventude leva-te a isto, mas se fores para a reforma com 22 anos, terás envelhecido demasiado cedo, cedo demais!
Jesus oferece-nos um conselho para ouvir a voz do Senhor: «Procurai e encontrareis» (Lc 11, 9). Sim, mas onde procurar? Não no telemóvel — como eu disse — pois as chamadas do Senhor não chegam ali. Não na televisão, onde o Senhor não possui canal algum. Nem sequer na música ensurdecedora e na excitação que atordoa: ali a linha com o céu está interrompida. O Senhor não deve ser procurado nem sequer diante do espelho — este é um perigo, ouvi bem: o Senhor não deve ser procurado nem sequer diante do espelho — onde, permanecendo sozinhos, correis o risco de ficar desiludidos com aquilo que sois. Aquela amargura que às vezes sentis e que leva à tristeza: “Mas quem sou eu, o que faço? Não sei o que fazer...”, e leva-te à tristeza. Não! A caminho, sempre a caminho. Não o procureis no vosso quartinho, fechados em vós mesmos, pensando no passado ou errando com o pensamento num futuro desconhecido. Não! Deus fala agora, no relacionamento. A caminho e na relação com os outros. Não vos fecheis em vós mesmos, confidenciai-vos com Ele, confiai tudo a Ele, procurai-o na oração, buscai-o no diálogo com os outros, procurai-o sempre em movimento, buscai-o a caminho. Compreendereis que Jesus crê em vós, mais do que vós acreditais em vós mesmos. Isto é importante: Jesus crê em vós, mais do que vós acreditais em vós mesmos. Jesus ama-vos mais do que vós amais a vós mesmos. Procurai-o saindo de vós mesmos, a caminho: Ele espera por vós. Fazei grupo, tende amigos, percorrei caminhos, realizai encontros, fazei Igreja assim, caminhando. O Evangelho é escola de vida, o Evangelho leva-nos a estar sempre a caminho. Acredito que este é o modo de se preparar para ouvir o Senhor.
E depois, ouvirás o convite do Senhor a fazer isto ou aquilo... No Evangelho vemos que a alguns Ele diz: «Segue-me!», e a outros: “Vai e faz isto...”. O Senhor far-te-á sentir o que quer de ti, contanto que tu não permaneças sentado, que estejas a caminho, que busques os outros e procures fazer diálogo e comunidade com os outros, e sobretudo que tu ores. Reza com as tuas palavras: com aquilo que vier do teu coração. É a oração mais bonita. Jesus chama-nos sempre a fazer-nos ao largo: não te contentes com fitar o horizonte estando na praia, não, vai em frente. Jesus não quer que permaneças no banco, mas convida-te a entrar em campo. Não te quer nos bastidores, a espiar os outros, nem nas arquibancadas a comentar, mas quer-te em cena. Põe-te em jogo! tens medo de fazer má figura? Fá-la, paciência! Todos nós a fizemos muitas vezes. Perder a cara não é o drama da vida. Ao contrário, o drama da vida é não meter a cara: este é o drama, não doar a vida! É melhor perseguir sonhos bonitos fazendo algumas más figuras, do que ser reformado com uma vida tranquila, barrigudo, ali, sossegado. É melhor ser um bom idealista do que um realista preguiçoso: é melhor ser Dom Quixote que Sancho Pança!
E também outra coisa que vos pode ajudar, eu disse-a de passagem, mas quero repeti-la: sonhai grande! Sonhai grande, sonhai alto! Pois nos grandes sonhos encontrareis muitas palavras do Senhor que está a dizer-vos algo.
Caminhar, procurar, sonhar... Um último verbo que ajuda a ouvir a voz do Senhor é servir, fazer algo pelo próximo. Sempre rumo aos outros, não fechados em vós mesmos, como aqueles que têm como nome “eu, mim, comigo, para mim”, aquelas pessoas que vivem para si mesmas, mas no final acabam como o vinagre, tão mal...
