VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À ÁFRICA
(2-12 DE MAIO DE 1980)
DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
DURANTE A VISITA ÀS RELIGIOSAS CLAUSTRAIS
Carmelo de Nairóbi (Quénia), 7 de Maio de 1980
Caras Irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo
1. Sendo vosso vizinho nestes dois dias, não podia deixar de vir fazer-vos uma visita ao Carmelo. Muito me alegra saber que, ao lado da casa do representante do Papa, há uma casa de oração em que os louvores de Deus são constantemente cantados e o sacrifício da vossa vida claustral é oferecido com alegre generosidade ao Pai. E terem-se reunido convosco aqui no Quénia outras comunidades contemplativas, aumenta a minha alegria. Minhas caras Irmãs, trago-vos as saudações e o amor de toda a Igreja, e agradeço-vos o contributo para a evangelização e para a inspiração das vossas vidas. Sim, deve atribuir-se certamente à graça de Deus e ao poder da morte e ressurreição do Senhor que, há muitos anos, a vida religiosa contemplativa se tenha radicado no solo africano, dando abundantes frutos de justiça e de santidade de vida. Recebestes verdadeiramente um dom especial de Deus: a vocação contemplativa na Igreja. A introdução da vida contemplativa na Igreja local é importante sinal da implantação dinâmica do Evangelho no coração de um povo. É sinal que, juntamente com a actividade missionária, mostra a maturidade da Igreja local. Viver a santidade de Cristo e participar no ardente desejo do seu Coração — "Eu devo pregar a boa nova do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado" (Lc 4, 43) são as características fundamentais da Igreja de Cristo.
2. Aqui no coração do Quénia sois chamadas a desempenhar a vossa importante missão no Corpo de Cristo: perpetuar a vida de Cristo, vida de oração e de imolação amorosa. A Igreja aprendeu do seu Fundador — e séculos de experiência confirmaram o seu profundo convencimento — que a união com Deus é de necessidade vital para a actividade frutuosa. Jesus disse-nos: "Eu sou a videira, vós os sarmentos... sem Mim nada podeis fazer" (Jo 15, 5). A Igreja está profundamente consciente e sem hesitação forçosamente proclama que estão intimamente relacionadas a oração e a difusão do Reino de Jeus, a oração e a conversão dos corações, a oração e a frutuosa recepção da mensagem salvífica e elevante do Evangelho. Isto basta para vos assegurar, a vós e a todas as religiosas contemplativas distribuídas pelo mundo inteiro, quanto é importante o vosso papel e o vosso serviço para o povo, e quanto é importante o vosso contributo para a evangelização do Quénia e de toda a África.
3. Na vossa vida de oração, prolonga-se, além disso, o louvor de Cristo ao Seu Eterno Pai. A totalidade do Seu amor para com o Pai e da Sua obediência à vontade do Pai reflecte-se na vossa radical consagração de amor. A Sua desinteressada imolação pelo Seu Corpo, a Igreja, encontra expressão na oferta das vossas vidas em união com o Seu sacrifício. A renúncia, que anda unida à vossa vocação, mostra o primado do amor de Cristo na vossa vida. Em vós a Igreja dá testemunho da sua função fundamental, que é, como disse na minha encíclica "evidenciar a consciência e a experiência da humanidade inteira por meio do mistério de Deus..." (Redemptor hominis, 10).
4. A vossa vida e a vossa actividade ocupam lugar importante na Igreja inteira; estão na Igreja e são para a Igreja. Vós viveis exactamente no coração da Igreja como fez Santa Teresa do Menino Jesus e tantas outras contemplativas no decurso dos séculos. E ao seguirdes a vocação na fidelidade a Cristo que vos chamou, mantendes-vos espiritualmente muito próximas das famílias e das comunidades donde provindes. Ao viverdes a vossa vida totalmente por Jesus Cristo, vosso esposo, e por todos aqueles que foram chamados a viver n'Ele — a família cristã inteira —, vós podeis sentir-vos directamente próximas de todos os vossos irmãos e irmãs, que lutam pela salvação e plenitude da dignidade humana. Na vossa Vida de desapego material e no zeloso trabalho que realizais dia a dia, mostrai a vossa solidariedade com toda a comunidade laboriosa a cujo serviço sois chamadas. E através das vossas orações e do fruto das vossas actividades espirituais, vós sois capazes de contribuir efectivamente para a grande causa da justiça e da paz, e para o progresso humano de homens e mulheres sem número. Através das vossas vidas de claustrais são crianças levadas a Cristo, são confortados os doentes, assistidos os necessitados, corações humanos são reconciliados e os pobres recebem a pregação do Evangelho.
Em certas localidades da África, foram edificados mosteiros de religiosas contemplativas perto dos principais seminários. E portanto bem significativo que aqueles que vêem a necessidade de promover as vocações ao Sacerdócio, de modo que habilitem as jovens Igrejas a implantarem-se plenamente nos territórios nativos, professem ao mesmo tempo a própria convicção de que só a graça de Deus, humildemente procurada na oração constante, pode manter o fervor do sacerdócio. Rogo-vos portanto, como especial pedido neste momento, que incluais nas vossas orações, como primeira intenção, pedir ao Senhor da messe que mande operários para a Sua messe (cfr. Mt 9, 38) e abençoe a Sua Igreja na África com muitos, bons, generosos e zelosos sacerdotes, que dêem exemplo de uma vida autenticamente pastoral como a melhor das garantias para a vida da Igreja e para a propagação da fé.
5. A vossa é portanto uma vida de fé em Cristo Jesus verdadeiramente importante. Segundo as palavras de São Pedro "Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, crescestes n'Ele e isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa" (1 Ped 1, 8), e exactamente por isto, as vossas vidas tornam-se vidas de grande serviço para a Igreja. Com Maria sois vós chamadas a meditar sobre a palavra de Deus e a ajudar a manter a vida espiritual daqueles que crêem em Cristo. Para vós, portanto, o futuro é claro. Seguis pelo caminho justo — o caminho da total e alegre consagração a Jesus Cristo e do serviço amoroso a todos os vossos irmãos e irmãs na África e em toda a Igreja.
Caras irmãs: Em todos os vossos esforços para caminhar com Maria e para subir a montanha que é Cristo, amando mais profundamente e servindo mais generosamente, recordai-vos que "a vossa vida está escondida com Cristo em Deus" (Col 3, 3) para a glória da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.
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