ENCONTRO COM A COMUNIDADE DO MOVIMENTO DOS FOCOLARES
DISCURSO DO SANTO PADRE
Santuário Maria Theotokos em Loppiano (Florença)
Quinta-feira, 10 de maio de 2018
Amados Irmãos Bispos Autoridades e todos vós!
Obrigado pelo vosso acolhimento! Saúdo todos e cada um, e agradeço a Maria Voce a sua introdução... claro, tudo muito claro! Vê-se que tem as ideias claras!
Sinto-me muito feliz por estar hoje convosco aqui em Loppiano, nesta pequena “cidade”, conhecida no mundo porque nasceu do Evangelho e do Evangelho se quer nutrir. E por isso é reconhecida como própria cidade de eleição e de inspiração por muitos que são discípulos de Jesus, também por irmãos e irmãs de outras religiões e convicções. Em Loppiano todos se sentem em casa!
Quis vir visitá-la inclusive porque, como frisava aquela que foi a sua inspiradora, a serva de Deus Chiara Lubich, pretende ser uma ilustração da missão da Igreja hoje, da maneira como o Concílio Vaticano ii a delineou. E alegro-me por dialogar convosco para focalizar cada vez mais, à escuta do desígnio de Deus, o projeto de Loppiano ao serviço da nova etapa de testemunho e de anúncio do Evangelho de Jesus ao qual o Espírito Santo hoje nos chama.
Eu sabia as perguntas, compreende-se! A agora respondo às questões. Inseri-as todas aqui.
1ª Pergunta
A primeira pergunta é feita por vós, “pioneiros” de Loppiano, que fostes os primeiros, há mais de 50 anos, e depois gradualmente nos decénios seguintes, a lançar-vos nesta aventura, deixando a vossa terra, a vossa casa e o vosso lugar de trabalho, vindo transcorrer aqui a vida para realizar este sonho. Antes de tudo, obrigado, obrigado pelo que fizestes, obrigado pela vossa fé em Jesus! Foi Ele quem realizou este milagre, e vós [pusestes] a fé. E a fé deixa que Jesus aja. Por isso a fé faz milagres, pois dá o lugar a Jesus, e Ele faz milagres um atrás do outro. A vida é assim!
A vós “pioneiros”, e a todos os habitantes de Loppiano, vem-me espontâneo repetir as palavras que a Carta aos Hebreus dirige a uma comunidade cristã que vivia uma fase do seu caminho semelhante à vossa. A Carta aos Hebreus diz: «Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições. [...] com alegria permitistes o roubo dos vossos bens, sabendo que em vós mesmos tendes nos céus uma posse melhor e permanente. Não rejeiteis, pois, a vossa confiança — a vossa parrésia, diz — que tem grande e avultado galardão — hypomoné, é a palavra que usa, ou seja, carregar sobre os ombros o peso de cada dia — para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa» (10, 32-36).
São duas palavras-chave, mas na moldura da memória. Aquela dimensão “deuteronómica” da vida: a memória. Quando, não digo um cristão, mas um homem ou mulher, fecha a chave da memória, começa a morrer. Por favor, memória. Como diz o autor da Carta aos Hebreus: «Lembrai-vos, porém, dos dias passados...». Com esta moldura de memória pode-se viver, pode-se respirar, ir em frente, e dar fruto. Mas se não tiveres memória... Os frutos da árvore são possíveis porque a árvore tem raízes: não está desenraizada. Se não tiveres memória, és um desenraizado, uma desenraizada, não darás fruto. Memória: é esta a moldura da vida.
Eis duas palavras-chave do caminho da comunidade cristã neste texto; parrésia e hypomoné. Coragem, franqueza e suportar, perseverar, carregar sobre os ombros o peso de todos os dias.
Parrésia, no Novo Testamento, significa o estilo de vida dos discípulos de Jesus: a coragem e a sinceridade ao dar testemunho da verdade e juntamente ter confiança em Deus e na sua misericórdia. Também a oração deve ser com parrésia. Dizer as coisas a Deus «na cara», com coragem. Pensai no modo como o nosso pai Abraão rezava, quando teve a coragem de pedir a Deus para “contratar” acerca do número dos justos em Sodoma: «E se fossem trinta?... E se fossem vinte e cinco?... E se fossem quinze?...” Aquela coragem de lutar com Deus! E a coragem de Moisés, o grande amigo de Deus, que lhe diz na cara: “Se destruíres este povo, destróis também a mim”. Coragem. Lutar com Deus na oração. É necessária parrésia, parrésia na vida, na ação e também na oração.
