VIAGEM APOSTÓLICA DE SUA SANTIDADE FRANCISCO
à INDONÉSIA, PAPUA NOVA GUINÉ,
TIMOR LESTE E SINGAPURA
(2 - 13 de setembro de 2024)
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO SANTO PADRE
NO VOO DE REGRESSO DE SINGAPURA
Sexta-feira, 13 de setembro de 2024
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CONFERÊNCIA DE IMPRENSA no voo de regresso de Singapura, 13 de setembro de 2024
Matteo Bruni
Eis-nos aqui. Olá, Santidade! Obrigado por estes dias – tantos dias – de viagem. Obrigado também por nos ter feito sentir mais a alegria das pessoas do que o nosso cansaço. E agora algumas perguntas dos jornalistas que viajaram consigo.
Papa Francisco
Em primeiro lugar, quero agradecer a todos vós por este trabalho e pela companhia na viagem, que é muito importante para mim. Depois, gostaria de felicitar a “decana”, porque Valentina Alazraki está a realizar a sua 160ª viagem! Não lhe direi que tem de se reformar, mas que continue assim!
Bem, agora façam as perguntas. Muito obrigado!
Matteo Bruni
A primeira pergunta, Santidade, é de uma jornalista de Singapura: Pei Ting Wong (The Streits Times). Ela fará a pergunta em inglês e traduzo.
Pei Ting Wong (The Streits Times)
Papa Francisco, estou feliz que se encontre bem e que esteja regressando a Roma. Espero que tenha gostado de visitar Singapura e também da comida local. Como a experiência de Singapura é recente, podemos partir daí. Em geral, o que é que mais apreciou em Singapura: a cultura, as pessoas? Ficou surpreendido com o que viu? E o que é que Singapura pode aprender com os outros três países que visitamos? Refiro-me especificamente à sua mensagem sobre uma remuneração justa para os trabalhadores migrantes com baixos rendimentos: o que é que inspirou esta mensagem, qual foi a ideia que esteve na sua origem? E a outra pergunta - desculpe, tenho outra -: disse que Singapura tem um papel muito especial para desempenhar em âmbito internacional. O que é que Singapura pode fazer neste mundo conflituoso e como é que o Vaticano, enquanto aliado diplomático, pode contribuir? Obrigado.
Papa Francisco
Obrigado eu. Para começar, não estava esperando encontrar uma Singapura como esta. Dizem que lhe chamam a Nova Iorque do Oriente: um país desenvolvido, limpo, pessoas educadas, uma cidade com grandes arranha-céus e também com uma grande cultura inter-religiosa. O encontro inter-religioso que tive no final foi um exemplo, um exemplo de fraternidade. Depois, falando dos migrantes, vi também os arranha-céus para os trabalhadores. Os arranha-céus de luxo e os outros estão bem feitos e limpos. Gostei muito disso! Não senti que houvesse discriminação, nada disso. Fiquei impressionado com a cultura. Por exemplo, fiquei impressionado com a cultura no encontro com os alunos, no último dia. O papel internacional: escutei que na próxima semana haverá uma “Fórmula 1”, penso eu... O papel internacional é o de uma capital que atrai as culturas, o que é importante. Trata-se duma grande capital! Não estava à espera de encontrar algo assim.
Pei Ting Wong
Há uma outra questão: Singapura pode aprender com os três países – Papua Nova Guiné, Indonésia e Timor-Leste?
Papa Francisco
Sempre se pode aprender alguma coisa, porque cada pessoa e cada País tem uma riqueza distinta em relação ao outro. Por isso é importante a fraternidade na comunicação. Por exemplo, ao pensar em Timor Leste, uma coisa que eu vi ali foi muitas crianças; em Singapura não vi tantas. Se calhar, é uma coisa a aprender...
Pei Ting Wong
Sim, temos uma taxa de natalidade baixa.
Papa Francisco
Terão medo? Qual é a vossa taxa de natalidade?
Pei Ting Wong
Que eu saiba, é inferior a 1,2%, inferior à do Japão.
Papa Francisco
O futuro são as crianças! Pensai nisto. Obrigado. Ah, mais uma coisa: vós, singapurenses, sois muito simpáticos. Vós sorris...
Matteo Bruni
A segunda pergunta, Sua Santidade, é de Delfim de Oliveira, jornalista da GMN TV em Timor-Leste. Ele colocará a questão em português, mas temos a tradução da sua pergunta.
