DISCURSO DO PAPA PIO XII
AOS SUPERIORES E ALUNOS
DO PONTIFÍCIO COLÉGIO PORTUGUÊS DE ROMA (*)
Quinta-feira, 14 de Março de 1957
Amados Filhos,
Superiores e Alunos do Pontifício Colégio Português.
Tràs-vos à Nossa presença o nobre e filial desejo de coroar a celebração do quinquagésimo aniversário do Colégio Português em Roma com a palavra e a Bênção do Vigário de Cristo; desejo conservado vivo por bons seis anos, à espera do momento oportuno para o verdes realizado. Encontraste-lo finalmente na nomeação que, há pouco, fizemos do novo Cardeal Protector, na pessoa do Senhor Cardeal Ciriaci.
Ele, com seu bem conhecido zelo, com a competência singular que lhe dá o conhecimento de todas as forças vivas de Portugal, era evidentemente o mais indicado para tal encargo. Por isso alegramo-Nos ao ver que o Colégio Português está de parabéns; e da Nossa parte só podemos formular os melhores votos, certo de que em breve os veremos realizados, para que o Colégio se desenvolva cada vez mais, e floreça numa rica primavera de ciência e virtude.
Ao reflectir sobre o vosso jubileu, o pensamento vai naturalmente áquele 20 de outubro de 1900, quando o Nosso imortal Predecessor, Leão XIII, com as Letras Apostólicas Rei catholicae apud Lusitanos, fundava na Cidade eterna um Colégio para proporcionar aos candidatos ao Sacerdócio o benefício de uma formação mais esmerada; benefício com que se fornecem á Igreja quase todos os auxilios que ela precisa (cfr. Acta Leonis XIII, vol. XX, pag. 290).
Tinha-se dirigido antes par duas vezes ao Episcopado, e ele recorda-o expressamente, primeiro exortando-o a envidar todos os esforços para cultivar esmeradamente os alunos dos Seminários, de modo que resplandeçam in domo Dei com a luz da sólida ciência, com o brilho do genuino espírito eclesiástico, refulgente de todas as virtudes sacerdotais; depois, insistindo para que trabalhassem pelo restabelecimento das Congregações Religiosas, as quais não só podem formar apóstolos cheios de zelo para a dilatação da fé, mas são como corpos de exército especializados, prontos a flanquear a acção do Clero nos combates do Senhor, e a supri-lo, onde ele pela sua escassês não pode chegar (cfr. Epist. Enc. Pergrata Nobis, 14 Sept. 1886, Acta, vol. VI, p. 18o ss. – Epist. Pastoralis vigilantiae, 25 Junii 1891, Acta, vol. XI, pag. 207 e seg. e pag. 211 s.).
Agora bendizia a Providência, porque, graças à generosidade de insignes benfeitores, lhe concedera fundar um Colégio em Roma, e exultava prevendo já os grandes frutos que dele haviam de advir a Portugal.
Volvidos menos de tres anos, São Pio X, quarenta e oito horas após a sua eleição, concedia a primeira audiência colectiva ao Colégio Português, o mais recente e mais pequeno dos Colégios de Roma, e via nele o grão de mostarda do Evangelho, que bem cultivado não tardaria a crescer em árvore majestosa. E pouco depois em documento público declarava dever tratá-lo com maior desvelo e com maior efusão de afecto, por isso que era o mais novo de todos os Colégios da Urbe; tanto mais que os grandes frutos colhidos já, em tão breve lapso de tempo, davam penhor seguro de outros muito mais abundantes num próximo futuro para o Clero de Portugal (cfr. Litt. Apost. Supremi Pastoralis, 19 April. 1904, Acta S. Sedis, tom. XXXVI, p. 583).
E a história dos seguintes anos veio confirmar plenamente as previsões do Santo Pontifice. A vossa mesma presença atesta os progressos visíveis do Colégio; o qual hoje nos seus quarenta e oito Alunos conta representantes de todas ou quase todas as províncias, que, espalhadas por várias ilhas e continentes, integram a Nação: pequena mas expressiva miniatura da unidade e catolicidade da Igreja.
E fora do Colégio deparamos com Doutores romanos ocupando postos de destaque e responsabilidade em todos os Seminários e Obras católicas, e designadamente na Hierarquia.
O espectáculo consolador de tanto bem, por mercê de Deus realizado, obriga a levantar os olhos e o coração ao céu, para bendizer, louvar e render infinitas graças ao Supremo Autor e Dador de todo o bem, e vós justa e dignamente o fizestes no decorrer do ano jubilar; e Nós hoje convosco renovamos o hino de glória ao Senhor. Mas um jubileu, num Instituto eclesiástico de formação, não pode ser meta; é marco miliário na marcha para novas conquistas. Como as necessidades da Santa Igreja, na sua avançada eterna, renascem e crescem continuamente, assim deve crescer o Colégio e renovar e redobrar a sua eficiência.