A parrésia expressa a qualidade fundamental na vida cristã: ter o coração dirigido para Deus, crer no seu amor (cf. 1 Jo 4, 16), porque o seu amor afasta qualquer receio falso, qualquer tentação de se esconder no viver tranquilo, nas aparências ou até numa hipocrisia subtil. Trata-se de caruncho que estraga a alma. É necessário pedir ao Espírito Santo a franqueza, a coragem, a parrésia — sempre unida ao respeito e à ternura — ao testemunhar as obras grandes e belas de Deus, que Ele realiza em nós e no meio de nós. E também nas relações no âmbito da comunidade, é preciso ser sempre sincero, aberto, franco, não receoso, preguiçoso ou hipócrita. Não, aberto. Não se pôr de lado, para semear joio — murmurar, mas esforçar-se por viver como discípulo sincero e corajoso em caridade e verdade. Este semear joio, vós sabeis, destruir a Igreja, destruir a comunidade, destruir a própria vida, porque te envenena também a ti. E os que vivem de mexericos, que murmuram sempre um do outro, eu gosto de dizer — vejo assim — que são “terroristas”, porque falam mal dos outros; falar mal de alguém para o destruir significa fazer como o terrorista: vai com a bomba, lança-a, destrói e depois vai-se embora tranquilo. Não. Aberto, construtivo, corajoso na caridade.
E depois a outra palavra: hypomoné, que podemos traduzir com submeter suportar. Permanecer e aprender a habitar nas situações exigentes que a vida nos apresenta. O Apóstolo Paulo, com esta palavra, expressa a constância e a firmeza em levar por diante a escolha de Deus e da vida nova em Cristo. Trata-se de manter firme esta escolha até à custa de dificuldades e contrariedades, sabendo que esta constância, esta firmeza e esta paciência produzem a esperança. Assim diz Paulo. E a esperança não desilude (cf. Rm 5, 3-5). Memoriza isto: a esperança nunca desilude! Nunca desilude! Para o Apóstolo o fundamento da perseverança é o amor de Deus derramado nos nossos corações com o dom do Espírito, um amor que nos precede e nos torna capazes de viver com tenacidade, serenidade, positividade, fantasia... e também com um pouco de humorismo, até nos momentos difíceis. Pedi a graça do humorismo. É a atitude humana que mais se aproxima da graça de Deus. O humorismo. Conheci um santo sacerdote, atarefado até aos cabelos — ia, vinha... — mas nunca deixava de sorrir. E dado que tinha este sentido do humor, quem o conhecia dizia dele: “Mas ele é capaz de rir dos outros, de rir de si mesmo e até da própria sombra!”. O humorismo é assim!
A Carta aos Hebreus convida ainda a «lembrar aqueles primeiros dias», ou seja, a reacender no coração e na mente o fogo da experiência da qual tudo nasceu.
Chiara Lubich sentiu de Deus o estímulo a fazer nascer Loppiano — e depois as outras cidadelas que surgiram em várias partes do mundo — contemplando, um dia, a abadia beneditina de Einsiedeln, com a sua igreja e o claustro dos monges, mas também com a biblioteca, a carpintaria, os campos... Ali, na abadia, Deus está no centro da vida, na oração e na celebração da Eucaristia, da qual brotam e se alimentam a fraternidade, o trabalho, a cultura, a irradiação da luz e da energia social do Evangelho no meio do povo. E assim Chiara, contemplando a abadia, foi estimulada a dar vida a algo semelhante, de forma nova e moderna, em sintonia com o Vaticano II, a partir do carisma da unidade: um esboço de cidade nova no espírito do Evangelho.
Uma cidade na qual sobressaia, antes de mais, a beleza do Povo de Deus, na riqueza e variedade dos seus membros, das diversas vocações, das expressões sociais e culturais, cada um em diálogo e ao serviço de todos. Uma cidade que tem o seu coração na Eucaristia, nascente de unidade e de vida sempre nova, e que se apresenta aos olhos de quem a visita também na sua veste laical e diária, inclusiva e aberta: com o trabalho da terra, as atividades da empresa e da indústria, as escolas de formação, as casas para a hospitalidade e para idosos, os ateliers artísticos, os conjuntos musicais, os meios de comunicação modernos...