Delfim de Oliveira, GMN TV (Grupo Média Nacional) de Timor-Leste
Santo Padre, muito obrigado por esta oportunidade. A sua mensagem no final da missa em Taci Tolu é o assunto mais discutido agora em Timor. O senhor utilizou o termo “crocodilos” para chamar a atenção dos timorenses em relação à presença de crocodilos em Timor. O que o Papa queria dizer com isso?
Papa Francisco
Eu utilizei a imagem dos crocodilos que aparecem na praia. Timor Leste tem uma cultura simples, familiar, alegre, tem uma cultura de vida, tem muitas crianças, muitas, e eu, quando falava dos crocodilos, falava das ideias que podem vir de fora para estragar esta harmonia que vós tendes. Digo-vos uma coisa: fiquei apaixonado por Timor-Leste! Outra coisa...
Delfim de Oliveira, GMN TV (Grupo Média Nacional)
O povo timorense, na sua maioria é católico e, neste momento, a presença de seitas é muito forte em Timor. A expressão do Papa: “crocodilos” refere-se também a presença de seitas em Timor?
Papa Francisco
Talvez. Não me pronuncio sobre isso, não posso, mas pode ser. Todas as religiões devem ser respeitadas, porém há que distinguir entre religião e seita. A religião é universal, qualquer religião; a seita é restritiva, é um pequeno grupo que tem sempre outra intenção. Obrigado e parabéns pelo vosso País.
Matteo Bruni
A terceira pergunta é de Francisca Christy Rosana (Tempo Media Group), uma jornalista da Indonésia, que – como sabe – fez anos há alguns dias.
Francisca Christy Rosana (Tempo Media Group)
Obrigada, Papa Francisco! Eu sou a Francisca, de Tempo Magazine. Espero que tenha tido momentos inesquecíveis na Indonésia, porque as pessoas do País, e não só os católicos, estavam à sua espera há muito tempo. As minhas perguntas são as seguintes: apercebemo-nos de que o País ainda está a lutar pela democracia. Qual é a sua impressão e qual é a sua mensagem para nós? E a última pergunta: a Papua e a Indonésia têm por vezes o mesmo problema que a Papua Nova Guiné: os investimentos na exploração mineira estão reservados aos oligarcas e, entretanto, os habitantes locais e os nativos não usufruem dos benefícios desta atividade. O que é que pensa e o que se pode fazer? Obrigado, Papa Francisco!
Papa Francisco
Trata-se de um problema, diria eu, comum às nações em vias de desenvolvimento. Por isso, é importante o que diz a doutrina social da Igreja: que deve haver comunicação entre os diferentes sectores da sociedade. A senhora disse que a Indonésia é um País em vias de desenvolvimento, e talvez uma das coisas que precisa de ser desenvolvida seja precisamente esta: a relação social. Mas fiquei contente com a visita ao seu País. Excelente, muito bonito!
Matteo Bruni
Sua Santidade, a imprensa da Papua-Nova Guiné seguiu a sua viagem com grande interesse, mas infelizmente não foi possível ter um jornalista a bordo deste voo. Por isso, gostaria de aproveitar a oportunidade para lhe perguntar se há alguma coisa que gostaria de nos dizer sobre a Papua Nova Guiné e em particular sobre Vanimo, um lugar onde, penso, quis ir pessoalmente.
Papa Francisco
Gostei do País, vi-o em forte desenvolvimento. Depois quis ir a Vanimo para encontrar um grupo de padres e religiosas argentinos que lá trabalham, e encontrei uma organização muito bonita! Em todos os Países a arte está muito desenvolvida: danças, outras expressões poéticas... Mas na Papua-Nova Guiné é impressionante, e em Vanimo o desenvolvimento da arte é incrível. Isso tocou-me muito. Os missionários que visitei estão na floresta, vão para a floresta trabalhar. Gostei de Vanimo, e do País também. Obrigado.
Matteo Bruni
Obrigado, Santidade. A próxima pergunta vem de Stefania Falasca, que também escreve para um site na China (Tianou Zhiku).
Stefania Falasca (Tianou Zhiku)
Boa tarde, Santo Padre. Infelizmente não falo chinês! Saímos de Singapura, um País com uma população maioritariamente chinesa, e um modelo de coexistência harmoniosa e pacífica. E, a propósito da paz, gostaria de saber o que pensa, dada a proximidade também com a China continental, dos esforços feitos por esta para conseguir um cessar-fogo nas regiões em conflito, como a Faixa de Gaza. Em julho, foi assinada em Pequim a “Declaração de Pequim” para pôr fim às divisões entre os palestinos. E depois, pergunto se há espaço para uma cooperação entre a China e a Santa Sé, tendo em vista o tema da paz. Uma última coisa: estamos a aproximar-nos da renovação do acordo China-Santa Sé sobre a nomeação dos bispos; até este momento, sente-se ou não satisfeito com os resultados do diálogo?
