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DISCURSO DO SANTO PADRE 
AO NOVO EMBAIXADOR DA BULGÁRIA 
JUNTO À SANTA SÉ

21 de Dezembro de 1998

 

Senhor Embaixador
Svetlozar Dimitrov Raev

1.Sinto-me feliz em acolher Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Credenciais como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Bulgária junto da Santa Sé. Ficar-lhe-ia grato se transmitisse a Sua Excelência o Senhor Petar Stoïanov, Presidente da Bulgária, os meus agradecimentos pela mensagem que me enviou por seu intermédio, e lhe exprimisse os meus ardentes votos pela sua pessoa e alta missão ao serviço da nação búlgara.

Faço votos por que todos os habitantes do país realizem as suas aspirações mais profundas, numa sociedade cada vez mais unida e solidária. Muito me sensibilizam as palavras que acaba de me dirigir, nas quais Vossa Excelência manifesta os sentimentos que o animam, no momento em que inicia a sua missão como segundo Em- baixador junto da Santa Sé. Vossa Excelência inscreve-a na longa história das relações do seu país com a Sé Apostólica. Vossa Excelência dignou-se fazer menção do meu predecessor, o Papa João XXIII, que foi Delegado Apostólico em Sófia, deixando no coração dos seus compatriotas a lembrança de um homem cordial, a ponto de chegarem a chamar-lhe o Papa búlgaro. Alegro-me pela atenção sua e do seu Governo em relação à acção do Sucessor de Pedro e da Santa Sé na vida europeia e internacional.

2. Desde a fundação do seu Estado até hoje, o povo búlgaro desenvolveu uma cultura humanista e religiosa, rica na sua profundidade e expressão literária, teatral e musical. Graças aos discípulos dos Santos Cirilo e Metódio, a evangelização deu um novo impulso aos valores espirituais e morais, que já fazem parte da tradição e da herança da nação búlgara (cf. Carta Apostólica Slavorum apostoli, 24). Trata-se dum tesouro de sabedoria no qual os seus compatriotas podem ir beber, para ali encontrar a inspiração que os há-de animar, iluminar e fortificar nas dificuldades por que actualmente passam. Ao aprofundarem o seu contacto com o que constitui a sua identidade própria, eles encontrarão vias novas, a fim de responderem às questões que se lhes apresentam e corroborarem a vida social, no respeito das sensibilidades particulares e com a preocupação pela unidade da sociedade.

Na busca do bem comum, os dirigentes têm uma parte importante para que, através da estabilidade das instituições, todo o povo possa beneficiar dos bens primordiais. Com efeito, eles são chamados pelos seus concidadãos a conduzir a res publica num espírito de serviço e com um sentido perspicaz do bem comum, atribuindo uma atenção particular por aqueles que são os mais débeis e pobres. O desenvolvimento económico, a que todos aspiram e para o qual cada um deve concorrer, será deste modo um progresso humano, pois estará ao serviço da dignidade de toda a pessoa, dos direitos da família e do bem comum. No decurso dos séculos, o seu povo foi duramente provado por inúmeros dramas que atingiram de maneira profunda o continente europeu.

A sua nação conta com testemunhas da paz e da reconciliação, que são modelos e exemplos para o futuro. Um deles, símbolo para todos, é o Bispo mártir Evgenij Bossilkov, que proclamei Beato no dia 15 de Março passado, na presença de um grande número dos seus concidadãos. Como eu dizia naquele dia, «ele faz parte das inúmeras vítimas que o comunismo ateu sacrificou [...] ao longo do seu programa de aniquilamento. Numa carta que escreveu por volta do final de 1948, D. Bossilkov dizia que o sangue derramado pelo povo abrirá ibo caminho a um futuro esplêndido; e ainda que não o derramemos, outros colherão o que tivermos semeado nos sofrimentos. Oxalá os nossos contemporâneos vejam chegar hoje este período, para o bem de todos!».