Uma família na qual todos se reconhecem filhos e filhas do único Pai, comprometidos a viver o mandamento do amor recíproco entre si e em relação a todos. Não para estar tranquilo fora do mundo, mas para sair, para encontrar, para cuidar, para lançar de mão-cheia o fermento do Evangelho na massa da sociedade, sobretudo onde há mais necessidade, onde a alegria do Evangelho é esperada e invocada: na pobreza, no sofrimento, na provação, na busca, na dúvida.
O carisma da unidade é um estímulo providencial e uma ajuda poderosa para viver esta mística evangélica do nós, ou seja, caminhar juntos na história dos homens e das mulheres do nosso tempo com “um só coração e uma só alma” (cf. At 4, 32), descobrindo-se e amando-se concretamente como “membros uns dos outros” (cf. Rm 12, 5). Por isso Jesus rezou ao Pai: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti” (Jo 17, 21), e nos mostrou em si mesmo o caminho até à doação completa de tudo no esvaziamento abismal da cruz (cf. Mc 15, 34; Fl 2, 6-8). Trata-se da espiritualidade do “nós”. Para brincar, podeis fazer a vós mesmos, e também aos demais, um teste. Um sacerdote que está aqui — mais ou menos escondido — fez-me este teste. Perguntou-me: “Diga-me, padre, qual é o contrário do ‘eu’, o oposto do ‘eu’? Eu caí na cilada e respondi imediatamente: “Tu”, E ele retorquiu: “Não, o contrário de cada individualismo, quer do eu quer do tu, é “nós”. É esta a espiritualidade do nós que deveis levar por diante, que nos salva de qualquer egoísmo e interesse egoísta. A espiritualidade do nós.
Não é só uma questão espiritual, mas uma realidade concreta com consequências formidáveis — se o vivermos e se declinarmos com autenticidade e coragem as suas diversas dimensões — a nível social, cultural, político, económico... Jesus remiu não só cada indivíduo, mas também a relação social (cf. Exort. Ap. Evangelii gaudium, 178). Levar a sério este facto significa plasmar um rosto novo da cidade dos homens segundo o desígnio de amor de Deus.
Loppiano é chamada a ser isto. E pode procurar, com confiança e realismo, tornar-se tal cada vez melhor. Isto é essencial. E daqui é preciso partir sempre de novo.
Eis a resposta à primeira pergunta: partir sempre de novo, mas desta realidade, que é viva. Não das teorias, não, da realidade, da maneira como se vive. E quando se vive autenticamente a realidade, é um elo desta cadeia que nos ajuda a ir em frente.
2ª Pergunta
Em Loppiano vive-se a experiência de caminhar juntos, com estilo sinodal, como Povo de Deus. E é esta a base sólida e indispensável de tudo: a escola do Povo de Deus onde quem ensina e guia é o único Mestre (cf. Mt 23, 10) e onde a dinâmica é a escuta recíproca e o intercâmbio de dons entre todos.
Daqui podem haurir novo impulso, enriquecendo-se com a fantasia do amor e abrindo-se às solicitações do Espírito e da história, os percursos de formação que em Loppiano floresceram do carisma da unidade: a formação espiritual para as diversas vocações; a formação para o trabalho, o agir económico e político; a formação para o diálogo, nas suas diversas expressões ecuménicas e inter-religiosas e com pessoas de diferentes convicções; a formação eclesial e cultural. E isto ao serviço de todos, com o olhar que abraça toda a humanidade, a começar por quem, de qualquer maneira, está relegado às periferias da existência. Loppiano cidade aberta, Loppiano cidade em saída. Em Loppiano não existem periferias.
