VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À UCRÂNIA
(23-27 DE JUNHO DE 2001)
ENCONTRO COM OS JOVENS
PALAVRAS DO SANTO PADRE
Esplanada de Sykhiv, Lviv
Terça-feira, 26 de Junho de 2001
1. "Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna!" (Jo 6, 68).
Caríssimos jovens da Ucrânia, o Apóstolo Pedro dirigiu estas palavras a Jesus, que se tinha apresentado às multidões como o pão que desce do céu para dar vida aos homens (cf. Jo 6, 58). Hoje, tenho a alegria de as repetir no meio de vós, aliás, de as repetir em vosso nome e juntamente convosco.
Hoje, Cristo apresenta-vos, a vós, a interrogação que então dirigira aos Apóstolos: "Também vós quereis retirar-vos?". E vós, jovens da Ucrânia, o que respondeis? Estou certo de que, juntamente comigo, também vós fazeis vossas as palavras de Pedro: "Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna!".
Enquanto vejo que viestes aqui em tão grande número e com tanto entusiasmo, o meu pensamento volta-se para a Jornada Mundial da Juventude, que se realizou em Roma no mês de Agosto do ano passado e na qual também muitos de vós participaram. Nessa ocasião, convidei os jovens do mundo inteiro a abrir um grande "laboratório da fé", onde procurar e aprofundar as razões para seguir Cristo Salvador. Hoje, vivemos um momento significativo do "laboratório da fé" aqui, na vossa Terra, aonde há mais de mil anos, chegou o anúncio do Evangelho.
Uma vez mais, no início do terceiro milénio, Cristo repete-vos a vós: "E vós, quem dizeis que Eu sou?" (Mt 16, 15). Caríssimos, o Papa veio ao meio de vós para vos encorajar a responder: "Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16, 16); "Tu tens palavras de vida eterna!" (Jo 6, 68).
2. Sim, caríssimos jovens, Cristo tem "palavras de vida eterna". As suas palavras duram para sempre e, sobretudo, abrem-nos as portas da vida eterna. Quando Deus fala, as suas palavras criam a vida, chamam à existência, orientam o caminho, aquecem os corações desiludidos e confusos e, neles, infundem uma esperança renovada.
Quando lemos a Bíblia, descobrimos já a partir da sua primeira página, que Deus nos fala a nós. Fala-nos, dando vida à criação: céu, terra, luz, águas, seres vivos, homem e mulher, tudo existe através da sua palavra. A sua palavra dá significado a todas as coisas, subtraindo-as ao caos. Por isso, a natureza é um livro imenso, onde podemos procurar com admiração sempre nova os vestígios da Beleza divina!
Mais ainda do que na criação, Deus fala na história da humanidade. Ele revela a sua presença nas vicissitudes do mundo, instaurando diversas vezes um diálogo com os homens criados à Sua imagem, para estabelecer uma comunhão de vida e de amor com cada um deles. Assim, a história torna-se um caminho de conhecimento recíproco entre o Criador e o ser humano, um diálogo que tem como finalidade última conduzir-nos da escravidão do pecado para a liberdade do amor.
3. Queridos jovens, assim vivida, a história torna-se um caminho rumo à liberdade. Desejais percorrer esta senda? Quereis participar também vós nesta aventura? O futuro da Ucrânia e da Igreja neste País depende também desta vossa resposta. Vós não percorreis sozinhos este caminho. Fazeis parte do grande povo dos crentes que tem como ponto de referência um antigo Patriarca: Abraão. Ele escutou a chamada do Senhor e partiu, tornando-se para nós "pai na fé", porque acreditou e confiou no Senhor, que lhe prometia uma terra e uma descendência.
É da sua fé que descende o povo eleito que, sob a orientação de Moisés, enfrentou o êxodo da escravidão do Egipto para a liberdade da terra prometida. No centro do êxodo encontra-se a aliança do Sinai, fundamentada nas dez palavras de Deus: o "Decálogo", os "dez mandamentos". Trata-se das "palavras de vida eterna", porque valem sempre e dão a vida a quem as observa.
