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 MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO CARDEAL EDWARD I. CASSIDY
POR OCASIÃO DO XII ENCONTRO DE ORAÇÃO
REALIZADO EM BUCARESTE

 

 

Ao Venerável Irmão Cardeal EDWARD I. CASSIDY
Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos

Sinto-me particularmente feliz por dirigir, através de Vossa Eminência, as minhas cordiais saudações a quantos participam no XII Encontro de Oração, organizado pela Comunidade de Santo Egídio, sobre o tema: «A paz é o nome de Deus». O meu espírito ainda se recorda com profunda emoção da memorável jornada de Assis onde, pela primeira vez na história, representantes das grandes religiões do mundo se reuniram a fim de implorar a paz Àquele que é o único que a pode conceder em plenitude. Estou profundamente convicto de que, como tive ocasião de dizer nos meses seguintes, «naquele Dia, e na oração que era o motivo e o único conteúdo do mesmo, parecia exprimir-se por um momento também visivelmente, a unidade escondida mas radical... entre os homens e as mulheres deste mundo» (Discurso à Cúria Romana para os votos de Natal, n. 1, ed. port. de L'Oss. Rom. de 04/01/1987, pág. 1). Esta perspectiva, que substancialmente é aquilo a que chamei o «espírito de Assis», deveria ser retomada e comunicada a fim de poder suscitar em toda a parte novas energias de paz. Nesse dia foi iniciado um caminho que a Comunidade de Santo Egídio animou com coragem, fazendo participar nele um número cada vez maior de homens e mulheres de religiões e culturas diferentes. Desta forma, a «perspectiva » de Assis delineou-se em várias cidades europeias, tais como Varsóvia, Bruxelas, Milão e, no ano passado, Pádua. Não é por acaso que esta peregrinação, a qual já alcançou doze anos de experiência, chega à Roménia e faz etapa em Bucareste, cidade que nesta ocasião se tornou como que o centro físico daquela Europa que, rica de povos e culturas, deve reconstruir uma harmoniosa e ampla unidade que não exclua ninguém.

Desejo fazer chegar a minha saudação a todo o povo romeno, do qual me sinto próximo com um pensamento afectuoso. Saúdo o Presidente da República e o seu Governo, agradecendo-lhes o convite que me fizeram para realizar uma visita à Roménia, que espero poder concretizar. Dirijo um pensamento fraterno e cordial a Sua Beatitude o Patriarca Teoctist, aos Metropolitas e Bispos, assim como a todo o povo da veneranda Igreja Ortodoxa da Roménia. Saúdo de igual modo, com afecto e estima, os Bispos e as Comunidades católicas, bizantinas e latinas da Roménia, exortando-as a perseverar com coragem no testemunho de Cristo e do seu Evangelho. E torno extensiva a minha saudação fraterna a todas as outras Confissões cristãs e Religiões presentes nesse nobre País. A grande manifestação de oração pela paz insere-se perfeitamente na particular vocação da Roménia para ser uma ponte entre Oriente e Ocidente, oferecendo uma síntese original entre culturas e tradições europeias. A presença tão numerosa de venerados Patriarcas, Primazes e Bispos de Igrejas Ortodoxas torna este Encontro altamente significativo para a inteira cristandade. Envio a todos eles o meu fraterno e afectuoso abraço de paz, para que o transmitam às suas amadas Igrejas. É deveras um dom precioso que líderes tão qualificados da Ortodoxia se unam hoje a representantes da Igreja Católica e de outras Igrejas e Comunidades cristãs do Ocidente, a fim de reflectirem juntos sobre um tema tão importante.

A presença deles neste Encontro, quase no limiar do Terceiro Milénio, estimula-nos a elevar com particular confiança a nossa oração a Deus, para que o mundo veja os cristãos «menos divididos». O caminho será tanto mais rápido quanto mais nos encontrarmos e amarmos, manifestando a alegria que nos une. Portanto, este Encontro de Bucareste apresenta-se como um verdadeiro momento de graça. Temos necessidade de recordar, a nós mesmos e ao mundo, que aquilo que nos une é muito mais forte do que quanto nos divide.

Este Encontro apresenta um elevado significado espiritual, porque vê os cristãos reunidos com representantes das grandes religiões do mundo. Também a eles dirijo a minha respeitosa saudação. Eles sabem que tenho muita consideração pelas suas tradições religiosas: durante as minhas viagens apostólicas nunca deixo de me encontrar com os seus representantes, reconhecendo a sua nobre tarefa nos respectivos países. A sua presença tão numerosa e qualificada, ao ressaltar a importância do papel que as religiões desempenham na vida dos homens do nosso tempo, recorda-nos o empenho de manifestar a unidade dos povos, educar para a paz e para o respeito, e cultivar a amizade e o diálogo.

Há sem dúvida necessidade deste empenho. Nestes últimos decénios verificaram-se notáveis progressos no caminho da paz, mas infelizmente também assistimos à expansão de numerosos conflitos: guerras em várias partes do mundo, que muitas vezes envolvem os Países mais pobres, agravando a sua condição já difícil. Penso de modo particular na África, martirizada por conflitos e por uma endémica situação de instabilidade. Penso também no vizinho Kossovo, onde inteiras populações sofrem, desde há muito tempo, atrocidades e torturas em nome de insensatas rivalidades étnicas. Por fim, penso nos processos de paz iniciados no Médio Oriente e noutras partes do mundo, mas postos sempre em perigo por novas dificuldades. Perante a expansão de situações de guerra, é necessário desenvolver novas energias de paz, das quais as religiões são uma preciosa reserva. No encontro de 1993, realizado em Milão, os representantes religiosos ali presentes subscreveram um apelo que ainda mantém a sua validade: «Que nenhum ódio, nem conflito, nem guerra seja incentivado pelas religiões! A guerra nunca pode ser motivada pela religião. As palavras das religiões sejam sempre de paz! A via da fé disponha ao diálogo e à compreensão! As religiões guiem os corações a pacificar a terra! As religiões ajudem todos os homens a amar a terra e os seus povos, pequenos e grandes!».

As religiões manifestam a aspiração universal à compreensão e ao entendimento, que nasce do amor sincero de Deus. Por conseguinte, este Encontro tem oportunamente como título «Deus, o homem, os povos», três realidades que devem reencontrar uma relação orgânica. Cada pessoa e cada povo pode descobrir a sua vocação autêntica no mundo, unicamente na medida em que fizer referência Àquele que está acima de todos e que acompanha cada um rumo ao futuro comum que vós, neste Encontro, de certa forma manifestais.

Confio a Vossa Eminência, Senhor Cardeal, a tarefa de saudar cada um dos representantes das Igrejas e Comunidades cristãs e das grandes Religiões mundiais, garantindo a todos os participantes a minha afectuosa recordação, corroborada por uma fervorosa invocação ao Pai comum, para que todos os povos da terra, abandonando os caminhos da violência, retomem a via da paz.

Castel Gandolfo, 26 de Agosto de 1998.

 

 

 

 



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