A segunda pergunta. Vejamos se escrevi algo... Verdadeiramente, a vossa ilha é um centro de encontro de muitas culturas... Não conheço a Sicília, é a primeira vez: estive em Lampedusa e agora aqui. Também o vosso idioma, os vossos dialetos, têm raízes em muitas línguas, muitas, porque foi uma encruzilhada de culturas, e todas deixaram um vestígio cultural. Vós sois um povo [fruto do] encontro de culturas e de pessoas. Aprouve-me ouvir isto, ouvir-vos dizer, ouvir-te dizer que a Sicília está no centro do Mediterrâneo, foi sempre terra de encontro. Não se trata somente de uma bonita tradição cultural, é uma mensagem de fé. Certamente, a vossa vocação consistirá em ser homens e mulheres de encontro. Encontrar e fazer encontrar; favorecer os encontros, porque o mundo de hoje é um mundo de desencontros, de guerras, de conflitos... As pessoas não se entendem... E a fé fundamenta-se no encontro, um encontro com Deus. Deus não nos deixou sozinhos; Ele desceu para nos encontrar. Ele vem ao nosso encontro, Ele precede-nos, para nos encontrar. A fé funda-se no encontro. E [no] encontro entre nós, quanto conta a dignidade dos outros? Deus quer que nos salvemos juntos, não sozinhos; que sejamos felizes juntos, não de modo egoísta, sozinhos; que nos salvemos como povo. Esta palavra, “povo”: vós sois um povo, com uma grande identidade, e deveis ser abertos a todos os povos que, como outrora, vêm ter convosco. Com o trabalho da integração, do acolhimento, de respeitar a dignidade dos outros, da solidariedade... Para nós, não se trata de bons propósitos para pessoas educadas, mas de traços distintivos do cristão. O cristão que não for solidário, não é cristão. A solidariedade é uma caraterística do cristão. O que falta hoje, o que escasseia, é o amor: não o amor sentimental, que nós podemos ver nos folhetins televisivos, nas telenovelas, mas aquele concreto, o amor do Evangelho. E dir-vos-ei, di-lo-ei a ti e a todos os que formularam a pergunta contigo: como vai o teu amor? Como está o termómetro do teu amor?
Nós somos bons em fazer distinções, até corretas e requintadas, mas às vezes esquecemos a simplicidade da fé. E o que nos diz a fé? «Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7). Amor e alegria: isto é, acolhimento. Para viver não se pode simplesmente distinguir, muitas vezes para se justificar; é necessário comprometer-se. Digo-o em dialeto? Em dialeto humano: É preciso sujar as mãos! Entendestes? Se vós não fordes capazes de sujar as mãos, nunca sereis hospitaleiros, jamais pensareis nos outros, nas necessidades do próximo. Queridos, «a vida não se explica, vive-se!». Deixemos as explicações para depois; mas viver a vida. E a vida vive-se. Isto não é meu, disse um grande autor desta terra. É válido ainda mais para a vida cristã: a vida cristã vive-se. A primeira pergunta a fazer é: coloca à disposição as minhas capacidades, os meus talentos, tudo aquilo que eu sei fazer? Tenho tempo para o próximo? Sou acolhedor em relação aos outros? Pratico um pouco de amor concreto nos meus dias?
Hoje parece tudo ligado, mas na realidade sentimo-nos demasiado isolados, distantes. Agora levo-vos a pensar, cada um de vós, na solidão que tendes no coração: quantas vezes vos encontrais a sós com essa tristeza, com aquela solidão? Este é o termómetro que te indica que a temperatura da hospitalidade, do sujar as mãos, do servir os outros é demasiado baixa. A tristeza é uma indicação da falta de “compromisso [diz “comprometimento”], e sem empenho vós nunca podereis ser construtores de futuro! Vós deveis ser construtores de futuro, o porvir está nas vossas mãos! Pensai bem nisto: o futuro está nas vossas mãos! Não podeis pegar no telemóvel e telefonar a uma empresa para que vos edifique o futuro: o porvir deve ser feito por ti, com as tuas mãos, com o teu coração, com o teu amor, com as tuas paixões, com os teus sonhos, com os outros. Hospitaleiro e ao serviço do próximo!
