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DISCURSO DO PAPA PIO XII
AOS MEMBROS DO COLÉGIO PIO BRASILEIRO
DE ROMA POR OCASIÃO
DO XXV ANIVERSÁRIO DA SUA FUNDAÇÃO (*)

Sexta-feira, 20 de Junho de 1958

 

A iminência do primeiro centenário do Pontifício Colégio Pio-Latino-Americano, onde, durante setenta e cinco anos, os alunos do Brasil recebiam a sua formação, e ao completar-se o vigésimo quinto aniversário do Pio-Brasileiro, onde agora a recebeis, quisestes vir até Nós, a apresentar-Nos as vossas filiais homenagens, e a implorar, com a Nossa Bênção Apostólica, as bênçãos do Céu, a fim de que a próxima celebração contribua para sempre maior progresso do Colégio em número, ciência e virtude.

Cem anos na vida de um Seminário, é já uma boa data; sobretudo quando visivelmente abençoados por Deus e fecundos de toda a espécie de bens, como os do vosso.

Fundado para fornecer ao Brasil escolhidos ministros do Santuário, não só apóstolos, mas modelos e formadores de apóstolos, pôde já reenviar ás Terras de Santa Cruz mais de 650 egrègiamente formados. Poucos certamente para a seara imensa a cultivar, mas número consolador para a vida do Seminário; e mais quando todos eles, quase sem excepção, podem apresentar hoje magnífica folha de serviços nas diversas mansões que lhes assinou a Providência.

Destinados principalmente ao ensino nos Seminários, Institutos de educação e recentes Faculdades Universitárias, aí se distinguem como Professores, não poucos como Reitores e Superiores e Directores de espírito. Mas a tarefa é imensa; e quantos, multiplicando as energias, não devem acumular outras funções, quais membros dos Cabidos catedrais, Párocos, Vigários, Capelães zelosos, e ainda colaboradores activos e, onde ocorre, lutadores intrépidos nas lides da imprensa! Talvez não há maneira de apostolado, desde os altos serviços nas Cúrias diocesanas até ao recentíssimo apostolado pelo rádio e televisão, em que os Pio-Brasileiros não se distingam.

Nem faltam os que, ou receando os perigos do século, ou aspirando a mais completa imolação de si mesmos, em todo o caso obecedendo a especial vocação do Céu, se acolheram ao silêncio do claustro. Mas nem por isso são menos beneméritos da Igreja no Brasil ou de menor glória para o Colégio, onde talvez lhes sussurrou o primeiro « Si vis perfectus esse »: pois os vimos e vemos trabalhando incansáveis, quem na diecção e incremento do Apostolado da Oração, quem em impulsionar a actividade das Congregações Marianas, verdadeiros corpos de exército especiali­zados nas batalhas do Senhor.

À frente destas falanges, dirigindo-as, animando-as, acendendo-lhes os entusiasmos com o vivo exemplo, as venerandas figuras de dois Emos. Cardiais, quorum memoria in benedictione est, e de quase trinta Prelados, Arcebispos e Bispos, pela maior parte em plena actividade, retratos fiéis do Bom Pastor no cuidado vigilante da própria grei ; e prontos, se circunstâncias inesperadas o exigem (altos desígnios da Providência!), a oferecer generosamente a vida em holocausto pelo triunfo da boa causa, ou a selar com o próprio sangue o cumprimento heróico do dever.

Perante este consolador panorama, convosco louvamos e bendizemos e damos graças ao Senhor; e ao mesmo tempo imploramos sobre o Colégio Pio-Brasileiro novas e mais copiosas bênçãos do Céu, para que, dia a dia e cada vez mais vivat, floreat, crescat!

E tanto mais do coração o fazemos, quanto vemos que as necessidades da Igreja na vossa grande pátria crescem rápida e desmedidamente. Muitos Seminários requerem pessoal dirigente e docente mais numeroso e especializado. Multiplicam-se as dioceses : para que vivam e mais para que possam florecer, é urgente provê-las de Seminários menores e maiores, de estabelecimentos para a educação da juventude, de elementos bem formados para a direcção e fomento de tantas obras.

E há mais ainda. A Igreja de Cristo por toda a parte é e tem de ser até á consumação dos séculos e à final victória, Igreja militante. Com as forças que mantêm a ordem e colaboram ao progresso na paz, é indispensavel recrutar continuamente e reforçar os regimentos de choque, para contrastar a avançada das forças do mal, hoje por toda a parte temerosamente activas e formidavelmente organizadas.