Papa Francisco
Vou pegar na última questão: estou contente com o diálogo com a China, o resultado é bom. Mesmo no que diz respeito à nomeação dos bispos, trabalha-se com boa vontade. Tive notícias da Secretaria de Estado sobre como as coisas estão a correr e estou contente. A outra coisa é a China: a China para mim é uma ilusión [um desejo], no sentido de que eu gostaria de a visitar, porque é um grande País. Admiro a China, respeito a China. É um País com uma cultura milenar, com capacidade de diálogo, de compreensão entre si que transcende os diferentes sistemas de governo que teve. Penso que a China é uma promessa e uma esperança para a Igreja. A colaboração pode ser feita e, certamente, em relação aos conflitos. Neste momento, o Cardeal Zuppi está a agir nessa linha e também mantém relações com a China.
Matteo Bruni
Obrigado, Santidade. A próxima pergunta é de Anna Matranga (CBS News), que já conhece.
Anna Matranga (CBS News)
Boa tarde, Santidade. O Senhor pronunciou-se várias vezes em defesa da dignidade da vida. Em Timor-Leste, um país com uma taxa de natalidade muito elevada, disse que sentiu a vida a pulsar e a explodir por causa de tantas crianças. Em Singapura, falou em defesa dos trabalhadores migrantes. Tendo em conta as próximas eleições nos Estados Unidos, gostaria de lhe perguntar: que conselho pode dar a um eleitor católico que tem de decidir entre um candidato que é a favor da interrupção da gravidez e um outro que gostaria de deportar 11 milhões de migrantes?
Papa Francisco
Ambos são contra a vida, tanto o que expulsa os migrantes como o que mata os bebês. Ambos são contra a vida. Não há como decidir, não posso dizer. Não sou norte-americano nem vou votar lá, mas sejamos claros: expulsar os migrantes, não lhes dar a possibilidade de trabalhar nem acolhimento é um pecado, é grave. No Antigo Testamento, há um refrão: o órfão, a viúva e o estrangeiro, ou seja, o migrante. São os três que o povo de Israel deve proteger. Quem não protege o migrante, erra. É um pecado, um pecado também contra a vida daquele povo. Celebrei Missa na fronteira, perto da Diocese de El Paso, e havia ali tantos sapatos de migrantes que acabaram mal. Hoje há um fluxo de migrantes na América Central que, muitas vezes, são tratados como escravos, porque se aproveitam desta situação. A migração é um direito, um direito que já existia na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. O estrangeiro, o órfão e a viúva: não se deve esquecer isto. É o que eu penso dos migrantes. Depois, o aborto. A ciência diz que, um mês depois da concepção, existem todos os órgãos de um ser humano. Todos! Fazer um aborto é matar um ser humano. Goste-se ou não da palavra, é matar. Tal e qual. A Igreja não é fechada porque não permite o aborto: a Igreja não permite o aborto porque isso significa matar: é um assassínio. E sobre isto temos que ter ideias claras. Banir os migrantes, não os deixar desenvolver nem ter a sua vida é mau, é uma maldade. Banir um bebê do seio materno é assassinato, porque ali existe vida. E nestas coisas temos de falar claramente. “Mas...”. Nada de “mas”. As duas coisas são claras. O órfão, o estrangeiro e a viúva: não esquecer isto.
Anna Matranga (CBS News)
Podem haver circunstâncias nas quais seja moralmente admissível a um católico votar num candidato que seja favorável à interrupção da vida?
Papa Francisco
Na moral política, em geral, se diz que não votar é ruim, não é bom: se deve votar. E se deve escolher o mal menor. Quem é o mal menor, aquela Senhora o aquele Senhor? Não sei, cada um em consciência pense e faça-o.
Matteo Bruni
Obrigado, Santidade. A próxima pergunta é de Mimmo Muolo, do “Avvenire”.
Mimmo Muolo, Avvenire
Boa noite, Santidade, e obrigado por esses dias. Em nome dos jornalistas italianos, gostaria de lhe perguntar: há o perigo de o conflito em Gaza se espalhar para a Cisjordânia e houve uma explosão há algumas horas que matou 18 pessoas, incluindo alguns funcionários da ONU. Quais são seus sentimentos neste momento? E o que você gostaria de dizer às partes em conflito? Existe alguma possibilidade de mediação da Santa Sé para conseguir um cessar-fogo e a tão esperada paz? Obrigado.
