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Estimados congressistas
Gostaria de transmitir as minhas saudações a vós, organizadores e participantes neste 3º Congresso Latino-Americano promovido pelo Ceprome com o título «Vulnerabilidade e abuso: para uma visão mais ampla da prevenção» e confiar o vosso trabalho ao Senhor para que possais continuar a avançar na erradicação do flagelo do abuso em todos os âmbitos da sociedade.
No meu encontro de 25 de setembro passado com uma delegação deste Conselho, salientei o compromisso da Igreja de ver em cada uma das vítimas o rosto de Jesus sofredor. Mas também a necessidade de depositar aos seus pés «o sofrimento que recebemos e causamos», rezando «pelos pecadores mais infelizes e desesperados, pela sua conversão, para que possam ver no outro os olhos de Jesus que os interpelam».
Naquela ocasião convidei-vos, e convido-vos novamente hoje, a ver esta questão com os olhos de Deus, a instaurar um diálogo com Ele. Este olhar divinizado pode ajudar a compreender a vulnerabilidade, dado que o Senhor hauriu «a força da fraqueza, fazendo da fragilidade o seu próprio testemunho» (cf. Prefácio dos mártires, I ). Deus chama-nos a uma mudança absoluta de mentalidade na nossa visão das relações, privilegiando o menor, o pobre, o servo, o ignorante, em relação ao maior, ao rico, ao patrão, ao culto, segundo a capacidade de acolher a graça que nos é dada por Deus e de nos fazermos dom para os outros.
Considerar a própria fragilidade como uma desculpa para deixar de ser pessoas sérias e cristãos íntegros, incapazes de assumir o rumo do próprio destino, criará pessoas infantis e ressentidas, e não representa de modo algum a pequenez a que Jesus nos convida. Pelo contrário, a força de quem, como São Paulo, se orgulha das suas fraquezas e confia na graça do Senhor (cf. 2 Cor 12, 8-10) é um dom que devemos pedir de joelhos para nós e para os outros. Com ela, podemos enfrentar as contradições da vida e contribuir para o bem comum na vocação a que fomos chamados.
No que diz respeito à prevenção, os nossos trabalhos devem, sem dúvida, ter como objetivo erradicar as situações que protegem quem se protege por detrás da sua posição para se impor aos outros de maneira perversa, mas também compreender porque é incapaz de se relacionar com os outros de modo saudável. Da mesma forma, não se pode ficar indiferente à razão pela qual algumas pessoas aceitam ir contra a própria consciência, por medo, ou se deixam aliciar por falsas promessas, conscientes no fundo do coração de que estão no caminho errado. Humanizar as relações em todas as sociedades, incluindo a Igreja, significa trabalhar corajosamente para formar pessoas maduras e coerentes que, firmes na sua fé e nos seus princípios éticos, sejam capazes de enfrentar o mal, dando testemunho da verdade com letra maiúscula.
Uma sociedade que não se fundamente nestes pressupostos de integridade moral será uma sociedade doentia, com relações humanas e institucionais desvirtuadas pelo egoísmo, pela desconfiança, pelo medo e pelo engano. Mas nós confiamos a nossa fraqueza à força que o Senhor nos concede. E reconhecemos que «trazemos estes tesouros em vasos de barro, para que tão excelso poder se reconheça vir de Deus e não de nós» (2 Cor 4, 7).
Peçamos ao Rei dos mártires esta graça para ser suas testemunhas no mundo. Que Ele vos abençoe e que a Virgem Santíssima vos ampare. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
São João de Latrão, 1° de março de 2024
Francisco
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