RADIOMENSAGEM DO PAPA PIO XII
AO III CONGRESSO DO APOSTOLADO DA ORAÇÃO
EM PORTUGAL
Domingo, 19 de Maio de 1957
Veneráveis Irmãos e amados Filhos,
presentes em Braga no Congresso do Apostolado.
Gratíssima Nos foi a notícia de um grande Congresso, que, na cidade dos Arcebispos, reunisse de todo o Portugal metropolitano Dirigentes e Associados do Apostolado da Oração, para, à luz da encíclica Haurietis aquas, passar em revista toda a actividade, do mesmo Apostolado e estudar os meios de mais o difundir e actualizar, revigorando-lhe as energias para novas e maiores empresas.
Por isso de bom grado acedemos ao desejo de Nos terdes presente, não só em espírito, mas na força viva da Nossa palavra.
Braga, a cidade primás, estava naturalmente designada para a celebração; e não só porque o sugeria a coincidência do septuagésimo aniversário da consagração da Arquidiocese ao Coração de Jesus com o centenário da extensão da festa à Igreja universal, mas porque onde a fé e a piedade afundam as suas raízes nos primeiros séculos da Igreja, tanto que pode comemorar este ano o 15° centenário do primeiro rei cristão na Europa, aí, graças ao zelo dos dignos sucessores de Martinho e Frutuoso, de Geraldo e Bartolomeu dos Mártires, o Apostolado se mantém desde a primeira hora exemplarmente activo, oferecendo ao Congresso um ambiente, não só de benévola simpatia, mas de fecunda cooperação.
I
Nestes dias, exímios representantes da ciéncia católica de diversas nações ilustraram a teoria e a prática do Apostolado. Nós, aproveitando o ensejo que se Nos oferece, queremos insistir apenas num ponto, aparentemente muito simples e elemental, mas que é a própria essência e o segredo da eficácia imensa do Apostolado.
Tem este promovido e promove louvavelmente diversas práticas e solenes manifestações de piedade, utilíssimas a quantos nelas tomam parte.
Mas não devem sufocar ou fazer descurar aquela primeira prática essencial a que Nos referimos, e que é, bem o compreendeis, « o offerecimento quotidiano das obras e sofrimentos pelas intenções do divino Coração, e designadamente pelas intenções indicadas para cada mês, e por Nós abençoadas ». Melhor, se o offerecimento é enriquecido com a participação no sacrifício de Cristo pela Comunhão mensal e com a protecção de Maria, implorada no Rosário.
Prática elementar e simples, como todo o Apostolado da Oração, que não multiplica compromissos nem fórmulas complicadas de organização, e por isso é extensivel e Nós bem desejamos que se estenda a todas as classes de pessoas.
Prática simples: mas quem pode medir a eficácia de que é susceptivel, quando fielmente praticada, e, melhor ainda, se constantemente vivida?
Toda a vida do homem, peregrino neste mundo, deve tender para Deus, e todos os actos humanos devem, afinal, ser culto de Deus em Jesus Cristo e por Jesus Cristo. Ora o oferecimento quotidiano das obras é jà de per si culto prestado ao Senhor, é oração e da melhor, que consagrando as primícias do dia, o santifica.
Mas quando vivido, quando anima conscientemente a executar bem as acções e a suportar bem cada sacrifício, então é a vida toda feita realmente culto de Deus, então é a «oração vital » de que falam os santos e que o Apóstolo inculcava aos fiéis, quando lhes escrevia: « Tudo quanto fizerdes por palavra ou por obra, ainda mesmo comer ou beber ou qualquer outra coisa, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por meio d'Ele graças a Deus Padre e para sua glória» (Col. 3, 17, I Cor. 10, 31).
Então a vida dos fiéis tenderá a elevar-se mais geralmente a um alto nível de santidade; porque a necessidade mais sentida de viver em graça de Deus, para que as nossas oblações lhe sejam aceites, - o pensamento mais frequente das grandes verdades da fé, e, a maior intimidade com o Coração divino irão purificando a alma e ateando a chama do amor, que vence as tentações, não teme sacrifícios, triunfa dos obstáculos e leva á santidade.