Ora também para isto, para sustentar vitoriosamente a luta na grande frente de batalha que é o Brasil, a Igreja conta convosco, caríssimos alunos do Pio-Brasileiro, certa de que entre vós não faltarão campeões da verdade cabalmente apetrachados de ciência e virtude.

Por isso é com vivo sentimento e não pequena apreensão do Nosso espírito que vemos diminuir o Colégio, precisamente quando mais urgente e necessário é que ele aumente e floreça.

De certo que a inquietação em que vive o mundo, e particularmente a crise económica, que aflige o Brasil não menos que outros países, fazem sentir os seus efeitos e são talvez uma das causas principais de tão penosa diminuição.

Mas importa não descoroçoar! O Colégio e quantos nele tão dedicadamente trabalham, não é por interesses pessoais nem com miras terrenas que se sacrificam. É sobretudo, é unicamente pelo Reino de Deus! Ora a palavra infalível da Eterna Verdade está-nos continuamente repetindo : Nada de solicitudes inquietantes e demasiadas, que atormentam a alma e paralizam a actividade! Quaerite primum Regnum Dei... e o resto virá. Quando os apóstolos partiram para a sua missão, iam sine sacculo et pera (Luc. 22, 35); e contudo podiam depois alegres confessar que nada lhes faltara, porque nos momentos críticos e à hora oportuna là estava a Providéncia, com a bolsa suficientemente provida, a provê-los do necessário.

Confiamos que os digníssimos Prelados do Brasil, sempre modelarmente deferentes para com a Santa Sé Apostólica, e cônscios da gravidade da hora presente, envidarão todos os esfor­ços, para que o seu e Nosso Colégio possa, não só manter-se no nível a que tinha chegado, mas ultrapassá-lo em proporção com o aumento das necessidades que tem de socorrer.

Haverá crise de vocações? Mas o Senhor que, mesmo nas horas mais difíceis, não abandonará a sua Igreja até á consumação dos séculos, fará que não lhes falte a possibilidade de manter no Colégio dois alunos, e nas dioceses mais desprovidas ao menos um, dignos de formar-se em Roma, conforme ao programa traçado e tanta vez inculcado pelo grande Pontífice Fundador.

E quanto à parte económica, contando com o óbolo espontâneo da proverbial generosidade dos católicos brasileiros, certamente não faltarão os subsídios necessários para a sua manutenção.

Não ignoramos, que também lá, se não todos, talvez a maior parte lutam com dificuldades; e é bem natural que cada um deseje acudir primeiro e pôr em ordem a própria casa. Mas a confiança em Deus e na sua Providéncia, o vivo sentimento da catolicidade, e a prudência governativa farão compreender, que na impossibilidade de tudo remediar, se deve quanto possivel dar a preferência àquelas necessidades cujas consequências são mais prejudiciais, e de cujo remédio se pode esperar maior e mais duradoiro fruto.

Em mais de uma ocorrência será preciso contar com a benevolência das Autoridades civis. Estamos seguro de que elas, pelo são patriotismo que as anima, e reconhecendo a honra e vantagens excepcionais, que oferece o Pio-Brasileiro, não lha hão de recusar; jà que os alunos, voltando ricos de ciência e virtude, compensarão o favor recebido com um capital inapreciavel, imensamente precioso e fecundo para o bem comum e para o progresso mesmo temporal da Pátria.

Concluimos invocando (com a intercessão do vosso especial Protector, S. Luis Gonzaga) as bênçãos do Coração divino e da Virgem Imaculada sobre quantos generosamente se sacrificam na direcção e pelo bom andamento do Pontifício Colégio Pio-Brasileiro; sobre todos os benfeitores e amigos; sobre os ex-alunos; e muito especialmente sobre vós, amados Filhos, actuais alunos: para que apreciando devidamente e correspondendo generosamente à grande graça do Senhor, não esmoreçais no esforço para a conquista da singular perfeição, tanto moral como científica, a que a mesma graça vos obriga; de modo que a celebração do XXV aniversário seja o alvorecer de uma nova e ricamente flórida primavera na vida do Colégio.

(*) Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol. XX, págs. 195-200.

 

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