É indispensável que cresça em número, sem diminuir na qualidade. As dioceses têm aumentado. Novos Seminários surgem e mais devem surgir nas dioceses ultramarinas. Os Seminários existentes e as Obras católicas precisam de completar e renovar o pessoal. Por isso urge, e Nós desejamos vivamente que se realize o programa do Pontífice Fundador, na forma em que o renovou a Nossa Congregação dos Seminários, precisamente em carta de oito de Dezembro de mil novecentos e quarenta e nove, isto é, que todas as Dioceses, não só do Continente, mas das Ilhas e Ultramar tenham sempre no Colégio a formar-se « dois Alunos... mas quanto possivel, um número ainda maior ».
Mais indispensável ainda é que a formação, tanto moral como cientifica, se mantenha e intensifique. Amados Filhos! não há entre vós nenhum, que não reconheça como singular favor de Deus o ser escolhido para vir completar a sua formação em Roma, junto da Rocha viva donde mana incontaminada a torrente da verdade, e junto das Memórias Apostólicas, onde cada pedra é uma exortação à virtude e à santidade heróica. Se, depois, considerais as actividades que vos aguardam, vereis facilmente, que todas exigem, não só virtude, mas perfeição, mas santidade invulgar. Afinal, de um modo ou doutro, estais destinados a ser modeladores de santos. Mesmo um simples Professor de Seminário tem bem outras responsabilidades que o Lente da maior Universidade civil. Se é homem de Deus, a sua virtude reflectir-se-à nos frutos do seu ensinamento. Por isso entre vós deve haver, dir-vos-emos com Leão XIII, uma santa competição, a quem melhor corresponda à justa expectação dos fiéis, dos vossos Prelados e Nossa; podemos acrescentar: e à do Senhor que vos escolheu.
A par desta formação espiritual, absolutamente superior, e que reclama todos os minutos da vossa estada em Roma, a formação científica, ampla, sólida, nos estudos eclesiásticos; mais esmerada, mais profunda e completa no campo em que tenhais de especializar-vos: filosófico, teológico, jurídico, bíblico.
Não é preciso repetir-vos hoje a advertência que fazia S. Pio X aos que vos precederam, há cinqüenta anos : – Não tenhais pressa de voltar a Portugal. Permanecei em Roma, até vos sentirdes convenientemente dispostos para os futuros ministérios. Convenientemente dispostos, acrescentamos Nós, com uma formação esmerada e completa até ao doutoramento, com a tese bem elaborada e defendida. Poderá ser jà um contributo para a ciência; mas é certamente um exercício indispensável para aprender a executar trabalho sério, rigoroso, científico; que vos torne aptos para elevar e manter alto na vossa Pátria o prestigio da cultura católica, como é vosso dever e como requer o serviço e honra da Igreja. De esperar é que as Superiores Autoridades saibam compreender a necessidade e vantagens de tal formação, e que depois, nos primeiros anos, vos dêem modo de continuar e aperfeiçoar a formação profissional.
Enfim, para tocar mais um ponto a que jà acenámos com o Pontifice Fundador, lembraremos que, saidos do Colégio, encontrareis de certo imenso trabalho e talvez poucos operários. O Clero, em consequência de passadas travessias, é ainda pouco numeroso e talvez escasseia aflitivamente, não só em Dioceses recentes, mas em outras bem mais antigas, como repetidas vezes tem lamentado o zelo do Nosso dilectissimo Cardeal Patriarca. Os Institutos Religiosos particularmente destinados às Missões, por benefício da Concordata, são hoje mais que há cinqüenta anos. Mas a sua obra, dentro da finalidade específica de cada um, aprovada e querida pela Sé Apostólica, é preciosissima por toda a parte, e indispensável onde falta o Clero, sobretudo, notava expressamente Leão XIII, para a educação da juventude e para cultivar no povo os bons costumes. Quanto de vós depender, sabei apreciar e aproveitar a sua colaboração e trabalhar fraternamente concordes, come exigem o zelo da divina glória, a salvação das almas, o serviço da Igreja e o bem da Pátria.
Dignem-se o Coração divino de Jesus e a Imaculada Virgem da Fátima, a cuja tutela o Colégio está especialmente confiado, derramar sobre vós, sobre o trabalho da vossa melhor formação ascética e científica, e sobre os futuros ministerios apostólicos a abundãncia das suas graças; das quais vos seja penhor a Nossa Bênção Apostólica.
(*) Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol XIX, pág. 33-38.
Copyright © Libreria Editrice Vaticana
Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana