CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II
AO PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO
PARA A PASTORAL NO CAMPO DA SAÚDE
POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DO
IX DIA MUNDIAL DO DOENTE
Catedral de Santa Maria em Sidney (Austrália)
Ao meu venerável
Irmão D. Javier Lozano Barragán
Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde
Na paz que advém de Deus, saúdo Vossa Excelência e todos os que se encontram reunidos na Catedral de Santa Maria em Sidney, para o Sacrifício eucarístico, que é precisamente o âmago do IX Dia Mundial do Doente. Peço-lhe que transmita ao Cardeal Edward Clancy e à Igreja de Sidney e de toda a Austrália a certeza da minha proximidade na oração, enquanto vos encontrais para reflectir sobre o modo em que a nova evangelização, necessária no início do terceiro milénio cristão, deve corresponder às numerosas e complexas questões que surgem no campo do cuidado à saúde, sempre à luz da Cruz de Cristo, na qual o sofrimento humano encontra "o seu supremo e mais seguro ponto de referência" (Salvifici doloris, 31).
Poucas áreas da solicitude humana são tão sujeitas às profundas mudanças sociais e culturais que atingem a vida contemporânea, como a da assistência médica. Este é um dos motivos por que em 1985 criei o organismo que veio a tornar-se o Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, a que Vossa Excelência preside com diligência. Ao longo dos anos, o Pontifício Conselho prestou um serviço inestimável, não só às pessoas directamente envolvidas no cuidado à saúde em âmbito católico, mas também à comunidade mais vasta que enfrenta muitos desafios que se tornaram ainda mais urgentes desde quando o Pontifício Conselho foi instituído. É com ardor que dou graças a Deus Todo-Poderoso por este serviço.
Na aurora do novo milénio, é mais urgente do que nunca que o Evangelho de Jesus Cristo impregne todos os aspectos do cuidado à saúde, e é por isso que aprecio o tema deste Dia Mundial do Doente: "A nova evangelização e a dignidade da pessoa que sofre". A evangelização deve ser nova no seu método e no seu ardor porque muito mudou e ainda está a mudar no cuidado aos doentes. A assistência à saúde não só está a enfrentar pressões económicas e complexidades legais sem precedentes, mas às vezes há também uma incerteza ética que tende a obscurecer aquele que sempre foi o seu fundamento moral. Esta incerteza pode tornar-se uma confusão fatal, que se manifesta como incapacidade de compreender que a finalidade essencial da assistência médica é promover e salvaguardar o bem-estar daqueles que dela necessitam, que a investigação e a prática da medicina devem estar sempre vinculadas aos imperativos éticos, que as pessoas frágeis e as que podem parecer improdutivas aos olhos da sociedade consumista possuem uma dignidade inviolável e devem ser sempre respeitadas, e que a assistência sanitária há-de ser acessível como direito básico a todas as pessoas sem excepção. A propósito de tudo isto, quero aplicar ao trabalho do Pontifício Conselho e aos debates da vossa Conferência o que disse na minha Carta Apostólica Novo millennio ineunte, no final do Ano jubilar: torna-se cada vez importante "explicar adequadamente os motivos da posição da Igreja, sublinhando sobretudo que não se trata de impor aos não-crentes uma perspectiva de fé, mas de interpretar e defender valores radicados na própria natureza do ser humano" (n. 51).
O Dia Mundial do Doente tem uma palavra vital a dizer, e o Pontifício Conselho tem um papel indispensável a desempenhar na missão da Igreja, de proclamar ao mundo o Evangelho de vida e de amor.
Ao reunir-vos neste dia consagrado a Nossa Senhora de Lourdes, na Catedral dedicada a Maria Auxiliadora, confio Vossa Excelência, o Senhor Cardeal Clancy, o Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde e todas as pessoas que estão a participar no Dia Mundial do Doente à amorosa intercessão de Maria Santíssima, a Mulher que a Igreja invoca como "Saúde dos enfermos". Como penhor da alegria e da paz no seu Filho, Redentor do mundo, é de bom grado que concedo a minha Bênção apostólica.
Vaticano, 18 de Janeiro de 2001.
JOÃO PAULO PP. II
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