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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO BRASIL
 DO REGIONAL NORDESTE 2
EM VISITA "AD LIMINA APOSTÓLICA"

Terça-feira, 11 de Julho de 1995

 

Estimados Irmãos no Episcopado

1. E com muito prazer que vos dou as boas-vindas, como Pastores do Regional Nordeste 2, por ocasião da vossa visita “ad Limina”. Agradeço vossa visita, que é visita aos túmulos dos apóstolos. Com alegria quero saudar cada um dos Bispos aqui presentes, em sua qualidade de sucessores dos apóstolos que “estão obrigados, por instituição e preceito de Cristo, à solicitude sobre toda a Igreja” (Lumen Gentium, 23). Por vosso intermédio, posso também dirigir-me aos queridos sacerdotes, religiosos e leigos das Províncias eclesiásticas de Maceió, Natal, Paraíba, Olinda e Recife, com o fim de assegurar a minha proximidade espiritual e o meu afeto: “Que o Deus da constância e da consolação vos conceda que tenhais uns para com os outros os mesmos sentimentos segundo Jesus Cristo, para que, com um só coração e uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”(Rm 15, 5-6). Agradeço de coração as palavras que Dom Edvaldo Gonçalves Amaral quis dirigir-me: nelas vejo refletidos vossos sentimentos de afeto e de união com o Vigário de Cristo. De novo, muito obrigado!

2. Graças ao Espírito que “santifica e governa todo o corpo da Igreja”, vejo-vos como “Mestres da perfeição” em cada uma das vossas Igrejas particulares, aplicando-vos a “promover a santidade de seus clérigos, religiosos e leigos, segundo a vocação peculiar de cada um” (Christus Dominus, 15).

Os senhores trazem para o encontro com o Papa vossa rica experiência, “relatando tudo o que Deus fez junto com cada um” (cf. At 15, 4) em seu pastoreio. Este nosso encontro, além de dar testemunho da vitalidade de cada Igreja particular, dos desafios a serem enfrentados e das dificuldades na ação pastoral, acontece num momento significativo. De fato, ainda permanece viva em nossa memória o IX Sínodo dos Bispos, subordinado ao tema “A Vida Consagrada e sua Função na Igreja e no Mundo”. Todos vós certamente lembrar-vos-eis da Mensagem Final dos padres sinodais, para que a vida consagrada continue manifestando-se como “presença viva do Espírito... espaço privilegiado de amor absoluto a Deus e ao próximo, testemunho do projeto divino de fazer de toda a humanidade, dentro da civilização do amor, a grande família dos filhos de Deus”. É pois minha intenção apropriar-me destes auspícios, para refletir convosco alguns dos aspectos mais importantes deste dom que a Vida Consagrada constitui para a Igreja.

3. Antes de mais, é digno de ser mencionado o marco representado pela presença no Sínodo de Bispos e Superiores de Congregações religiosas, masculinas e femininas, de todos os Continentes, a expressar seu apreço para com a Vida Consagrada, dom singular do amor de Deus à sua Igreja. Afloraram ali não poucas preocupações diante dos tempos atuais com seu secularismo, com sua fé tantas vezes enfraquecida, e, às vezes, de uma busca de maior clareza quanto à identidade da Vida Consagrada.

Por outro lado, pude constatar em muitos dos participantes a experiência comovedora dos percalços sofridos, e que continuam sofrendo, devida à opressão e toda forma de violência com seus atrozes sofrimentos psíquicos e físicos, até mesmo com a doação da própria vida de inúmeros coirmãos. Como não lembrar então aquela experiência dos apóstolos que, ao saírem do Sinédrio e do cárcere, “se regozijavam por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo Nome (de Jesus)” (At 5, 41)? Possa este testemunho servir de estímulo para os países que não conheceram perseguição e onde não raro, mesmo entre muitos consagrados, a alegria e o vigor da fé, sob muitos aspectos, correm o risco de definhar.

