MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
POR OCASIÃO DO INÍCIO
DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE NO BRASIL 1993
Amadíssimos Irmãos e Irmãs do Brasil!
Como venho fazendo todos os anos, a convite da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na Quarta-Feira de Cinzas dou por iniciada a Campanha da Fraternidade com uma mensagem quaresmal, que se destina a transmitir-vos aquilo que vai pelo coração do Papa, e para caminhar no sentido indicado por Cristo Nosso Senhor que, com a sua morte e ressurreição, nos deu a Vida e no-la deu em abundância.
A Quaresma é, como todos sabem, tempo de penitência e de renovação interior para nos preparar para a Páscoa do Senhor, procurando ouvir a voz do Alto, que chega a cada um, na intimidade do coração: Convertei-vos. Voltai-vos para mim de todo o coração (cf. Gl 2, 12). .
Hoje a Igreja, com o lançamento desta Campanha que, com razão, é dita da Fraternidade, nos quer propor o tema “ Onde moras? ”, para indicar uma das exigências essenciais do homem, enquanto peregrina sobre a terra, de possuir os meios necessários para ter uma vida digna de filhos de Deus.
Deste modo, ela nos convida a não nos esquecer que a nossa fé intima-nos a nunca eludir o compromisso pessoal de sair em defesa da justiça, particularmente no âmbito dos direitos fundamentais da pessoa. Cumpre-nos defender o direito, que todos têm, de viver, de possuir o necessário para desenvolver uma existência digna, de trabalhar e descansar, de formar um lar, de passar serenamente o tempo da doença ou da velhice, mas sobretudo de conhecer e de amar a Deus.
Quando alguns dos discípulos encontram a Jesus pela primeira vez, eles perguntam espontaneamente: “ Mestre, onde moras? ”. E o Senhor lhes responde: “ Vinde e vede ” (Jo 1, 37-38).
Nós também, que fomos chamados “ familiares de Deus ” (Ef 2, 19), Lhe perguntamos: Onde vives Senhor? Onde estas, para que nós possamos estar junto de Ti, e viver na condição de filhos de Deus, criados à Tua imagem e semelhança? A Igreja – e com ela os seus Pastores – assume a grave responsabilidade de responder, em nome de Deus, vinde e vede! Ela tem o dever inalienável de exigir o respeito da pessoa humana, que tem origem nos direitos derivados da sua dignidade de criatura.
Cristo, o Deus feito Homem, veio à terra para nos redimir, sem se afastar minimamente das condições de vida a que qualquer pessoa se submete neste mundo. A situação do lar de Nazaré, não era distinta à de tanta gente que experimenta a pobreza, o abandono e a privação. Não lhe faltou, porém, o carinho e o desvelo de Nossa Senhora e de São José, que se prodigavam pelo Menino numa vida de doação, de trabalho e de alegria, para que nada Lhe faltasse. E o Senhor certamente hoje no-lo mostraria, tal como o fez aos primeiros discípulos: “ Vinde e vede ”. Ele nos quer mostrar aquele “ lar modelo ” de todos os lares cristãos: o abrigo protetor, o espaço da família, o lugar onde se necessita projetar a própria intimidade. O ser humano tem necessidade desse lugar, que não é apenas físico, mas também afetivo, integrador e educativo. A moradia é direito pessoal e familiar. É também importante fator de estabilidade social.
“Se me invocardes, Eu vos escutarei”. Vamos pedir a Deus, para que sejam encontradas as soluções destinadas a resolver o problema da moradia no Brasil. Que ao apelo de cada brasileiro, corresponda uma resposta cheia de solidariedade, de justiça e de caridade. Que todos possam responder com paz e alegria à pergunta, onde vives?: Vinde e vede!
E que Deus vos abençoe e vos proteja, em união com nossa Senhora Aparecida e com o glorioso São José!
Quarta-feira de Cinzas, 24 de Fevereiro de 1993
PAPA JOÃO PAULO II
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