É uma grande riqueza poder dispor de todos estes centros de formação em Loppiano. É uma grande riqueza! Sugiro-vos que lhes deis um renovado impulso, abrindo-os a horizontes mais vastos e projetando-os para as fronteiras. É essencial, em particular, desenvolver um projeto formativo que relacione cada um dos percursos que abrangem mais concretamente as crianças, os jovens, as famílias, as pessoas das várias vocações. A base e a chave de tudo seja o “pacto formativo”, que está na base de cada um destes percursos e que tem na proximidade e no diálogo o seu método privilegiado. E aqui há uma palavra que é também para mim a chave: “proximidade”. Não se pode ser cristão sem estar próximo, sem ter uma atitude de proximidade, pois a proximidade foi a atitude de Deus quando enviou o Filho. Primeiro Deus fez isto quando guiou o povo de Israel e pergunto-lhe: «Diz-me, viste outro povo que tenha deuses tão próximos como eu estou próximo?». Assim pergunta Deus. A proximidade, a proximidade. E depois, quando envia o Filho para se fazer próximo — um de nós — para se fazer mais próximo. Esta palavra é a chave do cristianismo e do vosso carisma. Proximidade.
Depois, é preciso educar-se para exercer juntos as três linguagens: da cabeça, do coração e das mãos. Ou seja, é necessário aprender a pensar bem, a sentir bem e a trabalhar bem. Sim, também o trabalho, porque ele — como escrevia o padre Pasquale Foresi, que desempenhou um papel central na realização do projeto de Loppiano — «não é apenas um meio para viver, mas é algo inerente ao nosso ser pessoa humana, e por conseguinte, é também um meio para conhecer a realidade, para compreender a vida: é instrumento de formação humana real e efetiva». Isto é importante — as três linguagens — porque nós herdamos do Iluminismo esta ideia — não sadia — que a educação é encher a cabeça de conceitos. E quanto mais souberes, melhor serás. Não. A educação deve concernir a cabeça, o coração e as mãos. Educar para pensar bem, não só aprender conceitos, mas pensar bem; educar para sentir bem; educar para agir bem. De modo que estas três linguagens estejam interligadas: que tu penses aquilo que sentes e fazes, que tu sintas aquilo que pensas e fazes, que tu faças o que sentes e pensas, em unidade. Isto é educar.
Confirmam a incisividade e a projeção em vasta escala deste compromisso promissor duas das realidades que surgiram em Loppiano nos últimos anos: o Polo empresarial “Lionello Bonfanti”, centro de formação e difusão da economia civil e de comunhão; e a experiência académica de fronteira do Instituto Universitário Sophia, erigido pela Santa Sé, do qual uma sede local — por isto me congratulo de coração — será proximamente ativada na América Latina.
É importante que em Loppiano haja um centro universitário destinado a quem — como diz o seu nome — procura Sabedoria e estabelece como objetivo a construção de uma cultura da unidade. Cultura da unidade. Não disse da uniformidade. Não. A uniformidade é o contrário da unidade! Ele reflete, a partir da sua inspiração constitutiva, as linhas que tracei na recente Constituição apostólica Veritatis gaudium, convidando a uma renovação sábia e corajosa dos estudos académicos. E isto para oferecer uma contribuição competente e profética para a transformação missionária da Igreja e para a visão do nosso planeta como uma única pátria e da humanidade como um único povo, feito de tantos povos, que habita uma casa comum.
Em frente, em frente assim!
3ª Pergunta
Quero levantar o olhar para o horizonte e convidar-vos a fazê-lo juntamente comigo, para olhar com fidelidade confiante e com criatividade generosa para o futuro que já começa hoje.
A história de Loppiano está apenas no início. Vós estais no início. É uma pequena semente lançada nos sulcos da história e que já germinou verdejante, mas que deve ganhar raízes robustas e dar frutos substanciosos, ao serviço da missão de anúncio e encarnação do Evangelho de Jesus que a Igreja hoje é chamada a viver. E isto requer humildade, abertura, sinergia, capacidade de arriscar. Devemos usar tudo isto: humildade e capacidade de arriscar, juntos, abertura e sinergia.
As urgências que nos interpelam, com frequência de modo dramático, de todas as partes não nos podem deixar tranquilos, mas pedem-nos o máximo, confiando sempre na graça de Deus.
Na mudança de época que estamos a viver — não é uma época de mudança, mas uma mudança de época — é preciso comprometer-se não só a favor de um encontro entre as pessoas, as culturas e os povos e de uma aliança entre as civilizações, mas a fim de vencer todos juntos o desafio epocal de construir uma cultura partilhada do encontro e uma civilização global da aliança. Como um arco-íris de cores no qual se abre como um leque a luz branca do amor de Deus! E para fazer isto são necessários homens e mulheres — jovens, famílias, pessoas de todas as vocações e profissões — capazes de abrir caminhos novos para percorrer juntos. O Evangelho é sempre novo, sempre. E neste tempo pascal a Igreja muitas vezes nos disse que a Ressurreição de Jesus nos traz juventude e nos faz pedir esta juventude renovada. Ir sempre em frente com criatividade.
