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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS
[25 DE JANEIRO - 1º DE FEVEREIRO DE 1979]

DISCURSO DO SANTO PADRE
ÀS RELIGIOSAS DE CLAUSURA

Catedral de Guadalajara
Terça-feira, 30 de Janeiro de 1979

Queridas Religiosas de clausura

Nesta Catedral de Guadalajara desejo saudar-vos com as belas e expressivas palavras que todos repetimos com frequência na assembleia litúrgica: "O Senhor esteja convosco" (Missal Romano). Sim, que o Senhor, a Quem consagrastes toda a vossa vida, esteja sempre convosco.

Como poderia faltar, durante a visita ao México, uni encontro do Papa com as Religiosas contemplativas? Entre todas as pessoas que eu desejava ver, vós ocupais um lugar especial, pela vossa particular consagração ao Senhor e à Igreja. Por este motivo, o Papa também deseja estar junto de vós, Este encontro propõe-se ser a continuação daquele que tive com as outras Religiosas mexicanas; muitas das coisas que lhes disse eram também para vós, mas agora desejo referir-me àquilo que é mais especificamente vosso.

Quantas vezes o Magistério da Igreja demonstrou a sua grande estima e apreço pela vossa vida dedicada à oração, ao silêncio e a um modo singular de entrega a Deus! Nestes momentos de tantas transformações em tudo, este género de vida continua a ter significado ou é algo já superado?

O Papa diz-vos: Sim, a vossa vida tem agora mais importância do que nunca; a vossa consagração total tem plena actualidade. Num mundo que vai perdendo o sentido do divino, perante a supervalorização do material, vós, queridas Religiosas, comprometidas, nos vossos claustros, em serdes testemunhas dos valores pelos quais viveis, sede testemunhas do Senhor para o mundo de hoje, infundi, com a vossa oração, um novo sopro de vida na Igreja e no homem actual. de modo especial na vida contemplativa que se trata de realizar uma unidade difícil: manifestar perante o mundo o mistério da Igreja no mundo presente e saborear já aqui, ensinando isso mesmo aos homens, como diz São Paulo, as coisas que são do alto (Col. 3. 1).

Ser contemplativa não supõe cortar radicalmente com o mundo, com o apostolado. A contemplativa deve encontrar o seu modo especifico de dilatar o Reino de Deus, de colaborar na edificação da cidade terrena, não só com as suas orações e os seus sacrifícios, mas também com o seu testemunho, silencioso, sim, mas que possa ser compreendido pelos homens de boa vontade com os quais estiver em contacto.

Para isso, deveis encontrar o vosso estilo próprio, que, dentro de unia visão contemplativa, vos faça compartilhar com os vossos irmãos o dom gratuito de Deus.

A vossa vida consagrada parte da consagração baptismal e expressa com maior plenitude. Mediante uma resposta livre ao chamamento do Espírito Santo, decidistes seguir a Cristo, consagrando-vos totalmente a Ele. "Esta consagração sera tanto mais perfeita — diz o Concilio — quanto melhor . representar; como vínculos mais firmes e estáveis, a união indissolúvel de Cristo com a Igreja" (Lumen Gentium, 44).

Vós, Religiosas contemplativas, sentis uma atracção que vos impele para o Senhor. Apoiadas em Deus, abandonais-vos a Sua acção paterna que vos eleva até Ele e vos transforma n'Ele, ao mesmo tempo que vos prepara para a contemplação eterna, a qual constitui a última meta para todos nós. Como poderíeis avançar ao longo deste caminho e ser fiéis à graça que vos anima, se não respondêsseis com todo o vosso ser, por meio de um dinamismo cujo impulso é o amor, a este chamamento que vos orienta de modo permanente para Deus? Considerai, pois, qualquer outra actividade como testemunho, oferecido ao Senhor, da vossa comunhão íntima com Ele, a fim de que vos conceda aquela pureza de intenção que tão necessária é para O encontrar na mesma oração. Deste modo contribuireis para a dilatação do Reino de Deus, com o testemunho da vossa vida e com "uma misteriosa fecundidade apostólica" (Perfectae caritatis, 7).

Reunidas em nome de Cristo, as vossas Comunidades tem como centro a Eucaristia, "sacramento de amor, sinal de unidade, vínculo de caridade" (Sacrosanctum Concilium, 47).

Pela Eucaristia, também o mundo está presente no Centro da vossa vida de oração e de doação como explicou o Concilio. "Nem se julgue que os Religiosos, pela sua consagração, se alheiam dos homens ou se tornam inúteis à sociedade terrestre. Pois, embora algumas vezes não se ocupem directamente dos seus contemporâneos, têm-nos presentes de modo mais profundo nas entranhas de Cristo e colaboram espiritualmente com eles a fim de que a edificação da cidade terrena se alicerce sempre no Senhor e para Ele se oriente, não aconteça trabalharem em vão os que a edificam" (Lumen Gentium, 46).

"Contemplando-vos com a ternura do Senhor, quando chamava aos seus discípulos pequeno rebanho (Cfr. Lc. 12, 32), e lhes anunciava que tinha sido do agrado do seu Pai dar-lhes o Reino, eu vos suplico: conservai a simplicidade dos 'mais pequeninos' do Evangelho. Esforçai-vos por encontrá-la numa relação interior e muito cordial com Cristo, ou nos contactos directos com os vossos irmãos. Conhecereis, então, o alvoroço da alegria pela acção do Espírito Santo, próprio daqueles que são introduzidos nos segredos do Reino" (Cfr. Perfectae caritatis, 15).

Oxalá que a Mãe muito amada do Senhor, que no México invocais com o suave nome de Nossa Senhora de Guadalupe e sob cujo exemplo consagrastes a vossa vida a Deus, vos alcance, no vosso peregrinar quotidiano, aquela alegria inalterável que só Jesus pode dar.

Com uma grande saudação de paz, que não se confina a vós, aqui presentes, mas se estende invisivelmente a todas as vossas irmãs contemplativas do México, recebei, de todo o coração, a minha Bênção Apostólica.

 



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