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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR AFIF HENDAOUI
NOVO EMBAIXADOR DA TUNÍSIA
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS
*

27 de Maio de 2004

 

Senhor Embaixador

1. É com prazer que recebo Vossa Excelência no Vaticano por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Tunísia junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as gentis palavras que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Zine Le Abidine Ben Ali, Presidente da República, e ficaria grato se se dignasse expressar-lhe os meus votos mais cordiais pela sua pessoa e pelos seus compatriotas. Peço ao Altíssimo que ampare os esforços de todos os tunisianos para edificar uma sociedade cada vez mais fraterna e solidária, na qual cada cidadão possa beneficiar do progresso e realizar as suas justas aspirações a viver na justiça e na paz.

2. Vossa Excelência recordou a longa tradição de tolerância e de acolhimento que caracteriza a Tunísia, bem como o profundo apego do seu País à causa da paz. Perante a actual situação internacional, marcada pela violência intolerável do terrorismo e abalada pela instabilidade de várias regiões do mundo, sobretudo no Médio Oriente, é urgente unir os esforços dos homens de boa vontade em favor da paz. A Santa Sé não poupa esforço algum para a alcançar, recordando sobretudo a cada um dos membros da comunidade internacional as suas próprias responsabilidades nesta matéria. Como afirmei com frequência, unicamente o recurso às negociações, num diálogo franco e exigente, poderá permitir aos adversários e aos beligerantes encontrar caminhos novos para resolver os conflitos e para restabelecer uma situação de justiça e de respeito recíproco. Por conseguinte, faço de novo apelo às pessoas responsáveis no processo de guerra. Elas devem recordar-se que a sua missão primária é transmitir aos homens e aos povos o dom da paz, para que cada um possa enfrentar o seu futuro com confiança e serenidade. A violência e a guerra, sabemo-lo muito bem, não podem resolver os conflitos. Ao contrário, elas geram com muita frequência feridas e danos que suscitam ódio perene entre as pessoas e entre os povos e impedem, por vezes durante períodos longos, qualquer possibilidade de diálogo e de respeito.

Alegro-me pela ampla convergência de pontos de vista, que Vossa Excelência realçou, entre o seu País e a Santa Sé sobre esta questão, e desejo que os nossos votos recíprocos sejam a fonte de progressos significativos para a paz do mundo, pois não é possível permanecermos passivos face aos dramas que dilaceram o mundo presente e constituem um peso enorme para as gerações futuras. Penso sobretudo no conflito que persiste há tantos anos na Terra Santa e que fere gravemente a consciência de todos os crentes.

3. A longa experiência da fé cristã no seu diálogo com as sociedades humanas ao longo da história fez compreender que a religião, na sua essência verdadeira, é um veículo poderoso de humanização para o homem. Ela convida ao respeito pelo Criador e sua criação; ela faz-lhe descobrir a sua dignidade de criatura chamada a dominar o mundo, guiando a sua história segundo o desígnio de Deus, procurando sempre a verdade e orientando-se segundo as exigências da justiça e do direito. Estas características de um comportamento "humano" aplicam-se às relações entre as pessoas e entre os grupos, no seio da sociedade, mas são válidas também para as relações entre as nações, na ordem internacional. Como recordei na minha última Mensagem para o Dia Mundial da Paz, "o direito é certamente a primeira estrada a seguir para se chegar à paz; e os povos devem ser educados para o respeito do mesmo. Mas, não será possível chegar ao termo do caminho, se a justiça não for integrada pelo amor. Justiça e amor aparecem às vezes como forças antagonistas, quando, na verdade, não passam de duas faces de uma realidade" (n. 10).

4. Não há dúvida de que as diferentes religiões, sobretudo o cristianismo e o Islão, ainda têm muito a fazer, cada qual na medida que lhe compete, para estabelecer entre elas um diálogo verdadeiro, respeitador e fecundo, para denunciar todas as formas de manipulação da religião ao serviço da violência, e para convencer os homens, e sobretudo os responsáveis políticos, a comprometer-se em perspectivas novas para edificar a fraternidade e uma paz justa e duradoura entre todos. Por conseguinte, alegro-me pelo compromisso do vosso país em favor da instauração de um diálogo sincero entre as culturas e as religiões. Eis um objectivo importante, que deve permitir o estabelecimento de relações mais solidárias entre as comunidades humanas e religiosas.

5. Por sua vez, a modesta comunidade católica que vive na Tunísia não tem outra ambição a não ser testemunhar a dignidade do homem, criada à imagem de Deus, e pôr-se fraternalmente ao seu serviço. Permita-me saudar, Senhor Embaixador, por seu intermédio, o Pastor daquela comunidade, o Bispo de Tunes, e todos os fiéis católicos que a compõem. Comprometidos sobretudo nas tarefas de educação e de saúde, eles trabalham e desejam continuar a trabalhar de coração para o desenvolvimento do país, e dedicam-se a dar continuidade a um diálogo de vida, aberto e leal, com os crentes muçulmanos. Encorajo-os a crescer no amor recíproco, a ser acolhedores dos irmãos provenientes de outras Igrejas, testemunhando desta forma o seu sentido de fraternidade e de amor à paz.

6. No momento em que inicia a sua nobre missão ao serviço da paz e das boas relações entre o seu país e a Santa Sé, desejo garantir-lhe, Senhor Embaixador, os meus calorosos votos e o apoio dos meus colaboradores. Vossa Excelência será sempre bem-vindo ao Vaticano, onde encontrará junto deles a ajuda de que poderá ter necessidade. Sobre a sua pessoa, a sua família e todo o pessoal da sua Embaixada, invoco a abundância das Bênçãos divinas.


*L'Osservatore Romano n. 24 pp. 10, 11.

 

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