4. Estimados Amigos! Certo dia, um jovem muito rico perguntou a Jesus: "Mestre, que hei-de fazer de bom para alcançar a vida eterna?" (Mt 19, 16). E Jesus respondeu-lhe: "Se quiseres entrar na vida, cumpre os mandamentos" (Mt 19, 17). Cristo não veio para abolir a primeira aliança, mas para a completar. Os dez mandamentos têm um valor perene, porque são a lei fundamental da humanidade, inscrita na consciência de cada pessoa. São o primeiro passo rumo à liberdade e à vida eterna porque, observando-os, o homem se coloca na justa relação com Deus e com o próximo. Eles "explicitam a resposta de amor que o homem é chamado a dar ao seu Deus" (Catecismo da Igreja Católica, n. 2083). Esta lei está gravada de forma natural no coração de cada ser humano e deve ser fielmente aceite e seguida. Há-de tornar-se regra da nossa existência quotidiana.
No mundo contemporâneo, verificam-se profundas e rápidas transformações sociais e muitos pontos de referência moral estão a vacilar, lançando os homens no caos e às vezes até mesmo no desespero. O Decálogo é uma espécie de bússola que, num mar borrascoso, impede que se perca a rota para alcançar a meta. Queridos jovens da Ucrânia, eis o motivo por que hoje gostaria de vos entregar de novo, simbolicamente, os mandamentos do Decálogo, para que sejam a vossa "bússola", o ponto firme de apoio para edificardes o vosso presente e o vosso futuro.
5. "Amarás ao Senhor teu Deus". A Deus deve ser reconhecido o primeiro lugar na vossa vida. Por isso, os primeiros três mandamentos dizem respeito à nossa relação com Ele. Justamente, Ele merece ser amado com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com todas as nossas forças (cf. Dt 6, 5). Deus é único e não pode ser confundido com divindades falsas. Caros jovens, também a vós Ele diz: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te quero orientar para a plenitude da vida: não me substituas por outra coisa!".
Hoje há um vigoroso impulso que visa substituir o Deus verdadeiro por deuses falsos e ideais falazes. Os bens materiais são ídolos. Quando são procurados e utilizados como meios e instrumentos destinados para o bem, são úteis para a pessoa. Porém, jamais devem ocupar o primeiro lugar no coração do homem, e ainda menos no coração dos jovens, chamados a voar alto, rumo aos ideais mais bonitos e mais nobres!
O nome de Deus é Pai, Amor, Fidelidade e Misericórdia. Como deixar de desejar que todos O conheçam e O amem? O seu dia o Sábado, que para nós cristãos se tornou o Domingo, dia da ressurreição do Senhor é a antecipação da terra prometida. Como deixar de o santificar, com a participação na Eucaristia, encontro festivo da Comunidade cristã?
6. "Ama o teu próximo!". Os outros sete mandamentos fazem referência aos nossos relacionamentos com o próximo. Eles indicam-nos o caminho para estabelecer com os outros seres humanos relações caracterizadas pelo respeito e o amor, sobre o fundamento da verdade e da justiça.
Quem põe em prática esta lei divina, não raro deve caminhar contra a corrente. Jovens da Ucrânia, Cristo pede-vos que caminheis contra a corrente! Pede-vos que sejais os defensores da sua lei e de a traduzir em comportamentos coerentes na vida de todos os dias. Esta lei antiga e sempre actual encontra no Evangelho a sua realização perfeita. É o amor que vivifica a existência e é a um amor genuíno, livre e profundo que conduz a observância fiel dos dez mandamentos. Com esta lei divina bem radicada no vosso coração, não tenhais medo: haveis de vos realizar plenamente a vós mesmos e contribuireis para a edificação de um mundo mais solidário e mais justo.
7. Caros jovens, o vosso povo está a viver uma passagem difícil e complexa do regime totalitário, que o oprimiu por muitos anos, para uma sociedade finalmente livre e democrática. Porém, a liberdade exige consciências fortes, responsáveis e amadurecidas. A liberdade é exigente e, num certo sentido, custa mais do que a escravidão!