Não há dúvida que o Sínodo enviou a toda a Igreja uma mensagem de otimismo e de confiança. Eu mesmo tive a ocasião de comprová-lo na solene concelebração eucarística quando do encerramento daquela Assembléia sinodal. A lembrança dos Fundadores e Fundadoras de Congregações religiosas do passado, dos séculos mais recentes e do presente, muitos deles elevados à glória dos altares, atestam a perene vitalidade da Igreja Católica, e nos certificam a presença inefável do Espírito do Senhor a fecundar continuamente os caminhos da redenção humana. “Que seria o mundo, antigo e moderno, sem estas figuras –  e aquelas de tantos outros? Eles aprenderam de Cristo que "o seu jugo é suave e o seu peso leve" – e ensinaram-no aos outros”(cf. Mt 11, 30) (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVII/2 [1994] 572).

Precisamente por isto é que, com o espírito de quem se alegra com os que estão alegres (cf. Rm 12, 15), desejo convidar-vos a vós, e convosco toda a Igreja no Brasil, a repensar com viva esperança nas perspectivas que nos foram abertas, e a empreender as iniciativas para renovar em vosso país tão incalculável dom de Deus, como é o da Vida Consagrada.

4. Para robustecer a Igreja de seu Filho, o Pai chama alguns de entre os fiéis, para participarem mais de perto da santidade e da missão salvadora de Cristo. Os que abraçam a Vida Consagrada, atraídos por Jesus Cristo, procuram responder a esse singular chamamento do Pai eterno. Por seus votos, recebidos e confirmados pela Igreja, ligam-se mais intimamente a Jesus, e por seu testemunho querem atrair seus irmãos para que adiram mais facilmente à pessoa de Jesus e vivam a alegria do Evangelho. Nosso Venerável predecessor, Papa Paulo VI, dizia que a castidade consagrada testemunha “o amor preferencial para com o Senhor e simboliza, de maneira mais eminente e absoluta, o mistério da união de Corpo Místico com a sua Cabeça, da Esposa (a Igreja) com o seu eterno Esposo”(cf. Evangelica Testificatio, 13); desta forma, por uma entrega total e incondicional do seu coração e do seu ser, os religiosos revelam que Cristo, amado por eles sobre todas as coisas, é o eterno Esposo da Igreja, o único capaz de dar significado absoluto ao amor e ao afeto. Pela pobreza, livremente assumida, testemunha sua amorosa solidariedade com os pobres e deserdados; mas, antes de ser uma condição de vida, é opção de fé. Jesus foi o autêntico modelo do pobre, porque entregou de maneira radical a sua vida nas mãos do Pai. Só assim a sua pobreza se tornou um espaço desimpedido, no qual Deus pôde agir livremente. Opção por amor, a pobreza torna-se um sinal muito apreciado pelos “nossos contemporâneos, que interrogam os Religiosos com particular insistência” (Evangelica Testificatio, 16). Enfim, a obediência é sinal de renúncia aos projetos individuais; é liberdade para aderir a Cristo na busca exclusiva dos interesses que dizem respeito às obras do Pai (cf. Jo 10, 25), e sobretudo, é “entrar nos planos do Pai e capacidade de cumpri-los. Aceitando morrer ao próprio arbítrio, participa-se dos horizontes da mesma liberdade de Deus... Quem faz seus os interesses de Cristo tem necessariamente de se entregar, o mais possível, pela instauração do seu Reino. Neste contexto, uma obediência que significasse passividade ou falta de responsabilidade seria simplesmente um contra-senso”(cf. Instrumentum laboris, 54).

A Igreja que recebe os votos, ou a promessa da virgindade, vê na consagração algo que pertence à sua íntima natureza. Podem mudar as formas externas. Mas a Igreja, Esposa do Verbo divino, jamais pode deixar de cultivar em si a radicalidade da fé e do amor que se expressam na consagração. Pela vivência dos Religiosos e outros consagrados, a Igreja é diante do mundo, mais claramente sinal e certeza da futura bem-aventurança e da vitória sobre todas as formas de engano e escravidão.

5. Por outro lado, a oportunidade daquele encontro sinodal ajuda-nos a evocar também o transcendental significado da liturgia da ordenação episcopal. O texto sagrado, após a solene invocação do Espírito Santo, exorta o candidato a respeito de seus futuros deveres pastorais. E então a liturgia indica a fonte de onde vem a autoridade dos apóstolos, a fortaleza dos mártires, a fidelidade dos santos: tudo provém do Pai eterno! Assim conclui o texto citado: “em nome do Pai, de quem és imagem entre os fiéis; em nome do Filho, cuja missão de mestre, sacerdote e pastor exerces; e em nome do Espírito Santo que dá vida à Igreja de Cristo e fortalece nossa fraqueza”.