Papa Francisco
A Santa Sé está trabalhando nesse sentido. Vou lhe dizer uma coisa: todos os dias ligo para a paróquia de Gaza. Lá, na paróquia e no colégio, há 600 pessoas: cristãos e muçulmanos, mas eles vivem como irmãos. Eles me contam coisas ruins, coisas difíceis. Não posso determinar se essa guerra é muito sanguinária ou não, mas, por favor, quando se vê os corpos de crianças mortas, quando se vê que, supondo que alguns guerrilheiros estejam ali, se bombardeia uma escola: isso é ruim, isso é ruim! Às vezes, se diz que é uma guerra defensiva ou não, mas às vezes acho que é uma guerra excessiva, excessiva... E - lamento dizer isso - mas não acho que estejam sendo feitos passos para fazer a paz. Por exemplo, em Verona, tive uma experiência muito bonita: um judeu, cuja esposa havia morrido num bombardeio, e um de Gaza, cuja filha havia morrido, ambos falaram de paz, se abraçaram e deram um testemunho de fraternidade. Digo: a fraternidade é mais importante do que o assassinato de um irmão. Fraternidade, dar a mão. No final, aquele que vencer a guerra encontrará uma grande derrota. A guerra é sempre uma derrota, sempre, sem exceção. E não podemos nos esquecer disso. É por isso que tudo o que é feito pela paz é importante. E também quero dizer uma coisa - isso é um pouco de intromissão na política, mas quero dizer -: agradeço muito, muito, pelo que o rei da Jordânia está fazendo. Ele é um homem de paz e está tentando fazer a paz, o rei Abdallah é um homem muito bom.
Matteo Bruni.
A próxima pergunta é da Lisa Weiss, da “TV alemã ARD”.
Lisa Weiss, ARD
Santo Padre, obrigado por esses dias. Durante essa viagem, o senhor falou muito abertamente, de maneira muito direta, sobre os problemas de cada país, não apenas sobre suas belezas. E justamente por isso nos perguntamos por que o senhor não falou sobre o problema da pena de morte que ainda existe em Singapura.
Papa Francisco
É verdade, sim, isso não me veio em mente. Mas a pena de morte não convém: lentamente temos que tentar eliminá-la, lentamente. Muitos países têm a lei, mas não seguem a sentença. Nos Estados Unidos, a situação é a mesma em alguns estados. Mas a pena de morte tem de ser interrompida. Ela não convém, não convém.
Matteo Bruni
A próxima pergunta é de Simon Leplâtre do “Le Monde”.
Simon Leplâtre, Le Monde
Santo Padre, antes de mais nada, muito obrigado por essa viagem fascinante. No Timor Leste, o senhor falou sobre as jovens vítimas de abuso sexual. Naturalmente, me veio à mente o bispo Belo. Na França, temos um caso semelhante, o do Abbé Pierre, fundador da instituição de caridade Emmaus, por muitos anos eleito como a personalidade preferida dos franceses. Em ambos os casos, o carisma dessas duas pessoas tornou muito mais difícil acreditar no que aconteceu. Gostaria de lhe perguntar: o que o Vaticano sabia sobre o Abbé Pierre, e o que você poderia dizer a todas as pessoas que acham difícil acreditar que uma pessoa que fez tanto bem também poderia ter cometido crimes? Falando da França, eu gostaria de saber: Você estará em Paris na ocasião da reabertura da Catedral de Notre-Dame? Muito obrigado.
Papa Francisco
Respondo primeiro à última: não irei a Paris. Agora, a primeira. Você tocou num ponto muito sensível, muito delicado. Pessoas boas, pessoas que fazem o bem - você mencionou o Abbé Pierre - e que depois, com tanto bem que ele fez, se vê que essa pessoa é um grande pecador. E essa é a nossa condição humana. Não devemos dizer “vamos cobrir, vamos cobrir, para que isso não seja visto”. Os pecados públicos são públicos e devem ser condenados. Por exemplo, o Abbé Pierre é um homem que fez muito bem, mas também é um pecador. E devemos falar claramente sobre essas coisas, não escondê-las. Trabalhar contra o abuso é algo que todos nós temos que fazer: mas não apenas contra o abuso sexual, contra todos os tipos de abuso: abuso social, abuso educacional, mudar a mentalidade das pessoas, tirar sua liberdade... O abuso é, na minha opinião, uma coisa demoníaca, porque todos os tipos de abuso destroem a dignidade da pessoa, todos os tipos de abuso tentam destruir o que todos nós somos: a imagem de Deus. Fico contente quando esses casos vêm à tona. E vou lhes dizer uma coisa, que talvez eu tenha dito em outra ocasião: há cinco anos, tivemos uma reunião com os presidentes das conferências episcopais sobre casos de abusos sexuais e de outros tipos, e tivemos uma estatística muito bem feita, acho que das Nações Unidas. Entre 42% e 46% dos abusos ocorrem na família ou na vizinhança... [interrupção] Para terminar: o abuso sexual de crianças, de menores é um crime, é uma vergonha.