O desafio consiste na fidelidade criativa: ser fiel à inspiração originária e ao mesmo tempo aberto ao sopro do Espírito Santo e empreender com coragem os caminhos novos que Ele sugere. Para mim — e aconselho-vos a fazê-lo — o maior exemplo é o que podemos ler no Livro dos Atos dos Apóstolos: ver como eles foram capazes de permanecer fiéis ao ensinamento de Jesus e ter a coragem de fazer tantas “loucuras”, porque fizeram muitas, indo por todo o mundo. Porquê? Sabiam conjugar esta fidelidade criativa. Lede este texto da Escritura, não uma vez, mas duas, três, quatro, cinco ou seis vezes, porque ali encontrareis o caminho desta fidelidade criativa. O Espírito Santo, não o nosso bom senso, não as nossas capacidades pragmáticas, não os nossos modos de ver sempre limitados. Não, ir em frente com o sopro do Espírito.
Mas como se faz para conhecer e seguir o Espírito Santo? Praticando o discernimento comunitário. Ou seja, reunindo-se em assembleia em volta de Jesus ressuscitado, o Senhor e Mestre, para ouvir o que o Espírito nos diz hoje como comunidade cristã (cf. Ap 2, 7) e para descobrir juntos, nesta atmosfera, a chamada que Deus nos faz ouvir na situação histórica na qual nos encontramos a viver o Evangelho.
É necessária a escuta de Deus até ouvir com Ele o brado do Povo, e é preciso ouvir o Povo até respirar nele a vontade à qual Deus nos chama. Os discípulos de Jesus devem ser contemplativos da Palavra e contemplativos do Povo de Deus.
Todos somos chamados a tornar-nos artífices do discernimento comunitário. Não é fácil fazê-lo, mas devemos fazê-lo se quisermos ter esta fidelidade criativa, se quisermos ser dóceis ao Espírito. É este o caminho para que também Loppiano descubra e siga passo a passo o caminho de Deus ao serviço da Igreja e da sociedade.
* * *
Antes de concluir, mais uma vez obrigado a todos vós pelo acolhimento e pela festa!
E também uma última coisa que faço questão de vos dizer. Estamos aqui reunidos diante do Santuário de Maria Theotokos. Estamos sob o olhar de Maria. Há também nisto uma sintonia entre o Vaticano II e o carisma dos Focolares, cujo nome oficial para a Igreja é Obra de Maria.
A 21 de novembro de 1964, na conclusão da terceira Sessão do Concílio, o beato Paulo VI proclamou Maria “Mãe da Igreja”. Eu mesmo quis instituir este ano a sua memória litúrgica, que será celebrada pela primeira vez no próximo dia 21 de maio, segunda-feira depois do Pentecostes.
Maria é a Mãe de Jesus e, n’Ele, é a Mãe de todos nós: Mãe da unidade. O Santuário a Ela dedicado aqui em Loppiano é um convite a colocarmo-nos na escola de Maria para aprender a conhecer Jesus, a viver com Jesus e de Jesus presente em cada um de nós e no meio de nós.
E não vos esqueçais de que Maria era leiga, era uma leiga. A primeira discípula de Jesus, sua mãe, era leiga. Há uma inspiração grande nisto. E um bom exercício que podemos fazer, eu desafio-vos a fazê-lo, ou seja, ler [no Evangelho] os episódios da vida de Jesus mais conflituosos e ver — como em Caná, por exemplo — como reage Maria. Ela toma a palavra e intervém. “Mas, padre, [estes episódios] não estão todos no Evangelho...”. Imagina tu, imagina que a Mãe estava ali, que viu isto... Como teria reagido Maria a isto? Esta é uma verdadeira escola para ir em frente. Porque ela é a mulher da fidelidade, a mulher da criatividade, a mulher da coragem, da parrésia, a mulher da paciência, a mulher da suportação das coisas. Reparai sempre nisto, esta leiga, primeira discípula de Jesus, como reagiu em todos os episódios conflituais da vida de seu Filho. Ajudar-vos-á tanto.
E não vos esqueçais de rezar por mim porque preciso disso. Obrigado!
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