Com Jesus, e como Jesus, o Bispo deve ser imagem do Pai, no meio dos fiéis; ele, certamente, saberá sempre respeitar os assuntos internos de cada Congregação religiosa naquilo que é da competência dos Superiores Maiores ou naquilo que, pela isenção, está diretamente sob a vigilância do Papa. No entanto, o Bispo é, por ordem divina o pai espiritual de todo o Povo de Deus. “Mestres da perfeição, os Bispos apliquem-se a promover a santidade de seus clérigos, religiosos e leigos, segundo a vocação peculiar de cada um, lembrando-se da obrigação que têm de dar exemplo de santidade pela caridade, humildade e simplicidade de vida. Santifiquem de tal modo as Igrejas que lhes estão confiadas, que nelas brilhe plenamente o modo de sentir de toda a Igreja de Cristo”(Christus Dominus, 15).

Com estas premissas, é necessário que nos interroguemos, com toda a perspicácia e sentido sobrenatural, como a vocação religiosa deva ser hoje ajudada a tomar consciência de si própria e a amadurecer; como deve “funcionar” a vida religiosa no conjunto da vida da Igreja contemporânea.

Já tive ocasião de mencionar a necessidade de estreitar sempre mais as relações entre as Ordens e Congregações religiosas com o Colégio episcopal, com os Bispos de cada Diocese e com as Conferências Episcopais (cf. Insegnamenti di Giovanni Paolo II, I [1978] 204). Por um lado, “o Bispo que preside a Igreja particular exerça seu regime pastoral sobre (toda) a porção do Povo de Deus a ele confiada... Devem, pois, todos os Bispos promover e guardar a unidade da fé e a disciplina comum a toda a Igreja, instruir os fiéis no amor de todo o Corpo Místico de Cristo” (Lumen Gentium, 23). Por outro lado, os religiosos, onde quer que se encontrem, são com sua vocação, “para a Igreja universal”, através da sua vocação “numa determinada Igreja local”. Por isso, a vocação para a Igreja universal realiza-se no âmbito das estruturas da Igreja local.

Não é esta a doutrina do Concílio Vaticano II? Não foi naquela Magna Assembléia onde se assentou solenemente a doutrina segundo a qual as Igrejas particulares são formadas à imagem da Igreja universal, e “é nelas e por elas que a Igreja católica una e única existe”(Lumen Gentium, 23)? Mas então os Religiosos devem ter uma consciência cada vez mais clara de que sua “isenção” os orienta de tal modo para a Igreja universal, que se constituam, também em nome da Igreja universal, exímios instrumentos da renovação constante e da santidade e unidade das Igrejas particulares; desta forma, evitarão cair na tentação de criar um clima de “igreja paralela”, à margem ou, pior, contra o Bispo, legítimo Pastor e Mestre da Igreja particular, na qual os religiosos se devem inserir, afetiva e efetivamente. Faço votos de que os Bispos e os Superiores Maiores retomem as orientações de “Mutuae Relationes” para favorecer a riqueza dos carismas e antepor a todos os interesses individuais e grupais o verdadeiro bem da Igreja particular e universal. A unidade com a Igreja universal, através da Igreja local: eis a vossa via!

6. Na Constituição dogmática sobre a Igreja, o Concílio Vaticano II declara que a vida consagrada, nas suas múltiplas formas, manifesta “a potência infinita com que o Espírito Santo maravilhosamente atua na Igreja” (Lumen Gentium, 44). De igual modo, o Decreto do Concílio sobre a renovação da vida religiosa sublinha que foi “o impulso do Espírito Santo” que deu origem tanto à vida eremítica quanto à fundação das “famílias religiosas, que a Igreja de boa vontade escolheu e aprovou com a sua autoridade” (Perfectae Caritatis, 1).

Quando na sua Igreja Jesus Cristo chama os homens e as mulheres a segui-Lo, faz sentir a sua voz e a sua atração por meio da ação interior do Espírito Santo, ao qual confia a tarefa de fazer entender o chamamento e de suscitar o desejo de Lhe responder, com uma vida completamente dedicada a Cristo e ao seu Reino. É Ele que desenvolve, no segredo da alma, a graça da vocação, abrindo o caminho requerido para que esta graça atinja o seu objetivo. É Ele o principal educador das vocações. É Ele o guia das almas consagradas no caminho da perfeição.

