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DISCURSO DO SANTO PADRE
AO NOVO EMBAIXADOR DO JAPÃO
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

29 de Outubro de 2001

 
Senhor Embaixador!

1. É com prazer que dou as boas-vindas a Vossa Excelência na ocasião da apresentação das Cartas, mediante as quais Sua Majestade o Imperador Akihito o acredita junto da Santa Sé como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Japão. Agradeço a Vossa Excelência a amabilidade de me ter transmitido as saudações do seu soberano. Ficar-lhe-ia grato pela amabilidade de lhe transmitir os votos que formulo pela sua pessoa e pela família imperial. De igual modo, por intermédio de Vossa Excelência, desejo saudar cordialmente o povo japonês e os seus dirigentes, pedindo ao Altíssimo que faça com que os esforços de todos para a edificação de uma sociedade cada vez mais fraterna e solidária dêem bons frutos, para o bem da nação e de todos os países da região.

2. Sensibilizaram-me muitíssimo, Senhor Embaixador, as suas palavras sobre o que a Igreja viveu durante o Grande Jubileu e sobre a atenção que dedica à acção da Santa Sé em favor do respeito da vida humana, da paz e do entendimento entre os povos. Vossa Excelência acaba também de exprimir a profunda preocupação, amplamente difundida no mundo actual, que diz respeito aos acontecimentos que, desde há algumas semanas, ameaçam os grandes equilíbrios do mundo e que mantêm na angústia milhões de pessoas. A história da vossa nação durante o século XX, marcada de modo especial pelos dias sombrios de Hiroshima e de Nagasaki, dos quais as reportagens fotográficas que mostram a angústia de adultos e de crianças foram difundidas no mundo, continua a estar presente na consciência de toda a comunidade internacional. Por conseguinte, a profunda e viva atenção pela paz que caracteriza a sociedade japonesa apela a todos os povos da terra para que façam tudo o que está ao seu alcance, a nível pessoal, comunitário e institucional, a fim de que triunfe a causa da paz e da fraternidade, e as decisões sejam tomadas em todos os níveis na perspectiva do bem comum da humanidade. Nestes dias, em que numerosos focos de tensão persistem e se desenvolvem, imploro de coração um empenho renovado e cada vez mais intenso de todos os homens de boa vontade, para que, mediante o diálogo e a colaboração, cada povo possa ter uma terra e cada pessoa possa viver em paz. A confiança entre as pessoas e entre os povos fará com que deixe de existir o terrorismo, que não pode absolutamente abrir o caminho ao reconhecimento de um grupo de pessoas ou de uma ideologia, nem levar a uma forma de governo num país ou região.

De facto, o uso da violência sob todas as formas não permite nem regular os conflitos nem lançar as bases de uma sociedade respeitadora de todos os seus membros, devido às feridas que causa, afasta qualquer caminho social pacífico e reduz a nada os direitos mais fundamentais das pessoas e dos povos à paz e a um desenvolvimento integral e solidário. Os valores religiosos, espirituais, culturais e humanos sobre os quais se baseia a sociedade japonesa e muitas outras sociedades, tais como o respeito da criação da vida, o espírito fervoroso do trabalho, o profundo sentido da solidariedade, a capacidade de abertura à transcendência, são elementos fundamentais para a edificação da civilização do amor e da paz; elas têm em particular o seu lugar na orientação da res publica, a fim de transformar a partir de dentro a vida política, económica, social e cultural da sociedade e proporcionar-lhe o acréscimo de humanismo que faz com que ela esteja cada vez mais ao serviço do homem e da família.

3. Vossa Excelência, Senhor Embaixador, recordou como o diálogo entre as civilizações é uma condição necessária para um futuro de paz. A fim de que os conflitos e as tensões que atravessam o continente asiático diminuam e se resolvam, este diálogo deve realizar-se de maneira muito especial, sobretudo para um intercâmbio entre os diferentes povos, culturas e as diversas tradições religiosas e filosóficas, no respeito da liberdade legítima das pessoas e dos povos, sobretudo em matéria religiosa, para que as religiões jamais sejam pretextos para actos contrários ao respeito de todos os seres humanos e de cada comunidade humana. No Japão, como noutras partes, o desafio do diálogo entre as culturas assenta sobretudo na "consciência de que há valores comuns a todas as culturas, porque radicados na natureza da pessoa". Por conseguinte, é fundamental "alimentar aquele húmus cultural de natureza universal que torna possível o fecundo desenrolar dum diálogo construtivo. Também as várias religiões podem e devem dar um contributo decisivo para o efeito" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 16).

4. A Igreja católica, devido à missão que recebeu de Cristo, participa activamente neste diálogo, desejando contribuir sempre, em harmonia com todos os homens de boa vontade, para a edificação de uma comunidade humana unida e solidária. Aprecia a grande estima e a boa consideração de que a Igreja católica goza no Japão, sobretudo nos campos da assistência social e da educação. Vossa Excelência sabe que os estabelecimentos de ensino católicos têm a preocupação não só de preparar os jovens para estruturar a sua inteligência para um melhor mestrado no saber, mas também para formar neles o ser integral, a fim de que, sendo agentes da vida social, sejam autênticos servidores do homem e da sociedade japonesa, e possam transmitir os valores espirituais e morais necessários ao seu pleno desenvolvimento e ao dos seus compatriotas. No momento da mundialização, que deveria sensibilizar as nações para que tomem consciência de que "a situação actual de interdependência planetária ajuda a perceber melhor a comunhão de destino da família humana inteira" (ibid., 17), e no momento em que a sociedade japonesa se confronta com o aumento do desempego, a desintegração da relação interpessoal e a ruptura social, a Igreja católica deseja fazer descobrir o sentido da vida e do destino verdadeiro do homem, a fim de fortalecer um real espírito de entreajuda nas pessoas, com vista a uma concórdia e uma justiça cada vez mais intensas entre todos os que constituem a nação.

5. Senhor Embaixador, permita-me saudar muito calorosamente, por seu intermédio, os Bispos do Japão, que tive a alegria de receber aqui, durante este ano, por ocasião da visita ad Limina, assim como todos os membros da comunidade católica. Ao renovar-lhe o meu sentido encorajamento, convido-os a permanecer, como os seus antepassados na fé nesta terra do Japão, discípulos fiéis de Cristo, atentos a todos os seus irmãos, sobretudo aos mais pobres e aos jovens, que são muito frágeis e cuja existência muitas vezes é precária num mundo marcado pelo materialismo.

Possam eles, juntamente com todos os japoneses, contribuir para a edificação de uma nação unida, onde cada um se sinta respeitado, acolhido e reconhecido antes de mais pelo que é e não pelo valor que pode ter na ordem económica!

6. No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão, apresento-lhe os meus melhores votos pela nobre tarefa que o espera. Asseguro-lhe que encontrará sempre um acolhimento atento e uma compreensão cordial junto dos meus colaboradores.

Invoco de todo o coração sobre Sua Majestade o Imperador, sobre a família imperial, sobre o povo japonês e seus dirigentes, sobre Vossa Excelência e os seus familiares, assim como sobre o pessoal da Embaixada, a abundância das Bênçãos divinas.

 

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