Por isso, abraçando-vos como um pai, digo-vos: escolhei o caminho estreito, que o Senhor vos indica através dos seus mandamentos. São palavras de verdade e de vida. A vereda que frequentemente parece larga e cómoda revela-se mais tarde enganosa e falaz. Não passeis da escravidão do regime comunista à dependência do consumismo, outra forma de materialismo que, mesmo sem rejeitar Deus com a palavra, O nega contudo com os factos, excluindo-O da vida.
Sem Deus nada de bom podereis fazer. Todavia, com a sua ajuda sereis capazes de enfrentar todos os desafios do momento presente. Conseguireis também tomar decisões comprometedoras contra a corrente, como por exemplo a de permanecer na vossa Pátria com confiança, sem ceder às miragens de uma sorte fácil no estrangeiro. A Ucrânia tem necessidade de vós aqui, jovens, prontos a oferecer a vossa contribuição para melhorar as condições sociais, culturais, económicas e políticas do País. Ela precisa dos talentos de que sois ricos, para o futuro desta vossa Terra, que tem atrás de si um passado verdadeiramente glorioso.
O futuro da Ucrânia depende em boa medida de vós e das responsabilidades que souberdes assumir. Deus não deixará de abençoar os vossos esforços, se orientardes a vossa vida para o serviço abnegado à família e à sociedade, fazendo com que o bem comum preceda os interesses particulares. A Ucrânia tem necessidade de homens e de mulheres que se dediquem ao serviço da sociedade, tendo em vista a promoção dos direitos e do bem-estar de todos, a começar pelos mais frágeis e pelos deserdados. Esta é a lógica do Evangelho, mas constitui também a lógica que faz crescer a comunidade civil. Com efeito, a verdadeira civilização não se mede somente pelo progresso económico, mas principalmente pelo desenvolvimento humano, moral e espiritual de um povo.
8. Caríssimos jovens! Dou graças a Deus que me concedeu a alegria de me encontrar convosco. Antes de vos deixar, gostaria de acrescentar ainda uma última palavra: amai a Igreja! Ela é a vossa família e o edifício espiritual de que sois chamados a fazer parte e ser as pedras vivas. Aqui, ela apresenta um rosto singularmente fascinante, em virtude das diversas tradições que a enriquecem. Com o espírito de fraternidade, caminhai e crescei unidos como hoje, a fim de que as várias tradições não sejam um motivo de divisão, mas sobretudo estimulem o conhecimento e a estima de uns em relação aos outros.
Faço votos para que vos acompanhe ao longo deste caminho a Virgem Maria, tão venerada aqui em terras ucranianas. Amai-a e escutai-a! Ela ensinar-vos-á a ser um dom sincero e generoso a Deus e aos irmãos. Levar-vos-á a procurar em Cristo a plenitude da vida e da alegria. Assim, sereis na Igreja a nova geração de santos da vossa Terra, fiéis a Deus e ao homem, apóstolos do Evangelho em primeiro lugar no meio dos vossos coetâneos.
O vosso alimento espiritual seja sempre o Pão eucarístico, Cristo! Alimentados por Ele na Eucaristia, permanecereis sempre no seu amor e dareis muito fruto. E se às vezes o caminho se torna árduo, se a senda da fidelidade ao Evangelho vos parecer demasiado difícil, porque exigirá sacrifícios e opções corajosas, recordai-vos do nosso encontro. Assim, podereis reviver o entusiasmo da profissão de fé que hoje fizemos em conjunto: "Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna!". Repeti-a e não tenhais medo! Cristo será a vossa força e a vossa alegria!
Obrigado, queridos amigos! O Papa ama-vos e considera-vos como sentinelas de uma nova aurora de esperança. Ele honra a Deus pela vossa generosidade enquanto, com afecto, reza por vós e, do íntimo do seu coração, vos concede a sua bênção.
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