MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
ASSINADA PELO CARDEAL SECRETÁRIO DE ESTADO PIETRO PAROLIN
POR OCASIÃO DO 9° FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA
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Em nome do Papa Francisco, gostaria de transmitir as minhas cordiais saudações a todos os participantes reunidos no 9º Fórum Mundial da Água, cujo tema é A segurança da água para a paz e o desenvolvimento . É bom frisar a importância desta questão, pois são numerosos os desafios atuais e futuros, com ela relacionados, para a nossa humanidade.
O nosso mundo tem sede de paz, deste bem indivisível que exige o esforço e a contribuição constantes de todos e que se baseia sobretudo na satisfação das necessidades essenciais e vitais de cada pessoa humana.
Hoje, a segurança da água é ameaçada por uma série de fatores, em especial a poluição, os conflitos, as mudanças climáticas e a exploração abusiva dos recursos naturais. Portanto, a água é um bem precioso para a paz. Por isso, não pode ser considerada simplesmente um bem privado, gerador de lucro comercial, sujeito às leis do mercado.
Além disso, o direito à água potável e ao saneamento está intimamente ligado ao direito à vida, enraizado na dignidade inalienável da pessoa humana, e constitui uma condição para o exercício dos outros direitos humanos. Com efeito, o acesso à água e ao saneamento é um «direito humano essencial, fundamental e universal, pois determina a sobrevivência das pessoas». Consequentemente, o mundo tem «uma grave dívida social em relação aos pobres que não têm acesso à água potável»,1 mas também a todos aqueles para quem as fontes tradicionais de água potável foram poluídas a ponto de se tornar perigosas, destruídas pelas armas e inutilizadas, ou então secas devido à má gestão florestal.
Atualmente, mais de dois biliões de pessoas vivem desprovidas do acesso à água potável e/ou saneamento. Pensemos em todas as consequências concretas que isto pode ter, particularmente para os doentes nos centros de saúde, para as mulheres que dão à luz, para os prisioneiros, os refugiados e os deslocados.
Dirijo um apelo a todos os responsáveis e líderes políticos e económicos, às várias administrações e a quantos podem orientar a investigação, os financiamentos, a educação e a exploração dos recursos naturais e em particular da água, a fim de que tenham a peito servir dignamente o bem comum, com determinação, integridade e espírito de cooperação.2
Realçamos também que «enfrentar a escassez de água e melhorar a gestão dos recursos hídricos, particularmente por parte das comunidades, pode contribuir para criar maior coesão social e solidariedade»,3 para iniciar processos,4 para criar vínculos. Com efeito, a água é para nós um dom de Deus e uma herança comum, cujo destino universal deve ser assegurado a todas as gerações.
Além disso, sabe-se que «a água doce, tanto de superfície como subterrânea, é em grande parte transfronteiriça. [Por conseguinte]... que condições de paz se alcançariam, se os países pudessem cooperar neste campo em várias partes do mundo em maior medida do que hoje... A presença de comprovados mecanismos de cooperação transfronteiriça no campo hídrico é uma contribuição importante para a paz e a prevenção de conflitos armados».5 A este propósito, como deixar de pensar no rio Senegal, mas também no Níger, no Nilo e noutros grandes rios que atravessam muitos países? Em todas estas situações, a água deve tornar-se símbolo de hospitalidade e bênção, motivo de encontro e colaboração que faça crescer a confiança mútua e a fraternidade.
Recordemos que «na origem daquilo a que, em sentido cósmico, chamamos “natureza”, existe um desígnio de amor e verdade [e que] o mundo não é o produto de uma necessidade, destino cego ou acaso».6 Gerir a água de modo sustentável e com instituições eficientes e solidárias não constitui uma contribuição apenas para a paz; é também uma forma de reconhecer este dom da criação que nos foi confiado, para que juntos possamos cuidar dele.
O Papa Francisco assegura-vos as suas orações a fim de que este Fórum Mundial da Água seja uma ocasião para trabalhar em conjunto em vista da realização do direito à água potável e ao saneamento para cada pessoa humana, e que assim contribua para fazer da água um verdadeiro símbolo de partilha, diálogo construtivo e responsável em prol de uma paz duradoura, porque edificada sobre a confiança.7
Cardeal Pietro Parolin
Secretário de Estado de Sua Santidade
1) Encíclica Laudato si’, n. 30.
2) Cf. Discurso aos participantes no 3º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, 5 de novembro de 2016; Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, Aqua fons vitae , n. 107.
3) Aqua fons vitae , n. 26.
4) Cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium , n. 223.
5) Aqua fons vitae , n. 27.
6) Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 2010, n. 6.
7) São João XXIII , Encíclica Pacem in terris , n. 113.
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