Foi assim no passado, assim é também hoje. Desde sempre na Igreja o Espírito Santo concede a alguns o carisma de Fundadores. Desde sempre faz com que, ao redor do Fundador ou da Fundadora, se reúnam pessoas que compartilham a orientação da sua forma de vida consagrada, o seu ensinamento, o seu ideal, a sua atração de caridade, de apostolado pastoral e de magistério.

Desde sempre o Espírito Santo cria e faz crescer a harmonia das pessoas congregadas, e as ajuda a desenvolver uma vida em comum animada pela caridade segundo a orientação particular do carisma do Fundador e dos seus fiéis seguidores. Foi sob esta perspectiva que o Concílio constatou que a variedade dos Institutos religiosos é como “uma árvore que se ramifica, esplêndida e múltipla, no campo do Senhor” (Lumen Gentium, 43).

Por isso, a diversidade de carismas deve ser vivida pelos seus discípulos e discípulas, conservados zelosamente, aprofundados e desenvolvidos, em homogênea continuidade, ao longo dos tempos, seja qual for a circunstância histórica. Cada Instituto, com efeito, tem “seus fins e seu caráter próprios” (CIC, 598), não somente no que concerne à observância dos conselhos evangélicos, mas também em tudo que se relaciona com o estilo de vida de seus membros (cf. CIC, 598 § 2).

Como vos lembrareis certamente, este foi um dos temas que tive a oportunidade de considerar na minha segunda Viagem Pastoral por vossas terras. “Levando-se em conta – eu dizia naquela ocasião – que a formação inicial e permanente segundo o próprio carisma, está nas mãos do Instituto, a formação intercongregacional não pode suprir inteiramente a tarefa da formação permanente dos seus membros. Esta deve estar impregnada, em muitos aspectos, das características próprias do carisma de cada um dos institutos” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XIV/2 [1991] 928).

A conservação desta linha de fundamentação da vida religiosa, e as consequências que dela decorrem, motivam a necessidade de tornar a alertar acerca de certas iniciativas, no que diz respeito à formação intercongregacional, que estão a exigir uma correção de rumo. Há casos, não de fraqueza individual, mas de certa institucionalização de critérios que podem causar muito prejuízo à formação dos jovens e das jovens consagradas. Pode-se falar em “Cursos intercongregacionais para noviços” ou para noviças, separados entre si, mas não se pode falar de “Noviciado intercongregacional”. Além do mais, nenhum Superior Maior, nenhuma Superiora Maior, pode jamais abdicar de seu dever de ser o primeiro responsável pela introdução das gerações novas na maravilhosa experiência de Deus, concedida aos próprios fundadores. Não é possível admitir que hajam organizações intermédias para orientar de modo diverso os santos ideais da Vida Consagrada.

A prática recente, sancionada pelo Código de Direito Canônico nos cânones 708 e 709, reconhece a grande utilidade das Conferências de Superiores Maiores, que se associam para, em unidade de esforços, alcançarem mais facilmente o fim de cada Instituto e estabelecerem idôneos meios de coordenação e cooperação entre os mesmos, e destes com as Conferências Episcopais e com cada Bispo em particular. Note-se, porém, que tais Conferências regionais, nacionais ou internacionais, não podem constituir uma instância superior de governo da vida consagrada, já que, não dotadas de poder jurídico, devem servir à autonomia de cada Instituto e respeitar as funções próprias e indelegáveis dos seus respectivos Superiores.

Portanto, em quaisquer empreendimentos da Conferência Nacional dos Religiosos, os Superiores Maiores não podem se eximir de sua primeira e plena responsabilidade de vigias e mestres. Só assim, a CRB nacional – que, segundo as normas diretivas Mutuae Relationes, tem como fim principal “a promoção da vida religiosa no conjunto da missão eclesial” (Mutuae Relationes, 21) – pode se constituir numa grande ajuda nesta abençoada tarefa da formação contínua.

