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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO NOVO EMBAIXADOR DE BANGLADESH
 JUNTO À SANTA SÉ

6 de Dezembro de 2001

 

Senhor Embaixador

É com imenso prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas Credenciais que o designam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Bangladesh junto da Santa Sé. Estou-lhe grato por me ter transmitido as saudações do Presidente, Sua Excelência o Senhor A. Q. M. Badruddoza Chowdhury, e do Primeiro-Ministro, Sua Excelênca o Senhor Begum Khaleda Zia, e peço que lhes assegure as minhas ardentes preces pelo bem-estar de toda a nação.

A partir dos dramáticos acontecimentos de 11 de Setembro, tornou-se mais claro do que nunca que há uma urgente necessidade daquilo que Vossa Excelência definiu como "diálogo construtivo para promover a compreensão entre as culturas e as civilizações". Em vez de se insistir sobre aquilo que os separa, os povos de diferentes culturas e religiões devem aprender a respeitar-se uns aos outros, assentes nas inúmeras verdades e valores fundamentais que compartilham entre si.

Como observei na Mensagem para o Dia Mundial da Paz do corrente ano, "o diálogo entre as culturas... assenta na consciência de que há valores comuns a todas as culturas, porque estão radicados na natureza da pessoa" (n. 16). E dado que o Islão e o Cristianismo adoram o único Deus, Criador do céu e da terra, existe um vasto espaço para o acordo e a cooperação recíproca. O conflito só nasce se o Islão ou o Cristianismo forem mal interpretados ou manipulados com finalidades políticas ou ideológicas.

Entre os valores que oferecem um terreno fértil para o diálogo fecundo, há um que sobressai: é a necessidade da solidariedade humana. Com o aumento da interdependência global, o destino comum da família humana e a urgente necessidade de uma cultura da solidariedade tornam-se mais evidentes. Contudo, esta interdependência crescente lançou também uma nova luz sobre as inúmeras desigualdades existentes no nosso mundo. Apesar das promessas feitas pela globalização, os desequilíbrios sociais e económicos pioraram e algumas das nações mais pobres conheceram um declínio ulterior. Em nome da paz no mundo e a fim de corresponder às exigências da justiça, estas nações e as suas populações devem ser ajudadas, não só mediante o auxílio imediato, mas também com a assistência educativa e tecnológica que as torne capazes de desempenhar o seu papel no processo de desenvolvimento global, sem ser excluídas ou marginalizadas. Não se trata de dispensar favores, mas de reconhecer o básico direito do homem à justa partilha dos recursos. A promoção da justiça é essencial para uma cultura da solidariedade.

Outro elemento de acordo quase universal entre os povos da terra é a aspiração à paz verdadeira.

Infelizmente, no mundo existem pessoas que desejam o conflito e sempre procurarão fomentar a destruição. Contudo, a maioria dos indivíduos e das nações estão preparados para fazer as opções corajosas exigidas para a edificação de uma paz autêntica. Numa época como esta, a busca da paz exigem da comunidade internacional decisões que não podem mais ser adiadas. Até mesmo o conflito mais obstinado e longo pode ser resolvido, se prevalecer o desejo da reconciliação.

Neste campo, a religião tem um importante papel a desempenhar. A visão da pessoa e do mundo, ensinada pela religião, determina em grande medida as atitudes e o modo de pensar, no momento de enfrentar o desafio representado pela construção de uma sociedade adequadamente ordenada.

Tanto os muçulmanos como os cristãos insistem sobre o carácter essencialmente transcendente da pessoa humana, criada por Deus para um destino superior, e sobre a necessidade de respeitar o elemento transcendente que existe em cada indivíduo. De resto, concordam que o Criador revelou também um estilo de vida, fundamentado sobre aquilo que Vossa Excelência define justamente como "valores e normas humanas fundamentais", e que têm a sua origem no próprio Deus. Num certo sentido, é no contexto destes valores e destas normas fundamentais que o Islão e o Cristianismo podem comprometer-se de modo mais fecundo no diálogo construtivo, tão necessário nesta época.

Um claro exemplo da possibilidade de tal diálogo deve ser visto no respeito que todos demonstram pelo valor da própria vida. Para o Islão e o Cristianismo, a vida humana constitui uma realidade sagrada e inviolável, dado que tem a sua origem e o seu destino no próprio Deus. Por conseguinte, nunca é possível invocar a paz e desprezar a vida, uma contradição que se observa com muita frequência nas sociedades humanas e no coração do homem. Nas culturas tanto orientais como ocidentais, ricas e pobres, tradicionais e pós-industriais, o respeito pela vida humana está a ser ameaçado e debilitado de muitas maneiras. Há necessidade de um notável esforço educativo, da parte de todas as tradições religiosas, para ensinar o valor sagrado da vida e propagar uma atitude de respeito por ela em todas as circunstâncias.

Nos valores compartilhados por todos os povos, encontramos aquilo que eu quis definir como "a lógica moral presente na vida humana, que torna possível o diálogo entre indivíduos e povos" (Discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas, 5 de Outubro de 1995). Este é o ponto em que o Islão e o Cristianismo se podem e devem encontrar, não só num diálogo feito de palavras, mas num diálogo de serviço em benefício da paz no mundo.

Senhor Embaixador, estou persuadido de que a missão que Vossa Excelência está a assumir neste dia contribuirá para fortalecer os vínculos de amizade e de cooperação entre a sua Nação e a Santa Sé. E asseguro-lhe de que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Enquanto renovo os meus votos pelo bom êxito da sua tarefa e pela sua felicidade, invoco as abundantes bênçãos de Deus todo-poderoso sobre a sua pessoa, o Governo e o amado povo de Bangladesh.

 

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