DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
NO ENCONTRO COM OS DOENTES
E OS ANCIÃOS DO GABÃO
Residência Episcopal de Libreville
Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 1982
Devo dirigir-me às categorias de pessoas que estão presentes nesta casa: a primeira categoria, sois vós, porque vos vejo neste momento. Fostes apresentados pelo Arcebispo. Vejo convosco as comunidades de sacerdotes, de religiosos e religiosas; vejo convosco a família do Gabão, a família africana que tem conservado por toda a parte este profundo valor. Vejo em vós a sequência das gerações: anciãos, velhos, adultos, depois os pais, os jovens e também... os pequeninos entre os braços dos seus pais. Dou-vos então a minha bênção. E quero acrescentar uma palavra para esta segunda comunidade que se encontra nesta casa: são os doentes. São talvez os vossos vizinhos, quem sabe membros da vossa família; em todo o caso estão aqui, assistidos pelas religiosas, pelos religiosos e sacerdotes, e pelo Arcebispo. Passei entre eles e encontrei-me com um que mostrou um bilhete: neste bilhete está escrito: "Sou cego. Não vos vejo com os meus olhos, mas sim com o coração". Fiquei comovido com estas palavras e digo: meu caro irmão cego, deste-me uma profunda lição de Evangelho, porque é assim; nós vemos a Nosso Senhor com a nossa fé, com o nosso coração, e o próprio Senhor nos disse que o coração puro vê a Deus na sua divindade e, sobretudo, vê a Deus no seu próximo, vê a Deus no mundo, embora seja cego.
Que posso desejar-vos neste encontro, sobretudo a vós, meus caros doentes, cegos e outros que sofrem de qualquer enfermidade? Desejo-vos precisamente o que, nesta tarde, o meu irmão cego expressou no seu bilhete: desejo que possais ver com o coração o vosso próximo, os vossos irmãos e irmãs, aqueles que sofrem e também os que se encontram juntos para ver com o mesmo coração, com o coração puro, com o coração da fé, para ver a Jesus, para ver a Deus. E quem pode ver a Deus com o seu coração, com os olhos interiores da fé, é feliz embora seja cego e também enfermo.
Meus caros irmãos e irmãs, o Arcebispo salientou ainda que é preciso rezar pelas vocações. Por toda a parte vejo este problema. Direi que vejo acima de tudo o problema das vocações. É o problema urgente da vossa Igreja. Por isso, deveis rezar pelas vocações, todos vós: famílias, sacerdotes, religiosos, religiosas, bispos e sobretudo vós doentes, porque rezais também sem dizer orações. Rezais com os vossos sofrimentos e a vossa oração tem grande força. Esta oração pode impetrar-vos também coisas difíceis, bens espirituais; as vocações sacerdotais-religiosas são um tal bem, principalmente nas sociedades fracas na sua vida externa, na vida do sucesso e do permissivismo. Rezai então, pedi por isto.
A vós, meus caros doentes, deixo o meu coração, para que o coração de um Bispo, do Bispo de Roma, possa sempre ser crente, profundamente crente, e continue a levar a fé a todos os seus irmãos, para os confirmar na fé como Jesus dizia uma vez a São Pedro.
Rezai por vós, pela Igreja e pelo mundo: rezai com as vossas palavras e com os vossos sofrimentos. Recebei a minha bênção e também a dos vossos Bispos.
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