II
Amados Filhos: Os anais do Apostolado são uma das mais belas páginas da história da Igreja em Portugal. E Nós sabemos como em tempos relativamente recentes, quando a propaganda autorizada do mal se propunha eliminar em duas gerações os últimos vestígios do catolicismo em terras lusitanas, foi o Apostolado da Oração, por testemunho dos sagrados Pastores, uma das principais forças de resistência, para manter vivo o espírito cristão e o fazer reflorecer vigoroso, mal a tempestade acenou a abrandar.
Hoje as circunstâncias estão mudadas. Portugal já não é visto como o país mártir, mas é julgado nação católica. De facto, respeitando-se as pessoas, em conformidade com a fé e índole da alma portuguesa, conseguiu-se um clima em que às piores aberrações de êrro e consequente perversão moral não se reconhecem os direitos, que competem á verdade e á virtude.
Os históricos acordos de 1940, observados em ambiente de mútua compreensão, têm dado preciosos frutos com vantagem para ambas as partes, e espera-se que os dêem mais abundantes, especialmente no sector da missão educadora, que Jesus Cristo confiou e impôs à Igreja.
É uma primavera de bem, que se deve à clarividência e á poderosa e persistente dedicação de homens beneméritos. Mas para além do alcance dos sentidos quem não descortina a acção da Providência, que, na hora oportuna, prepara, suscita e acompanha até ao final triunfo os seus instrumentos? E o Sameiro, trono da Imaculada, e a Fátima, milagre do carinho materno da que se declarou Senhora do Rosário, centros de oração simples, humilde e penitente, não mostram bem a acção da Providência? Misterioso, mas irresistivel poder da oração!
Para que o bem se mantenha e cresça, para que o mal que hoje tudo pretende invadir, não vingue em Terras portuguesas, - que o Apostolado da Oração mantenha em todas elas, e alargue e redobre a sua actividade imunizadora e vivificante; redobrem de zelo os Directores e Zeladores para formarem nos associados e por eles em largos círculos a necessária mentalidade católica, e com a mentalidade uma sincera e esclarecida vida católica, que frutifique na perfeição e santidade.
Coincidências providenciais e factos importantes do Nosso atormentado Pontificado e da vossa história Nos ligam a essa Terra de Santa Maria.
Sensibiliza-Nos profundamente a vossa filial homenagem, fruto bem espontâneo do amor e fidelidade inquebrantável ao Vigário de Cristo em Roma.
Seja ela uma exortação constante, a repetir o que dizíamos, há tempo, aos representantes do Apostolado mundial: « Nós, com as mãos erguidas ao céu, sentimos pesar sobre Nossos ombros uma indizivel responsabilidade, confranger-Nos o coração uma dor profunda, que em vós encontra conforto, por isso que vos mantendes fidelíssimos ao Nosso lado, unindo as vossas orações à Nossa, os vossos sacrifícios às Nossas penas, as vossas obras ás Nossas fadigas...
« Vede os vossos bilhetes mensais! Que grandeza, que valor que eles têm, para quem os sabe usar corno convém, e eles merecem!... Fixai sobre eles a vossa atenção: vereis alargarem-se os horizontes de vosso espírito, elevarem-se e nobilitarem-se os afectos do coração...
« Então, modelando-se progressivamente pela de Jesus, a vossa oração tornar-se-á cada vez mais vasta e mais intensa, sentir-vos-eis irresistivelmente impelidos pelo amor ao sacrifício, e acesos no ardor da caridade e consumidos pela veemência dos desejos, a vossa mesma vida será incessante e fervorosa e eficacíssima oração » (Discorsi e Radiomessaggi vol. IV p. 365-370).
Com estes votos abençoamos de todo coração a vós, Veneráveis Irmãos e amados Filhos, a quantos vos são queridos e a todo o glorioso e fiel povo português.
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