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CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II
AO PRESIDENTE O PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS LEIGOS
POR OCASIÃO DA ASSEMBLEIA DO LAICADO EM HONG KONG

 

 

Ao meu venerável Irmão Cardeal Opilio Rossi
Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos

Peço-lhe que transmita as minhas calorosas saudações a todos quantos se encontram reunidos em Hong Kong para o encontro subordinado ao tema: "O papel do laicado na vida e na missão da Igreja na sociedade asiática".

É este o quarto de uma série de encontros continentais promovidos pelo Pontifício Conselho para os Leigos, e quero que saibais que olho para vós neste momento com amor e esperança.

Desejo recordar nesta ocasião as palavras que dirigi aos membros da Igreja na Ásia durante a minha primeira visita que ali efectuei, palavras que se aplicam directamente a vós próprios: "A Igreja está presente na Ásia desde o seu próprio início, e vós sois os sucessores dos primeiros Cristãos que difundiram a mensagem de amor e serviço do Evangelho através da Ásia. Em muitas partes deste continente vós sois um pequeno número, mas a Igreja lançou raízes em todos os países. Nos membros da sua Igreja — em vós — Cristo é Asiático" (Mensagem a todos os Povos da Ásia, 21 de Fevereiro de 1981, Manila, 12).

Em vós, e através de vós, a missão que Cristo confiou à sua Igreja continua a realizar-se, e os vossos encontros, dedicados à especial consideração da vocação dos leigos, constituirão um valioso contributo para o aprofundamento e a promoção deste trabalho de evangelização na Ásia.

A natureza da Igreja, como comunhão de todos os que crêem em Cristo, está maravilhosamente descrita na Constituição sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II. Este documento refere-se ao Espírito Santo "o qual é para toda a Igreja e para cada um dos crentes, princípio de agregação e de unidade na doutrina e na comunhão dos Apóstolos, na fracção do pão e na oração" (Lumen Gentium, 13). É esta unidade na Igreja que o vosso encontro em Hong Kong exprime tão eloquentemente.

Na vossa reflexão acerca da vida e da missão da Igreja, vós considerais de um modo especial a vocação dos leigos. De facto, os leigos devem ter consciência da grandeza da sua vocação, de constituírem uma componente essencial da comunidade eclesial, e da necessidade de viverem em união com Cristo. Isto significa que devem fazer suas as palavras de São Leão Magno, pronunciadas há muitos séculos: "Cristão, reconhece a tua dignidade".

A participação dos Leigos na missão da Igreja manifesta-se de diversos modos. Em união com os seus pastores, e sob a sua direcção, os leigos promovem o crescimento e a vida da comunidade eclesial, prestando um grande e variado número de serviços e de apostolados, de acordo com as graças e os carismas recebidos do Senhor.

Entre estes, a família ocupa um lugar de primeira importância. Nas palavras de Paulo VI, "A família, tal como a Igreja, deve ser um lugar onde se transmite o Evangelho, e do qual o mesmo Evangelho é irradiado. Numa família que é consciente da sua missão, todos os membros evangelizam e são evangelizados" (Evangelii Nuntiandi, 71).

Desejo recordar igualmente aos pais que, uma vez que a família é a primeira escola da vida cristã, na qual se promove o amor por Cristo e pela sua Igreja, é também nela que se manifestam necessariamente as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa. Rogo encarecidamente aos pais que encoragem estas vocações, e que peçam a Deus que os oriente e ajude nesta missão.

Gostaria de chamar também a vossa atenção para o apostolado do trabalhador cristão. Deve ser feito um esforço particular de modo a que a doutrina da Igreja nesta matéria seja melhor conhecida. Exprimi a minha própria opinião e as minhas reflexões a este respeito na minha Carta Encíclica Laborem Exercens. Estou certo de que também os temas da justiça e da paz terão um lugar central na vossa reflexão acerca do papel evangelizador dos leigos cristãos na sociedade asiática.

