DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR EMITAI LAUSIKI BOLADUADUA
NOVO EMBAIXADOR DAS ILHAS FIJI
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS
15 de Maio de 2003
Senhor Embaixador
Estou feliz por aceitar as Cartas Credenciais com que Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República das Ilhas Fiji junto da Santa Sé. Retribuo com grande cordialidade as saudações e os bons votos que o Senhor Embaixador me transmitiu da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Ratu Josefa Oloilovatu Uluivuda, bem como do povo das Ilhas Fiji. A minha permanência no seu País, em 1986, e a calorosa recepção que então me foi reservada, estão entre as memórias mais caras da minha Visita Pastoral à Oceânia.
Aproveito esta ocasião para lhe assegurar as minhas preces constantes pela sua Nação, no momento em que ela procura edificar uma sociedade harmoniosa e unida, caracterizada pelo pluralismo autêntico e o pleno respeito pela diversidade racial, cultural e religiosa dos seus membros.
Vossa Excelência mencionou claramente as dificuldades que levaram à crise política de Maio de 2000 e o desejo resoluto com que o povo das Ilhas Fiji desejou fazer das suas diferenças uma fonte de enriquecimento recíproco, e não um motivo de divisão ou de contenda. Os esforços que a sua Nação vem fazendo em ordem a enfrentar os desafios concretos que se apresentam à unidade nacional, num espírito de honestidade, de diálogo e de cooperação construtiva, são sinais positivos da disponibilidade de olhar para o futuro com confiança e determinação. Por ocasião da minha Visita Pastoral, encorajei todos os fijianos "a procurarem os caminhos do diálogo criativo e da compreensão mútua", como modo de crescer na fraternidade e de formar uma identidade comum (cf. Homilia em Suva, 21 de Novembro de 1986). É precisamente este tipo de "criatividade" assente no compromisso perseverante com vista a aceitar e a reconhecer as diferenças concretas que separam os vários elementos da sociedade fijiana, no contexto mais amplo da unidade nacional, da legalidade constitucional e da justiça segundo a lei que fundamentará as decisões políticas específicas, que os líderes da sua Nação devem tomar. Sem dúvida, em última análise, a difícil tarefa de edificar uma ordem social que respeite as diversidades legítimas, no contexto da identidade de todos e no compromisso em favor do bem comum, não pode limitar-se exclusivamente às medidas legislativas, uma vez que elas seriam ineficazes, se não se fundamentassem, primeiro e acima de tudo, na consciência e no etos vivo da população (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, n. 15).
Numa ordem internacional em rápida transformação, estou persuadido de que as sociedades multiculturais e plurirreligiosas dos dias de hoje, como as Ilhas Fiji, têm muito a oferecer às outras nações, uma vez que podem ajudar a comunidade internacional mais vasta no desenvolvimento de novos modelos mundiais de unidade na diversidade. Com efeito, um compromisso decidido em prol do diálogo entre as diferentes religiões, culturas e tradições é "o caminho obrigatório para a reconstrução de um mundo reconciliado, um mundo capaz de olhar com serenidade para o seu próprio futuro" (Ibid., n. 3). Apesar dos difíceis desafios e, por vezes, dos confrontos candentes, o diálogo permanece um imperativo moral e o único modo seguro de realizar uma convergência autêntica e duradoura, assente no respeito e na cooperação recíprocos. Em última análise, o compromisso no caminho do diálogo está fundamentado na profunda convicção de que, para além das nossas numerosas diferenças, todos nós compartilhamos uma unidade latente, que deriva do facto de sermos todos filhos de Deus e membros da única família humana. Todas as culturas, na sua rica variedade e na diversidade das suas características peculiares são, em última análise, expressões dinâmicas e históricas desta unidade fundamental. No momento em que olha para o futuro, estou certo de que o povo das Ilhas Fiji descobrirá os profundos fundamentos da sua identidade nacional, precisamente na medida em que reconhecer e defender as verdades e os valores transcendentes que unem todos os homens e as mulheres de boa vontade: o respeito pela dignidade de cada ser humano e a salvaguarda dos direitos humanos fundamentais; a solidariedade entre os indivíduos e os povos; e a promoção da justiça, sem a qual não pode existir a liberdade autêntica, nem uma paz duradoura.
Senhor Embaixador, permita-me assegurar-lhe que a comunidade católica das Ilhas Fiji deseja contribuir para o trabalho de reconciliação e de unidade nacionais, através do seu testemunho concreto do Evangelho. Mediante as suas iniciativas nos campos da educação e da assistência à saúde, bem como do seu serviço aos pobres, os católicos das Ilhas Fiji procuram pôr em prática a mensagem evangélica do amor ao próximo e ser o fermento da Misericórdia divina no seio da sociedade. Na sua pregação e no seu ministério, a Igreja está também comprometida na eliminação das causas do conflito racial, social e religioso, promovendo uma resolução justa das complexas questões legais e éticas que dizem respeito à posse e ao uso das terras, e promovendo um diálogo sereno e respeitador entre os vários elementos da sociedade fijiana. A minha esperança é de que, juntamente com os seus irmãos e as suas irmãs das outras denominações cristãs, e num espírito de cooperação com todas as pessoas de boa vontade, os católicos das Ilhas Fiji continuem a servir o bem comum como construtores da paz e edificadores da solidariedade entre os indivíduos, as famílias e a mais ampla comunidade nacional.
Excelência, expresso-lhe uma vez mais o meu profundo afecto pelo povo das Ilhas Fiji e a minha confiança na sua capacidade de lançar os fundamentos de uma sociedade harmoniosa e próspera, a legar às gerações futuras. Com os meus sinceros bons votos para o trabalho que o Senhor Embaixador agora assume ao serviço da sua Nação, asseguro-lhe que a constante disponibilidade dos Departamentos da Santa Sé o ajudará no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os seus compatriotas, invoco cordialmente as Bênçãos divinas da sabedoria, da fortaleza e da paz.
*L'Osservatore Romano n. 23 p.2.
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