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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO NOVO EMBAIXADOR DA ÍNDIA
JUNTO À SANTA SÉ

Senhor Embaixador
Niranjan Natverlal Desai

É-me grato apresentar-lhe as boas-vindas e aceitar as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Índia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis saudações que expressou tanto da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Raman Narayanan, como do Governo e do povo da Índia, e peço que tenha a amabilidade de transmitir-lhe os meus melhores votos e a certeza das minhas preces pela paz, o bem-estar e a harmonia da sua Nação.

Os meus pensamentos voltam-se com frequência para o seu País, que tive a alegria de visitar em duas ocasiões. Durante essas duas viagens, foi-me concedida a oportunidade de encontrar pessoas formadas por antigas culturas e religiões, bem como por uma sabedoria tradicional, que continuam a desempenhar um papel vital na vida da sociedade em geral. A Índia foi enormemente enriquecida pela variedade dos seus povos, tradições e linguagens, e a sociedade indiana pode orgulhar-se dos seus duradouros respeito e estima por este património precioso. No meio de uma vasta e fascinante diversidade, a visão de uma Nação unida emergiu ao longo dos séculos na obra de filósofos, místicos, escritores e estadistas ilustres, que ofereceram uma contribuição significativa para a história indiana e fizeram com que a voz específica do seu País passasse a ser considerada no seio da comunidade internacional.

Vossa Excelência salientou o compromisso da Índia em prol da paz e da amizade com todas as nações. A promoção da paz constitui um dos principais desafios que a comunidade internacional deve enfrentar no princípio do novo milénio. O mundo, que até há pouco tempo vivia à sombra da ameaça do conflito entre dois blocos opostos, continua a ser insidiado por novas e antigas rivalidades entre os povos, e por um fosso crescente entre os sectores ricos e as classes pobres da sociedade, uma lacuna que corre o risco de se tornar cada vez mais radical, com o aumento da globalização da economia e da tecnologia. Os sólidos e duradouros fundamentos da paz exigem que a defesa e a promoção da dignidade da pessoa humana se tornem um princípio-guia em todos os campos da sociedade. De forma análoga, o bem comum há-de constituir o compromisso prioritário de todos os indivíduos que são responsáveis pela vida das nações (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1999, n. 1).

A dignidade humana é um valor transcendente, independentemente do lugar ou da circunstância, e uma característica essencial da verdade acerca do homem, que só pode ser ignorada em detrimento dos povos e das nações. O reconhecimento da dignidade inata de todos os membros da família humana, da igualdade e do carácter inalienável dos seus direitos, é uma premissa fundamental da Declaração dos Direitos do Homem, da Organização das Nações Unidas, e o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. O desrespeito desta dignidade leva a várias e, com frequência, trágicas formas de discriminação, exploração, sublevação social e até mesmo de conflito nacional e internacional, que infelizmente nos são tão familiares.

A sociedade indiana está impregnada de uma profunda consciência da importância das dimensões espiritual e transcendente da vida humana. O seu País é famoso pelo respeito reservado às tradições religiosas seguidas pelos seus povos, um respeito garantido pela Constituição da Índia, que reconhece o direito a todos de praticar a sua própria religião de maneira livre. As tradições religiosas desempenham um papel fulcral na vida da nação e, para os seus cidadãos, constituem um manancial de júbilo, fortaleza e significado. Elas oferecem uma contribuição essencial para o progresso genuíno da sociedade, chamando a atenção para as mais profundas questões e valores humanos. Elas também indicam os padrões espirituais e morais de crescimento que deveriam acompanhar sempre os progressos económicos, científicos e tecnológicos.

Faço votos por que o respeito mútuo e a harmonia que tradicionalmente têm prevalecido entre os seguidores das várias religiões da Índia continuem e se tornem cada vez mais estáveis. Nos tempos mais recentes, houve momentos de tensão e até mesmo trágicos incidentes em que determinados grupos étnicos e religiosos não respeitaram a dignidade e os direitos que são essenciais para uma coexistência pacífica. O recurso à violência em nome do credo religioso constitui uma deturpação dos próprios ensinamentos das principais religiões. O bem da sociedade exige que o direito à liberdade religiosa, salvaguardado pela lei, seja reconfirmado e receba uma tutela efectiva. Em conformidade com as melhores tradições da Índia, há necessidade de diálogo, compreensão e cooperação recíprocos entre os seguidores das várias religiões, a fim de que todos juntos possam trabalhar em benefício de uma civilização edificada sobre os valores universais da solidariedade, da justiça e da liberdade. Como sublinhei por ocasião do meu encontro com os chefes religiosos em Deli: "Sobretudo os Responsáveis religiosos têm o dever de fazer o possível a fim de garantir que a religião seja o que Deus deseja, uma fonte de bondade, respeito, harmonia e paz!" (Discurso aos líderes religiosos, 7 de Novembro de 1999, em: ed. port. de L'Osservartore Romano de 13.XI.1999, pág. 4, n. 3). Enquanto nos conformamos firmemente com aquilo em que acreditamos e não abandonamos as nossas próprias convicções, é essencial que todos procuremos escutar-nos respeitosamente uns aos outros, a fim de discernirmos tudo o que é bom e santo, tudo o que se faz pela cooperação e a paz.

Estou grato a Vossa Excelência pelas suas observações acerca do contributo da cristandade oferecido ao seu País no decurso dos últimos quase dois mil anos. A comunidade católica, que desde então está presente na Índia, é exígua em relação à população global, mas os seus membros são orgulhosos de se colocarem ao serviço dos próprios compatriotas, segundo o exemplo de Jesus Cristo, que veio não para ser servido mas para servir (cf. Mt 20, 28). Nas suas diversas actividades, a Igreja não busca qualquer privilégio especial, mas meramente deseja exercer os seus direitos de forma livre e fazer com que estes sejam respeitados. Desta maneira, ela há-de continuar a poder cumprir a sua missão espiritual e humanitária, e a oferecer a sua contribuição específica para a construção de uma sociedade que seja um verdadeiro lar para todos os seus membros.

Senhor Embaixador, formulo votos por que, ao assumir as suas responsabilidades, se revigorem ainda mais os vínculos de amizade existentes entre a Santa Sé e a Índia. E pode ter a certeza de que os vários departamentos da Cúria Romana estarão prontos a assisti-lo no cumprimento da sua missão. Sobre Vossa Excelência e o amado povo da sua Nação, invoco as abundantes Bênçãos celestes.


 

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