Esta ajuda não poderá desconhecer a doutrina conciliar sobre a vida consagrada, nem o constante ensinamento do Magistério da Igreja. Ao contrário, as atividades e programas da Conferência dos religiosos devem primar pelo reverente acatamento e pela especial obediência ao Sucessor de Pedro e às suas diretrizes, mais ainda por serem todos os consagrados a ele ligados de maneira especial por seu voto de obediência. Ademais, os programas devem levar em conta os carismas específicos de cada Instituto, respeitando-os integralmente. Afastar-se-ia de sua finalidade original uma Conferência de religiosos que se tornasse um mecanismo de pressão para a introdução de elementos contrários às sãs tradições e à legítima identidade dos diversos Institutos, subtraindo dos seus legítimos superiores o efetivo governo de suas Comunidades religiosas. As iniciativas tomadas em comum devem contribuir para fomentar a fidelidade e a santidade da vida consagrada. Só assim serão fecundas, porque abençoadas pelo Senhor, fonte de todo o bem e única razão de ser da variedade de carismas.

Neste contexto, é meu dever apostólico recordar que todas as iniciativas neste importante setor, tanto as que são promovidas pela Conferência nacional, como as demais, empreendidas pelas outras estruturas de coordenação regional ou local, devem estar sob a supervisão e a responsabilidade concreta dos Superiores Maiores e do Bispo diocesano – ou do Bispo delegado pelos Bispos da região. Estes têm uma responsabilidade objetiva e devem ter a possibilidade de um controle e de um efetivo acompanhamento.

Na formação das novas gerações de Religiosos ou outras pessoas consagradas, trata-se de algo sublime, onde acontece o sagrado diálogo entre a misteriosa graça de Deus e a consciência que, guiada pelo Espírito, se abre aos apelos de Deus.

A vossa autoridade, como pastores de um “pequeno rebanho”, está a serviço do amor e da vida em Deus. Não vos deixeis conduzir por um falso respeito, para não usar da própria autoridade, onde o bem espiritual o exija. Os Bispos amem sempre os Religiosos e Consagrados como expressão privilegiada da Igreja Santa, Esposa do Verbo eterno. Mas “como vigários e legados de Cristo, os Bispos governam as Igrejas particulares que lhe foram confiadas, com conselhos, exortações e exemplos, mas também com autoridade e com sacro poder... Este poder que eles pessoalmente exercem em nome de Cristo é próprio, ordinário e imediato” (Lumen Gentium, 27), e serve para edificar a grei de Deus na verdade e santidade.

7. É meu propósito recordar, enfim, que os carismas religiosos “são peculiares dons do Espírito para o povo de Deus” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVI/2 [1993] 1362).

A Relação Final do Sínodo Extraordinário de 1985 afirmava que “a eclesiologia de comunhão é a idéia central e fundamental dos documentos do Concílio”. Favorecer uma comunhão eclesial mais intensa entre Religiosos, Clero e leigos, intensificando um específico e pluriforme intercâmbio de valores espirituais e apostólicos, ajudará não pouco essa eclesiologia da comunhão. Mas, de modo particular, vinculará os carismas religiosos a cada uma das Igrejas, onde se exprime a vocação e a missão dos leigos e do Clero diocesano, produzindo nelas o dinamismo e os valores com que os Religiosos respiram a universalidade da Igreja.

Não é esta precisamente uma das aspirações do V Congresso Missionário Latino-Americano que está para ter início em Belo Horizonte, e que quer vir a ser um estimulante acontecimento de animação missionária, destinado a pôr em evidência a Igreja particular como sujeito da Missão universal, favorecendo a participação tanto do Clero diocesano como de leigos missionários?

8. Gostaria de concluir este nosso encontro, estimados Irmãos, renovando-vos o meu agradecimento e o meu apreço. Quando regressardes às vossas dioceses, peço-vos que saudeis cordialmente os vossos sacerdotes, os religiosos e os fiéis. Dizei-lhes que o Papa reza por todos, e especialmente pelos mais necessitados: os pobres, os anciãos, os encarcerados, os doentes; ao mesmo tempo, o Papa reza pelas autoridades dos vossos Estados para que saibam zelar sempre pelo comum do povo que anseia pela paz e pelo bem-estar de cada Comunidade, e de modo particular na defesa da vida desde a sua concepção. Peço a Deus, enfim, que vos chamou a ser Pastores do seu rebanho, para que vos sustente na vossa tarefa em benefício do seu Povo. Confio todos vós e a Igreja inteira deste grande Regional à Virgem Aparecida, e concedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica.

 

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