Temos necessidade de homens e mulheres autênticos, não de pessoas que fingem ser homens e mulheres. Homens e mulheres verdadeiros, que denunciam a criminalidade e a exploração. Não tenhais medo de denunciar, de gritar! Precisamos de homens e mulheres que vivem relações livres e libertadoras, que amam os mais frágeis e se apaixonam pela legalidade, espelho de honestidade interior. Temos necessidade de homens e mulheres que fazem o que dizem — fazem o que dizem — e que dizem não ao oportunismo alastrador. Fazer o que quero levar em frente, e não dar uma pincelada de verniz e ir avante assim, não. A vida não se faz com pinceladas de verniz; a vida faz-se no compromisso, na luta, na denúncia, no debate, na aposta da própria vida por um ideal; nos sonhos... Fazei isto, e assim funcionará. Sermos acolhedores significa sermos nós mesmos, estarmos ao serviço dos outros, sujar as mãos e tudo aquilo que eu disse. Concordais? Concordais verdadeiramente?
E agora, a última pergunta — escrevi algo, enquanto tu falavas... — Como viver o ser jovem nesta terra? Apraz-me dizer que sois chamados a ser auroras de esperança. A esperança surgirá em Palermo, na Sicília, na Itália, na Igreja, a partir de vós. Vós tendes no coração e nas mãos a possibilidade de fazer nascer e crescer a esperança. Para ser auroras de esperança é necessário levantar todas as manhãs com um coração jovem, esperançoso, lutando para não se sentir velho, para não ceder à lógica do irredimível. Trata-se de uma lógica perversa: isto não funciona, não muda nada, tudo está perdido... Esta é uma lógica perversa, é o pessimismo, segundo o qual não há salvação para esta terra, tudo acabou. Não! Não ao fatalismo, não ao pessimismo, sim à esperança, sim à esperança cristã. E vós tendes nas mãos a capacidade de criar a esperança, de fazer progredir a esperança. Por favor, não à resignação! Escutai bem: o jovem não pode ser resignado. Não à resignação! Tudo pode mudar. “Mas, Padre, onde devo chamar, para mudar tudo?”. No teu coração, nos teus sonhos, na tua capacidade de homem, de mulher, de dar fruto, de gerar. Como gerarás um filho ou uma filha amanhã, de gerar também uma nova civilização, uma civilização hospitaleira, uma civilização fraterna, uma civilização de amor. Tudo pode mudar!
Sede filhos livres. Enquanto falavas, eu refletia como estamos a viver um tempo de crise. É verdade. Todos nós sabemos isto. Muitas crises diferentes, mas é o mundo que está em crise; muitas pequenas guerras, mas o mundo está em guerra; numerosos problemas financeiros, mas os jovens estão sem emprego... É um mundo de crise; um mundo no qual nós podemos ver inclusive a desorientação que te leva à crise. A palavra crise significa que te fazem dançar na incerteza; a palavra crise diz que tu não podes estar parado porque tudo decai, tudo se perde. Quais são os vossos valores?