3. Vossa Excelência evocou as relações frutuosas, fundadas sobre a estima recíproca, que desde há séculos unem a Bulgária e a Santa Sé. A comunidade católica búlgara é pouco numerosa, mas está profundamente enraizada na vida da nação. Os leigos católicos têm o desejo de se empenhar na vida pública da nação e de ver abrirem-se diante deles justas possibilidades de servir o país, ao lado de todos os seus compatriotas. Deste modo, desejam perseguir cordiais relações ecuménicas com os seus irmãos ortodoxos, favorecendo um leal conhecimento recíproco e as acções comuns, no plano espiritual e da ajuda mútua, como o Concílio Vaticano II já convidava os cristãos para isto (cf. Decreto sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 2-4). A Igreja quer estar próxima dos menos afortunados, através das múltiplas obras sociais, e atribui uma importância capital à tarefa da educação. Todos os seus compatriotas são também convidados a colaborar na formação das jovens gerações, para que tomem consciência dos valores do próprio património, das suas responsabilidades na construção do seu país e das presentes possibilidades de acção, a fim de realizarem a civilização do amor e da verdade. Em particular, é importante dar-lhes uma educação espiritual, moral e cívica, que os torne jovens capazes de levar uma existência pessoal rica de sentido e de se empenhar em favor da pátria.

4. As diferentes tradições religiosas são uma riqueza que deve ser compartilhada sempre mais. A figura eminente de D. Bossilkov deve ser um exemplo para todos, devido à sua constante preocupação ecuménica. Por sua parte, os católicos querem empenhar-se com todas as forças para que as relações entre as Igrejas sejam um apoio para o desenvolvimento material e espiritual do país. Vossa Excelência sabe que a co-catedral de São José de Sófia, que actualmente tem necessidade de ser reconstruída, é um sinal importante da presença multissecular da Igreja católica no seu país. É preciso que os fiéis se reúnam nos lugares de culto para a oração à volta dos seus pastores. Deve-se desejar que tudo seja feito para que todos os crentes possam beneficiar, não só em teoria mas também na sua vida quotidiana, da liberdade de culto que é um dos aspectos significativos dos direitos do homem.

É neste espírito que recentemente eu disse na mensagem para o Dia da Paz de 1 de Janeiro de 1999: «A religião exprime as aspirações mais profundas da pessoa humana, determina a sua visão do mundo, orienta o seu relacionamento com os outros: fundamentalmente oferece a resposta à questão do verdadeiro significado da existência, tanto no âmbito pessoal como social. Por isso mesmo, a liberdade religiosa constitui o coração dos direitos humanos» (n. 5).

Outra forma de liberdade essencial, especialmente no momento em que o continente europeu se transforma, consiste no direito natural de toda a pessoa a desenvolver-se livremente no interior do seu país e de um país para outro, no respeito pela cultura local e pelas instituições legítimas, sem contudo impor restrições em função da raça ou da religião. Os europeus, no seu conjunto, devem estar atentos aos direitos das pessoas deslocadas e das suas famílias.

5. A história recente, que viu tantas vítimas das ideologias, convida-nos em particular a promover sempre o respeito da vida, que tem um carácter sagrado, e da dignidade de toda a pessoa. Neste espírito, regozijo-me pela decisão tomada recentemente pelos seus dirigentes, de abolir a pena de morte, manifestando por isso que a vida de todo o homem, mesmo a dum pecador e dum criminoso, tem um valor incomensurável e que «os casos de absoluta necessidade de suprimir um culpado [...] já são praticamente inexistentes» (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2267; cf. Evangelium vitae, 56).

6. Com Vossa Excelência, faço votos por que o grande Jubileu seja um convite à justiça e à paz no mundo. Possa a Bulgária fazer ouvir a sua voz no concerto das nações e ser reconhecida pelo seu significativo contributo neste sector! No momento em que começa a sua missão de Representante da Bulgária junto da Santa Sé, permita-me apresentar-lhe os meus melhores votos de êxito na sua missão. Esteja certo, Senhor Embaixador, que haverá de encontrar junto dos meus colaboradores a compreensão atenta e o apoio sincero, de que Vossa Excelência poderá precisar para levar avante as suas actividades. Sobre Vossa Excelência, os seus colaboradores e a sua família, sobre o povo búlgaro e os seus dirigentes, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.

 

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