Matteo Bruni
Talvez, devido às instruções do capitão da aeronave, devêssemos nos sentar por um momento. Se o senhor quiser retomar, podemos nos sentar aqui. Nesse meio tempo, talvez possamos fazer outra pergunta de Elisabetta Piqué, do jornal La Naciòn, que o senhor conhece bem.
Elisabetta Piqué, La Naciòn
Em primeiro lugar, obrigado por essa bela viagem aos confins do mundo: foi a mais longa do Pontificado. E por falar em viagens longas, durante toda essa viagem, muitos colegas me perguntaram: “Mas nós vamos para a Argentina?”. O senhor disse muitas vezes que talvez no final do ano... Essa é a primeira pergunta: se vamos à Argentina ou não. E a segunda, sobre a Venezuela: como o Senhor sabe, há uma situação dramática; nos dias em que o Senhor esteve em viagem, o presidente teoricamente eleito teve que se exilar na Espanha. Que mensagem o senhor daria ao povo da Venezuela? Muito obrigado.
Papa Francisco
Não acompanhei a situação da Venezuela, mas a mensagem que eu daria aos governantes é que dialoguem e façam as pazes. As ditaduras não servem para nada e acabam mal, mais cedo ou mais. Leiam a história da Igreja. Eu diria que o governo e o povo estão fazendo de tudo para encontrar um caminho de paz para a Venezuela. Não posso dar uma opinião política porque não conheço os detalhes. Sei que os bispos falaram e que a mensagem dos bispos deve ser melhor. Além disso, o fato de eu ir à Argentina é algo que ainda não foi decidido. Eu gostaria de ir, é o meu povo, eu gostaria de ir; mas ainda não está decidido, porque há várias coisas a serem resolvidas primeiro. É tudo?
Elisabetta Piqué, La Naciòn
Sobre o grupo espanhol: caso fosse, poderia fazer uma escala nas Canárias?
Papa Francisco
Você leu minha mente. Eu penso um pouco sobre isso: ir para as Ilhas Canárias, porque há situações dos migrantes que vêm do mar para lá, e eu gostaria de estar perto dos governantes e do povo das Canárias. É isso.
Matteo Bruni
Sua Santidade, talvez possamos fazer uma última pergunta antes do almoço, feita por um jornalista indonésio, Bonifasius Josie Susilo Hardianto, do Kompas.Id
Bonifasius Josie Susilo Hardianto, Kompas.Id
Obrigado, Santo Padre. Alguns países estão se retirando do compromisso assumido no Acordo de Paris devido às dificuldades econômicas, especialmente após a pandemia. Muitos países estão hesitando em fazer a transição para uma energia limpa e menos baseada em combustíveis fósseis. Qual é a sua opinião sobre isso?
Papa Francisco
Acho que o problema climático é sério, muito sério. Desde Paris, que foi o ápice, as reuniões sobre o clima estão em declínio. Fala-se, mas não se age. Essa é a minha impressão. Falei sobre isso em meus dois escritos, Laudato si' e Laudate Deum.
Matteo Bruni
Nesse meio tempo, agradecemos, Santidade...
Papa Francisco
Obrigado. Obrigado a vocês. E vamos lá, vamos lá. Espero que eles nos deem de comer agora!...
Não, uma coisa que eu não respondi...
Matteo Bruni
Para completar a resposta a Simon Leplâtre:
Papa Francisco
O que o Vaticano sabia sobre o Abbé Pierre. Quando o Vaticano ficou sabendo, eu não sei. Não sei porque eu não estava aqui e nunca tive a ideia de pesquisar isso. Mas certamente depois de sua morte, com certeza; antes, eu não sei.
Matteo Bruni
Obrigado novamente, Santidade, por esse esclarecimento. Bom fim de viagem.
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