Falei da vossa esperança, do futuro: vós sois a esperança. Falei do presente: vós tendes a esperança nas vossas mãos, hoje. Mas pergunto-vos: nesta época de crise, tendes raízes? Cada qual responde no seu coração: “Quais são as minhas raízes?”. Ou perdeste-as? “Sou um jovem com raízes, ou sou já um jovem erradicado?”. Antes falei de jovens na poltrona, de jovens na reforma, de jovens sossegados que não se põem a caminho. Agora, pergunto-te: és um jovem com raízes, ou desenraizado? Falamos desta terra de grande cultura: mas estás arraigado na cultura do teu povo? Estás radicado nos valores do teu povo, nos valores da tua família? Ou estás um pouco no ar, um pouco sem raízes — perdoai-me a palavra — um pouco “gasoso”, sem fundamentos, sem raízes? “Mas, Padre, onde posso encontrar as raízes?”. Na vossa cultura: encontrareis muitas raízes! No diálogo com os outros... Mas sobretudo — e quero sublinhar isto — falai com os idosos. Falai com os velhos. Ouvi os idosos. “Padre, eles dizem sempre as mesmas coisas!”. Ouvi-os. Discuti com os velhos, porque se discutires com os idosos, eles falarão mais aprofundadamente e dir-te-ão coisas. Eles devem dar-te as raízes, raízes que depois — nas tuas mãos — produzirão esperança, que florescerá no futuro. Diversamente, mas com raízes. Sem raízes, tudo está perdido: não se pode ir e criar esperança sem raízes. Um poeta dizia-nos: “O que a árvore tem de florido deriva daquilo que tem de enterrado”, das raízes. Procurai as raízes!
E se alguém pensa que os velhos são tediosos, que repetem sempre as mesmas coisas, dou-lhe este conselho: ide ter com eles, fazei-os falar, discuti com eles. E eles começarão a dizer-vos coisas interessantes, que vos darão força, que vos darão força para ir em frente. “Mas devo fazer as mesmas coisas que eles fizeram?”. Não! Recebei deles a força, a pertença. O jovem que não tem pertença numa sociedade, numa família, numa cultura, é um jovem sem identidade, sem rosto. Em períodos de crise devemos sonhar, devemos colocar-nos a caminho, devemos servir os outros, devemos ser acolhedores, devemos ser jovens de encontro, devemos ser jovens com a esperança nas mãos, com o futuro nas mãos, e devemos ser jovens que haurem das raízes a capacidade de fazer florescer a esperança no porvir. Recomendo-vos, não sejais erradicados, “gasosos”, porque sem raízes não tereis pertença nem identidade.
Apraz-me ver-vos aqui, na Igreja, jubilosos portadores de esperança, da esperança de Jesus que supera o pecado. Não vos direi que sois santos, não! Vós sois pecadores, todos, como eu, como todos. Mas é a força de Jesus que supera o pecado e te ajuda a ir em frente. A esperança supera a morte. Sonhemos e vivamos a cultura da esperança, a cultura da alegria, a cultura da pertença a um povo, a uma família, a cultura que sabe haurir das raízes a força para florescer e dar fruto.
Muito obrigado pela escuta, pela paciência... Vós estais de pé... Perdoai-me, eu falei-vos enquanto estava sentado, mas neste momento eu sentia muita dor nos tornozelos! Obrigado! E não vos esqueçais: raízes, o presente nas mãos; e trabalhai pela esperança do futuro, para ter pertença e identidade. Obrigado!
Agora gostaria de vos conceder a Bênção. Sei que entre vós há jovens católicos, cristãos, de outras tradições religiosas, e até alguns agnósticos. Por isso, concederei a Bênção a todos, e pedirei a Deus que abençoe aquela semente de inquietação que está no vosso coração.
Senhor, Senhor Deus, olha para este jovens! Tu conheces cada um deles, Tu sabes o que pensam, Tu sabes que eles têm vontade de ir em frente, de construir um mundo melhor. Senhor, faz deles buscadores de bem e de felicidade; torna-os laboriosos no caminho e no encontro com os outros; torna-os audazes no serviço; torna-os humildes quando procurarem as raízes e os levarem em frente para dar fruto, ter identidade, ter pertença. O Senhor, o Senhor Deus acompanhe todos estes jovens ao longo do caminho e abençoe todos. Amém!
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