O contributo especial que os leigos, homens e mulheres, são chamados a dar para a evangelização da cultura, assume um particular significado no vosso grande continente. Encontramos na Ásia algumas das mais antigas culturas do mundo, e, uma vez que Cristo e a sua Igreja não podem ser estranhos a nenhum povo, nação ou cultura, os leigos devem desempenhar a sua função de continuar a aprofundar as raízes da Igreja no mais íntimo da vida espiritual e cultural dos seus respectivos países, assimilando todos os valores genuínos, e enriquecendo-os também com a revelação recebida de Jesus Cristo, que é "o caminho, a verdade e a vida" de toda a humanidade (cf. Jo. 14, 6).

Na Ásia, onde as antigas religiões deram e continuam a dar um importante contributo para a cultura de tantos países, a Igreja sente uma grande necessidade de entrar em contacto e diálogo com todas estas religiões. Ao encontrar-vos reunidos e ocupados na consideração do papel evangelizador dos leigos na Ásia, gostaria de repetir as palavras que proferi em Manila, há precisamente dois anos: "Todos os cristãos se devem sentir impelidos a dialogar com os crentes de todas as religiões, de modo que se desenvolva uma mútua compreensão e colaboração, de modo a que se reforcem os valores morais, e para que Deus possa ser louvado em toda a criação... Do mesmo modo, os Católicos e os Cristãos de outras Igrejas, devem trabalhar em comum na busca de uma unidade total, para que Cristo se manifeste cada vez mais no amor dos seus discípulos" (Mensagem de 21 de Fevereiro de 1981, 5).

À luz de tudo quanto disse a respeito da vocação dos leigos na vida e na missão da Igreja, há um ponto que gostaria de salientar no momento em que iniciais as vossas discussões.

Para corresponder a tal vocação, é necessário que a adequada formação dos leigos seja considerada como uma prioridade pastoral em cada Igreja local. No decurso do vosso encontro, tereis ocasião de pôr em comum ideias e experiências a este respeito. Deixai que vos diga o seguinte: antes de a Providência de Deus me chamar à Sé de Pedro, estive, como Arcebispo de Cracóvia, ligado ao trabalho do Consilium de Laicis, organismo que precedeu o actual Pontifício Conselho para os Leigos. Costumava vir a Roma, pelo menos uma vez por ano, para participar nos encontros daquele Conselho. A minha convicção era, e continua a ser, que a formação espiritual, moral e teológica dos leigos, homens e mulheres, é uma das prioridades mais urgentes da Igreja, se desejamos pôr totalmente em prática as orientações do Concilio Vaticano II.

Esta formação nunca se poderá considerar acabada e definitivamente completa. A formação é um meio para crescer e aprofundar a vocação de discípulo de Cristo, sinal distintivo de todos os membros da Igreja, e que nunca estará completa até ao dia da nossa morte.

Ao pensar em todos quantos participam neste encontro, penso também em todos os países da Ásia, recomendando-os ao nosso Pai do céu. O meu pensamento dirige-se de um modo especial àqueles que sofrem pelo testemunho que dão da sua fé, e àqueles que são vítimas da violência e da guerra. Rezo por que o conforto e a paz de Deus os acompanhem. Através do amor demonstrado pelos Cristãos da Ásia, eles poderão conhecer o amor de Cristo.

Isto leva-me a fazer uma última reflexão. O papel de cada leigo, homem e mulher, é de dar um testemunho pessoal, na Igreja e na sociedade, do amor de Deus que nos foi revelado em Jesus Cristo, e infundido nos nossos corações pelo seu Espírito. A todos os participantes deste encontro em Hong Kong eu encomendo à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, de São Francisco Xavier, um grande apóstolo da Ásia, e cuja memória será celebrada durante o encontro, de todos os mártires e santos da Ásia, e, finalmente, da Igreja universal, rezando por que este encontro possa constituir uma fonte de muitas bênçãos para a Igreja em todo o continente Asiático. Invoco para si e para todos os presentes, a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo, e concedo com grande afecto a minha Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Novembro de 1983

JOÃO PAULO PP. II

 

 



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