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DISCURSO DO PAPA PIO XII
POR OCASIÃO DA VISITA DE OFICIAIS E CADETES
DO NAVIO-ESCOLA BRASILEIRO «DUQUE DE CAXIAS»

Terça-feira, 10 de Julho de 1956

Amados Filhos,
distinta Oficialidade e briosa Juventude
do navio-escola « Duque de Caxias »

Particularmente grato Nos foi o desejo, por vós manifestado, de serdes recebidos em especial audiência, como coroa de visita de instrução à Cidade Eterna; e Nós bem gostosamente a ele acedemos, certo de que a vista e a bênção do Vigário de Cristo e Pai comum dos fiéis, aqui na intimidade da Casa paterna, contribuiria para dar mais profunda e duradoira eficácia às lições aprendidas no estudo das memórias da antiguidade e muito mais dos gloriosos monumentos da fé e piedade cristã, de que Roma é tesoiro incomparável.

É verdade que grandes e contínuas lições não vos faltam.

Já o nome do Duque de Caxias, que distingue o vosso navio-escola, é uma e bem persuasiva. No célebre « Marechal de ferro », tendes o ideal de um grande brasileiro, sinceramente católico, que, como poucos, soube na guerra e na paz honrar e servir a pátria, combater pela sua defesa e integridade, trabalhar pela sua unidade civil e paz religiosa, manter alto o seu prestigio, promover o seu verdadeiro progresso. Grande ideal e grande lição !

Outra não menos persuasiva e eficaz tende-la no vosso mar: em todos os mares, e mais no Atlântico do sul, onde principalmente se desenvolve a instrução, com que servis e vos preparais a melhor servir a pátria. É verdade que hoje não se pode repetir à letra o que escrevia, há precisamente quatro séculos, um aventureiro, grande marinheiro e soldado, que « com muitos perigos andara navegando pelo Mar do sul, onde há tantas tormentas que poucos navios escapam ».

Hoje a pericia naval sabe armar-se para precaver e evitar as tormentas, ou, se ocorre, resistir-lhes e vencê-las. Mas ainda hoje como outrora é verdadeiro o provérbio : « se queres saber orar, entra no mar »; porque, em tormenta ou em calmaria, é sempre o grande livro aberto, que continuamente vos fala das magnificências do Creador; e vós nele podeis meditar de dia e mais de noite, quando mar e céus formam um coro único à glória de Deus, e vos convidam e alevar até Ele a vossa alma na prece e no amor.

Porque enfim, briosa juventude, queridos Guardas-marinhas, não podeis esquecer que sobre as águas ou em terra firme navegais, navegam todos, como escrevia o soldado marinheiro a que aludimos, « por outro mar mais perigoso, que é este mundo e suas vaidades, onde tantos se perdem em tristissimos naufrágios ». E nele vós, amados Filhos, deveis saber aguentar-vos e navegar seguros sob o olhar de Deus.

Não esqueçais que sois marinheiros do Brasil, a maior nação católica da América. Onde quer que ou navegais ou aportais, levais convosco a sua honra, também, e, diremos até, principalmente sob este respeito; porque o bom soldado e o bom marinheiro, que sabe portar-se sempre como bom católico « sem medo nem tacha », é necessariamente dos melhores servidores da pátria.

E não vos faltam tradições magnificas na marinha brasileira. Lembrai por exemplo a primeira nau que aportou a Terras de Santa Cruz. Não é verdade que o exemplo da marinhagem que, saltada em terra, erguia a Cruz e assistia devota ao santo sacrifício da Missa, foi a primeira missão eficacissima, pregada, sem palavras mas com factos, aos aborígenes?

A vossa mesma presença, amados Filhos, afiança-Nos de que vós continuareis tão belas tradições; nem esquecereis nunca os vossos deveres de bravos marinheiros e valentes católicos; e como vos sabeis aguentar magnificamente nos vastos oceanos, vos sabereis aguentar também no mar do mundo, sem perder nunca a rota que Leva ao porto da melhor pátria, que é a eterna.

São os votos que paternamente por vós formulamos.

Com eles, a todos e cada um damos com o maior afecto paterno a Bênção Apostólica; que estendemos a quantos tendes no pensamento, e primeiro a vossos pais e mães, que, sabendo da vossa vinda a Roma, estão talvez a esta hora sonhando convosco e vendo-vos em espírito aos pés do Papa. A eles pois a Nossa Bênção muito especial, como penhor das melhores gratas do Céu.

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