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VISITA PASTORAL AO MOSTEIRO DE FONTE AVELLANA (ITÁLIA)
5 DE SETEMBRO DE 1982

 DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
NO ENCONTRO COM OS MONGES CAMALDULENSES

Domingo, 5 de Setembro de 1982

 

Caríssimos Irmãos no Senhor!

1. Eis-nos reunidos no encontro reservado para vós! Sou grato ao Abade Prior pelas amáveis expressões a mim dirigidas e sinto-me sumamente alegre de renovar a cada um de vós a saudação que vos apresentei na Homilia. Exprimo-vos além disso o meu vivo regozijo pela vossa vida de oração e de estudo e, em particular, pelo trabalho que realizais para o bem da Igreja.

Estendo a minha saudação às representantes das Monjas camaldulenses, cuja presença neste encontro me faz recordar todas as Religiosas claustrais espalhadas no mundo, às quais, também nesta circunstância, desejo assegurar a minha estima e o meu apreço pela sua vida de oração e de sacrifício, e pelo quotidiano empenho de alegre e generosa doação às exigências radicais da mensagem evangélica.

Esta minha visita à Fonte Avellana permanecerá indelével no meu espírito e, ao assegurar-vos a lembrança nas minhas orações, estou certo de que voltarei a sentir saudades destes lugares místicos, onde, "imerso nos pensamentos contemplativos" (Dante, Paraíso, XXI, 117), São Pedro Damião passou vários anos da sua vida. E o meu augúrio é que Fonte Avellana possa retomar novo e férvido impulso, como centro de formação e de espiritualidade, como farol de fé e de certeza, como casa sóbria e acolhedora para quem deseja encontrar-se com Cristo e subir ao cimo da verdade e da graça.

2. A primeira reflexão que brota do meu ânimo é o convite a valorizar o mais possível o silêncio e a contemplação. Neste lugar, tal consideração é quase deduzida: todavia é muito útil, até mesmo necessária, especialmente hoje, no ritmo sempre mais acelerado dos acontecimentos, na frenética imposição da implacável contextura dos compromissos e dos programas. Fonte Avellana reafirma o valor essencial da vida interior, da união com Deus, da reflexão sobre as verdades eternas, do silêncio também exterior. O Concílio Vaticano II fez justamente notar que de modo muito frequente "se manifesta o desequilíbrio entre a preocupação de eficácia concreta e as exigências de consciência moral, e muitas vezes entre as condições colectivas da existência e as exigências de um pensamento pessoal e também de contemplação" (Gaudium et Spes, 8).

Por isso é necessário criar áreas e oásis de "oração", determinar cada dia um tempo específico para a oração, a fim de não sermos influenciados ou arrastados pelo clima de luta, de desordem e de pecado que agita o mundo. Antes, podemos afirmar que, precisamente na nossa época, se faz sentir de modo mais claro a aspiração do Salmista: "Assim como a corça suspira pelas correntes de água, assim também a minha alma suspira por Vós, ó meu Deus. A minha alma tem sede do Senhor, do Deus vivo. Quando poderei eu chegar, para contemplar a face de Deus?" (Sl 41/42, 2-3). Diz ainda o Concílio: "Deus chamou e chama o homem para que ele, com toda a sua natureza, dê a sua adesão a Deus na comunhão perpétua da incorruptível vida divina" (Gaudium et Spes, 18).

Também no mundo contemporâneo a vida monástica mantém o seu pleno valor e serve de ensinamento e de estímulo à sociedade em geral, e em particular à vida religiosa e sacerdotal, também ela exposta ao perigo da secularização.

3. A segunda reflexão que vos confio provém da mensagem da Cruz, típica de Fonte Avellana. O intuito mesmo da fundação indica a mentalidade dos primeiros eremitas; e a ascética e austera vida levada pelos monges, com penitência e flagelações, jejuns e prolongadas orações, significa o empenho propiciatório e satisfatório da opção deles. Pode dizer-se que a Cruz é o fundamento e a essência da espiritualidade de Fonte Avellana nos primeiros séculos da fundação; e toda a teologia e a ascética de São Pedro Damião estão permeadas da Cruz redentora de Cristo: "Regnavit a ligno Deus!": a realidade salvífica da Paixão e morte de Cruz de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, permanece por todos os séculos. Deus quis redimir a humanidade por meio da Sua Cruz: "Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho, para que todo o que n"Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 16).

Para salvar o mundo e para que nós mesmos sejamos salvos é necessária também a nossa cruz. Especialmente nesta nossa época, caracterizada pela mentalidade do bem-estar e do prazer, são necessários a mensagem e o exemplo da mortificação e do sacrifício, recordando o que diz a Imitação de Cristo: "Tantum proficies, quantum tibi ipsi vim intuleris" (L.I., c. XXV, 11).

4. Caríssimos! Vós bem conheceis o opúsculo de São Pedro Damião intitulado "Dominus vobiscum" (PL 145, 225 ss.), uma pequena obra-prima de teologia e de mística, em que ele expõe a doutrina da unidade da Igreja, baseando-a na oração, no Sacrifício do Altar juntamente com a Comunhão Eucarística, e no ciclo litúrgico. Assim escrevia o Santo: "Licet multiplex videatur Ecclesia propter numerositatem gentium, una tamen et simplex est, unius fidei et divinae regenerationis confoederata Mysterio" (PL 145, 225). A unidade na Igreja Católica e entre as Igrejas cristãs: deve ser esta também a Vossa preocupação quotidiana! Maria Santíssima, que ao longo dos séculos foi tão amada e venerada em Fonte Avellana pelos monges e, de modo particular, por São Pedro Damião, seu apóstolo e seu cantor, vos ilumine e vos inspire a ser também vós testemunhas da unidade, na verdade e na caridade!

Com estes votos, de coração vos concedo a minha Bênção.



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